Mapa del sitio Portada Redacción Colabora Enlaces Buscador Correo
La insignia
6 de abril de 2007


Brasil

Um país sem sorte


Luís Nassif
La Insignia. Brasil, abril de 2007.


No início do ano entrevistei o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, como fecho para meu livro "Os Cabeças de Planilha", que será lançado na próxima semana.

FHC admitiu os profundos erros de câmbio de 1994 a 1998. Apresentou várias desculpas para não ter corrigido o errado. A principal é que "não havia pressão da opinião pública".

Criou-se uma unanimidade, um pacto de silêncio na mídia, que, segundo ele, amarrava qualquer iniciativa do governo.

A desculpa não basta para absolvê-lo. Os indicadores eram claros sobre a não sustentabilidade do câmbio na época. Sabia-se que a manutenção de tal política aumentaria a dívida pública em tal nível que comprometeria por mais de uma década as contas públicas. FHC vaticinava que o mesmo ocorreria agora com Lula. Ele seria iludido pelo canto de sereia do mercado e só quando a crise explodisse haveria mudanças.

É o Brasilsão velho de guerra, com absoluta carência de estadistas. Ambos - FHC e Lula - são extraordinariamente parecidos no acomodamento político, em transformar a política na "arte do possível" e a política econômica em mero processo de acomodamento de pressões.

A cada dia que passa o dólar vai descendo a ladeira. Já está batendo em R$ 2,00. Em breve estará em R$ 1,90.

Ontem houve a demissão do Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Júlio César Gomes de Almeida, porque resolveu tornar públicas suas preocupações com o nível do câmbio.

Enquanto isto, o Banco Central continua trabalhando com estimativas de inflação muito acima das do mercado, para preservar o poder de matar a atividade econômica com essa taxa de juros.

Na mídia, a pressão é mínima. Saúda-se o aumento das importações, como se não tivesse efeito nenhum sobre produção e emprego domésticos. Permite-se a abertura da poupança interna para aplicar no mercado internacional, como se o país tivesse abundância de capital. Não há cobertura dos setores massacrados pelo câmbio.

Não há um projeto de país em nenhuma parte, nem na oposição nem no governo. O mercado está satisfeito porque consegue ganhar com os juros e com a apreciação do câmbio. Grandes empresas compensam no mercado financeiro eventuais perdas de rentabilidade em sua produção.

Todo o mercado sabe que a apreciação cambial é fruto da política de juros do BC, que atrai dólares através da conta capital. Mas apenas se constata, não se protesta porque todos estão ganhando, hipotecando mais um pouco o futuro do país.

Enquanto isto, comemora-se a nova metodologia do PIB, sem levar em conta que, qualquer que seja ela, o crescimento é medíocre, ainda mais em uma quadra da história em que a economia mundial experimenta as mais altas taxas de crescimento.

Bate um desânimo com a falta de rumo, com a falta de grandeza de Lula agora que, completada a reforma ministerial, fica-se com mais do mesmo.

A cada dia fica mais claro que o Brasil não foi bafejado pela boa sorte. Na maior oportunidade da história, esse longo período que começa em 1994 e se estende até os dias de hoje, um estadista teria conduzido o país para o grande salto.

Infelizmente o destino do país foi entregue a dois presidentes sem grandeza.

Contraponto 1

Sucessivos governos usaram bastante o recurso do contraponto: um Ministro desenvolvimentista em contraponto a um Ministro da Fazenda mais ortodoxo. Foi assim com Geisel e a dupla Simonsen-Velloso; depois Simonsen-Severo Gomes. Mesmo no governo Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Luiz Carlos Bresser-Pereira serviam de um contraponto a Pedro Malan, embora FHC sempre seguisse Malan.

Contraponto 2

Com a saída de Júlio César do Ministério da Fazenda, Guido Mantega deixa definitivamente de ser o contraponto ao Banco Central. Haverá dois resultados óbvios. O primeiro, é que o "vilão" do câmbio deixará de ser o presidente do Banco Central para ser o próprio presidente da República. A segunda, é que o poder do BC aumentará substancialmente, sem os grilos falantes da Fazenda. Aumentam apostas do dólar a R$ 1,80.

Gerdau

Não houve o comentado convite de Lula a Jorge Gerdau para assumir Ministério alguma, nem o do Desenvolvimento nem um suposto Ministério de Gestão. Nos vários encontros que tiveram, Gerdau limitou-se a defender modelos de gestão para os diversos ministérios, mas dentro de sua pregação usual, de quem ajudou a montar o Movimento Gaúcho e o Movimento Fluminense pela qualidade. Gestão continua não sendo prioridade.

Waldir Pires

A não demissão do Ministro Waldir Pires, por Lula, representa um gesto de respeito pela biografia de um brasileiro digno. O não pedido de demissão, por Pires, representa uma falta de desprendimento total, que depõe contra sua biografia. Comprovada sua inapetência para resolver a questão aérea, o mínimo que se esperaria de Pires seria um pedido de demissão que facilitasse a solução do problema.

Bernard Appy

O novo Secretário de Política Econômica, Bernard Appy, volta ao cargo que era seu desde os tempos de Antonio Palocci. Appy é uma pessoa educada, dedicada, honesta e... profundamente ortodoxa. Durante todo o reinado de Palocci e agora, sempre defendeu a política de juros do Banco Central. Sua volta ao posto mostra apenas que Lula conseguiu enquadrar Guido Mantega completamente.

Lula e Doha

A afirmação da representante comercial dos Estados Unidos, Susan Schwab, apostando na liderança global de Lula como esperança de retomada da Rodada de Doha de liberalização do comércio mundial. A esperança de Susan é que o Brasil convença a Índia a abrir o mercado, enquanto os EUA fariam o mesmo com os países desenvolvidos. A declaração mostra que Lula conquistou um espaço internacional superior a FHC.



Portada | Iberoamérica | Internacional | Derechos Humanos | Cultura | Ecología | Economía | Sociedad Ciencia y tecnología | Diálogos | Especiales | Álbum | Cartas | Directorio | Redacción | Proyecto