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La insignia
30 de julho de 2007


Florestan jornalista


Gildo Marçal Brandão
Gramsci e o Brasil / La Insignia, julho de 2007.

Florestan Fernandes.
Que tipo de República?
2. ed. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2007.


Que tipo de República? reúne artigos publicados em período crucial da vida política brasileira, quando a ditadura militar batia em retirada e não se sabia extensão e profundidade das mudanças possíveis. Quem está acostumado com a prosa científica de Florestan não pode deixar de imaginar o quanto lhe deve ter custado aclarar um turbilhão de idéias em três ou quatro laudas de modo a se comunicar "com o maior número possível de inconformistas e de dissidentes".

O resultado é admirável. A exposição é não só legível, mas vale um curso abreviado de como olhar não a superfície das coisas, mas a sua "essência íntima". Evidentemente, as asperezas do estilo não são eliminadas, porque elas são da realidade e do modo plebeu de percebê-la. Nenhum comentário é episódico, a circunstância é quase dissolvida, seu exame sempre crispado pela permanente atenção às armadilhas da revolução burguesa na qual a "nossa transformação capitalista fechou a sociedade civil aos trabalhadores livres e semilivres, das cidades e do campo, e converteu o Estado em uma fortaleza inconquistável dos estratos mais poderosos e mais ricos das classes possuidoras e dominantes".

Nessa direção, ele fica perto de ver na república que sucede à ditadura apenas a redefinição da autocracia burguesa. Nesses momentos, a descrição da realidade como se ela fosse um circuito fechado, uma viagem redonda ou um mundo de completa reificação, aproxima o pessimismo político de Florestan de outras correntes de cujas sociologias ele costumava desconfiar. Delas se distancia, entretanto, porque postula que essa "modalidade extrema de barbárie" esbarra na resistência dos oprimidos e na inexorabilidade da luta para democratizar o Estado e civilizar a sociedade civil. Nas páginas seguintes, como se voltando sobre seus próprios passos, reconhece as contradições e possibilidades abertas pela experiência em curso, como se o sociólogo se impusesse ao militante socialista. Tais polaridades perpassam cada argumento, a exposição mantém e suporta a "evidente contradição entre a realidade descrita e o futuro previsto".

É difícil dizer se é o dilaceramento intelectual que induz o existencial ou o contrário, o fato é que dualidade analítica e tensão heróica entre o "desespero" e o "empenho de não ceder e de lutar" formam a mesma moeda. Tudo isso faz do Florestan político e jornalista uma figura distinta, mas tão única como o acadêmico: em ambos, o olhar é sempre a partir de baixo, o ressentimento de classe se transformou em força produtiva, seu esplêndido isolamento confirma a perversidade de nosso processo histórico.


(*) Gildo Marçal Brandão é professor associado do Departamento de Ciência Política da USP e coordenador científico do Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Democratização e Desenvolvimento (NADD-USP).



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