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4 de março de 2007 |
Urariano Mota
Em razão de uma pesquisa sobre a vida de Soledad Barret, tive a boa sorte de receber uma revista argentina de nome Lilith. A primeira surpresa foi o próprio nome da revista. Lilith ... o que é isto? Respondeu-me então Oscar Oriolo, um dos diretores:
"El nombre Lilith tiene que ver con que fue la primera mujer, antes que Eva. Lilith quiso invertir las posiciones para participar en los placeres de la vida y compartir la posesión de todas las cosas a las que Adán daba nombre y de ese modo se las apropiaba; fue creada por Dios de la misma forma que Adán; quiso ser par de Adán y por eso -por ser la primera rebelde- fue expulsada del paraiso y, de la costilla de Adán fue creada Eva, una mujer más sumisa. "El nombre de la revista, entonces, responde a que queremos ser una publicación rebelde, de resistencia, de enfrentamiento con el poder que somete. "De todos modos, en el ejemplar que te voy a enviar, también hay una nota de mitología en la que se explica, con lujo de detalles, esta breve sintesis que te hice". A nota de mitologia veio assinada por um gênio, daqueles que são melhores quando lidos e somente lidos, como acontece à maioria dos escritores. A nota é de Jorge Luis Borges: "'Porque antes de Eva fue Lilith', se lee em um texto hebreo. Su leyenda inspiró al poeta inglés Dante Gabriel Rosseti (1828 - 1882) la composición de Éden Brower. Lilith era uma serpiente; fue la primera esposa de Adán y le dio glittering sons and radiant daughters (hijos resplandecientes e hijas radiantes). Dios creó a Eva, después; Lilith, para vengarse de la mujer humana de Adán, la instó a probar del fruto prohibido y a concebir a Caín, hermano y asesino de Abel. Tal es la forma primitiva del mito, seguida por Rossetti". Ainda que mais adiante se explique com lujo de detalles a evolução do mito ao longo da história, em texto de Rubén Sacchi, que também é diretor da revista, importa-nos agora falar sobre a revista, e não mais sobre o seu nome. Nas ilustrações dos textos, a melhor coisa está nas fotografias, mais particularmente no ensaio fotográfico de Saturnino Espín Muñoz, um artista natural de Madri, que realiza na imagem a criação de sonhos. Sobre ele caberiam mais linhas, pero copio algumas do seu depoimento: "... Al tener que pasar muchas horas en laboratorio, tanto los días laborables como los fines de semana, empecé a hacer una fotografía que que llamaba de salón, que era a base de imágenes planificadas para fotomontajes que luego pintaba com acuarela, lo que me permitía estar menos horas en el laboratorio". E dessa defesa, dessa recusa ao trabalho automatizado, ele começou a compor sonhos, como um pintor. Nos textos, há um permanente trânsito, permuta e câmbio de posições entre o periodismo e a literatura, com pousos na história. E aqui vai uma pequena dificuldade. Não existe uma delimitação precisa em lugar nenhum do mundo sobre o que é especificamente literário e sobre o que não é. O vulgo determina que o literário é um poema, mas no terreno da prosa sempre faz a distinção pelo tema. Não é à toa que julga todo escritor um poeta... No reino da compreensão vulgar, se escrevo sobre um inseto que se transformou em homem, isso é literário. Pero se escrevo sobre homens que sobrevivem a comer insetos, bueno, isso é periodismo. O vulgo não considera que a realização humana da escrita é que faz o literário, sem pedir licença ao tema. Então vejamos Lilith com os olhos do vulgo, a ver literatura e periodismo pela escolha dos temas. Numa folheada rápida, anotaríamos, entre os "não-literários"´: A revista desenterra, pelo menos a olhos brasileiros, a história de Juana Zurday, uma heroína sobre quem Bolívar declarou que "Bolívia no debía llevar su nombre, de Bolívar, sino el de Padilla", o de Manuel Ascencio Padilla, esposo de Juana, um dos heróis da luta pela libertação do Alto Peru. Sobre isto, confessamos, nada sabíamos, apesar de tão próximos, tão vizinhos, e nisso repetimos a mais conhecida sina, a de que as nações latinas da América vivem tão próximas e tão distantes. O Brasil não conhece o continente sul-americano. A América do Sul, e por extensão a América Latina, não conhece o Brasil. Em outro texto lemos um bom registro da presença de Soledad Barret Viedma, essa mulher compatriota de "cuatro pueblos", como a chamava e chama o poeta Mario Benedetti. Em um terreno limite entre o literário e o não, vem uma crônica de Fernando Fernández sobre o filme "Las confesiones del doctor Sachs". É um texto, se nos permitem um abuso, que parece ter sido publicado em La Insígnia, pelo gênero híbrido e original com que faz uma crítica cinematográfica, sem o detalhismo especialista onde se abriga a canalha. Percebem o que eu quero dizer, aquela especialidade que interroga o gênero e a qualidade da arma que mata um indefeso, e não vai além da qualidade técnica da arma. E chegamos então ao mais literário, a uma entrevista com a tradutora e escritora Cristina Piña. É uma conversa bem conduzida, cheia de espírito, que nos lembra algumas entrevistas de O Pasquim. Nela há momentos de inteligência que valem a pena a citação: "Revista: El inglés es más rudimentario ... Cristina: Es más rudimentario sintáctica y morfológicamente. Pero es más refinado em su rudimentariedad: los sentidos, las variantes. She smiles y she grins: hay una diferencia entre ambas.
Revista: ¿Cómo lo traducís? Dá vontade de dizer que temos muitas revistas como esta no Brasil. Mas o que temos é outra coisa. No Brasil ou possuímos revistas de esquerda, cultas, de ensaios e artigos, mas ausentes do "especificamente" literário, ou possuímos revistas "literárias", pero com um sentido imenso de ausência do mundo, revistas literárias que são quase bárbaras, de tão ignorantes e cínicas, com aquele cinismo a que dá direito o espírito conformista, em um sentido político. Lilith é uma revista de esquerda, literária. Lilith é uma revista literária, à esquerda, sem ser de esquerda literária, que isso está raro e difícil em qualquer parte do mundo. Lilith, em resumo, é Lilith, um projeto em execução, ou como diriam os seus diretores, um revista em processo. Quem sabe, Lilith é a mulher que um dia será plena. |
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