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La insignia
10 de junho de 2007


O Gancho actual


Urariano Mota
La Insignia. Brasil, junho de 2007.


Acredito que todos vocês estão lembrados de uma crônica minha que recebeu o nome de O Gancho. Bueno, depois do que me ocorreu hoje, sou obrigado a corrigir a frase anterior para um "acreditava há menos de uma hora que todos vocês conheciam O Gancho que me fisgou há quatro anos". Por isso, em penitência do pecado dessa pretensão, repito aqui a situação vivida naquele tempo. Vocês, de fato, não se lembram, nem podem se lembrar do que não leram.

Pois bem. O gancho, todo o mundo sabe o que é. O gancho é uma burrice repetida por gerações de repórteres e redações de todos os periódicos. Assim, por exemplo, uma grande reportagem ou artigos sobre o terrorismo nos Estados Unidos somente será possível em 11 de setembro, e sempre em onzes de setembro. O gancho desconhece que os fatos, as notícias dos fatos se impõem por sua força, pelo inusitado, ou, notícia que os repórteres nem sonham, pelo tratamento. Sequer vêem que o mundo e a vida giram sem gancho. Que notícia, no inglês que tanto prezam, remete ao novo, e que o novo não é necessariamente o mais recente. Mas isto já seria esperar muito de quem corre e corre numa redação, para satisfazer um tempo de fábrica, de indústria, que associa Internacional aos Estados Unidos, que conhece a queima de florestas no Brasil somente no dia em que o NY Times noticia, e faz da Cultura o mesmo que show business. Seria esperar demais.

Onde portanto o gancho, antes que se pendure o autor nele? Aos fatos, nus e crus. Recentemente, há quatro anos, recebi a honra da publicação de uma crítica a meu romance Os Corações Futuristas, no site www.novacultura.de . Ora, isso não acontece todos os dias. Quero dizer, um editor de um site na Alemanha sair de seus inúmeros trabalhos, ler um romance escrito em português, para sobre ele se curvar e escrever uma crítica. E é preciso que se acrescente, em um tempo de safadeza e canalhice geral, para elogiar um romance sem ganhar um só centavo por isso. Para falar pelo simples e humano fato de haver gostado da sua leitura. Diante disso, que faz este feliz autor? Ah, meus amigos, o quanto a felicidade é falaz, frágil e fugaz. O incauto autor, este incautor, liga para a redação de um dos jornais de sua província. Diálogo:

- Meu nome é Urariano....
- Quem?
- Urariano Mota - acrescento, porque eu sempre acho que o Mota ajuda muito.
- Sei..... e ????????
- Pois é, eu tive um romance que recebeu uma crítica favorável na Alemanha, e.... (Vou dizendo uma enxurrada de diabólicas asnices, numa enxurrada, que correm por uma Sibéria de gelo e silêncio.)
- Passe um mail.
- Eu já passei.
- Ah! É que hoje o sistema aqui no jornal travou, houve uma pane geral nos computadores. Ligue amanhã.

Chega amanhã. Ligo. Diálogo:

- Recebeu a mensagem?
- Deixa ver. Está aqui.... tererê, tererê....é. Olha, eu agora estou fechando a página.....Ligue amanhã.

Ligo. Diálogo:

- Aqui quem fala é Urariano...
- ?.... Você repete o assunto que a gente conversou antes? Aqui é uma correria...... hum, hum, hum, sei, sei .... sei. Claro, claro. Mas... Qual é o gancho?
- O gancho é um autor local receber uma crítica a um livro seu na Europa.
- E daí? O que tem a ver?

O leitor já vê que o chamado diálogo é uma composição de monólogos paralelos. De um lado, um autor envergonhado e pedinchão. De outro, uma jornalista que não vê a hora de se ver livre desse inconveniente. Na hora, isto evidentemente não ocorre ao pedinte na forma de autor. Na realidade, de um modo geral, os autores são péssimos no diálogo falado, ao vivo. Na hora, não lhe ocorre, não me ocorre dizer que o maior gancho é um autor ser conhecido em várias partes do mundo, Rússia, Alemanha, Itália, Espanha, Portugal, México, Argentina.... e ser absolutamente desconhecido na terra onde nasceu. Que isto é um fato tão paradoxal, tão irônico, que por si só mereceria uma notícia. Quando nada, um relato que recebesse o nome de O Gancho.

Na hora, apenas me ocorre perguntar:

- Se um cometa cair sobre a terra e abri-la ao meio, qual o gancho?
- O seu livro é um cometa?!

Sem resposta, desligo. E reconheço: isso, contado, ninguém acredita. Decididamente, essas coisas que acontecem à gente são muito surreais.

Pois bem. O fim do texto antigo era o "surreais" acima. Eu acreditava que ao usar essa nova palavra, cometida pelos colunistas sociais, batia o gancho com a mais alta ironia. Pensava, e já então muito me enganei. Primeiro porque ironia que só o autor entende não é ironia. É bumerangue. No caso, um gancho que volta. A maioria - esse conjunto de todos menos eu - entendeu que surreal era a minha ignorância. Pois bem. Em segundo lugar, não acertei nem mesmo na adequação do surrealismo à situação vivida. Deveria tê-la visto, se não desejasse atingir tão alta ironia, como absurda, grosseira, ou, vá lá a palavra surrada, kafkiana. Pero, erro fundamental, acima do surreais, jamais poderia ter pensado que a crônica em muito surreais se encerrava. A vida não pára, não é?

Pois mal. Vocês devem estar lembrados, das linhas acima, que assim me apresentei ao periódico da minha província:

- Meu nome é Urariano....

E recebi como resposta:

- Quem?

Pois, e já nem sei se é bem ou mal.., enfim. Quatro anos depois, e por me julgar agora conhecido, procuro uma famosa atriz. Ela é mulher de muitos talentos, e dona e senhora de inflexões de voz que são uma autêntica pedagogia. Como veremos. Pelo telefone, atende uma pessoa que não é a grande dama do teatro. E por isso o famoso de cá solicita:

- A senhora K se encontra em casa?
- Sim, ela está.
- Diga-lhe que é Urariano.
- Aureliano?
- Não, Urariano.
- Ulariano....
- Não, u-r-a-r-i-a-n-o.

Risos abafados, pero no mucho reprimidos. Pausa e anúncio:

- Dona K, é o senhor Ura-ri-ano. Urariano.

E a senhora atriz, com uma inflexão de voz que não se olvida, ao escutar esse nome responde :

- Quê? O quê?!

Bueno, enfim. A vida não pára.



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