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La insignia
23 de agosto de 2006


Brasil

Palavras de Marcos William Herbas Camacho, o Marcola


Fernando Soares Campos
La Insignia. Brasil, agosto de 2006.


No período de 12 a 20 de maio de 2006, cerca de 400 pessoas foram assassinadas no Estado de São Paulo, vítimas do mais sangrento ataque atribuído à facção criminosa conhecida como PCC (Primeiro Comando da Capital), cuja liderança mais expressiva é o presidiário Marcos William Herbas Camacho, o Marcola, condenado por assalto a banco. Quer dizer, é apenas um assaltante que assaltava colegas. Depois dessa primeira grande onda de ataques, outras se sucederam. Chegaram a ocorrer 54 rebeliões simultâneas em unidades prisionais do Estado de São Paulo, vários presídios foram depredados. Nas ruas os ataques atingiram principalmente a frota de ônibus da capital paulista, dezenas de coletivos foram queimados, agências bancárias sofreram danos em suas fachadas causados por bombas e tiros de armas de grosso calibre. Policiais foram assassinados em emboscadas. Tudo debitado na conta do PCC.

Não demorou muito, a oposição ao governo Lula encontrou supostas "ligações" da facção criminosa com o Partido dos Trabalhadores. O secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, acusou o PT de envolvimento na nova onda de ataques que aconteceu em São Paulo. No programa Canal Livre Eleições 2006, da rede de TV Bandeirantes, Saulo de Castro afirmou existir "uma estrutura de poder do submundo e integrantes do PT", sugerindo que o partido teria incentivado os ataques. "Temos um inquérito com duas pessoas presas ligadas a partido político", garantiu.

Em dezembro último, no interior do Pará, Misilvam Chavier dos Santos, conhecido como "Parcerinho" foi preso com uma carga de meia tonelada de cocaína. Misilvan foi candidato a prefeito de Tupiratins (TO) pelo PSDB, e é "parceirinho" do senador Eduardo Siqueira Campos, do PSDB de Tocantins. Nem por isso o PT está afirmando que o PSDB está ligado ao tráfico de drogas no país. Aliás, esta notícia foi veiculada pela imprensa argentina, jornal La Nación, pois no Brasil nenhum grande jornal destacou a notícia de que Misilvan, candidato a prefeito de Tupiratins (TO) pelo PSDB em 2004, é um grande traficante de drogas.

Mas, no caso das "duas pessoas presas ligadas a partido político", o candidato ao governo do Estado de São Paulo pelo PSDB, o arrogante José Serra, fazendo coro às acusações do senador Jorge Bornhausen (PFL), chegou a afirmar que haveria "ligações notórias" entre o PT e a facção criminosa PCC. O candidato a presidente da República Geraldo Alckmin (PSDB) também insinuou que alguma coisa estranha estaria acontecendo na Guerra da Paulícéia. Para o caso do "Parceirinho do PSDB", pego com 500kg de cocaína, a imprensa brasileira não deu nenhum destaque, não se interessou pela notícia. A agência Reuters reportou o caso e distribuiu a informação para toda a imprensa brasileira, mas poucos jornais e TVs repercutiram a informação; os que o fizeram omitiram a filiação partidária do traficante. Mas as declarações do secretário, do senador Bornhausen, dos candidatos José Serra e Alckmin, parceiros na dobradinha PSDB-PFL, ganharam espaço em todos os grandes jornais e tevês do país. É uma corja só.

Contra Chávez, foi a tentativa de responsabilizá-lo pelos assassinatos dos manifestantes em 11 de abril de 2002. Com isso queriam justificar o golpe de 11 de abril, editando imagens em que aparece um grupo de apoiadores de Chavez, situados na Ponte Llaguno de Caracas, realizando disparos. Imagens foram utilizadas para provar que "Chávez foi quem ordenou disparar contra a multidão", quando, na verdade, os apoiadores de Chávez responderam ao fogo de franco-atiradores que, covardemente, atiravam contra a multidão.

Agora as coisas se invertem também aqui no Brasil. Os golpistas, que têm o "controle" das facções criminosas do Estado de São Paulo, pressionam os presidiários, fazem com que eles explodam em rebeliões e realizem ataques contra a população. Em seguida partem para a suspeição de que o Partido dos Trabalhadores está conivente com a barbaridade por eles mesmos cometida.

Mas... qual seria o objetivo desses canalhas? A resposta mais razoável para essa pergunta é o fato de que setores da linha dura da oposição já consideram a possibilidade da reeleição do presidente Lula no primeiro turno das eleições, conforme indicam as pesquisas de intenção de voto de todos os institutos. A cada dia, registra-se uma nova queda do candidato do PSDB-PFL, Geraldo Alckmin. Em alguns estados Lula já atingiu mais de 70% das preferências. Ao que tudo indica, a oposição fará de tudo para inviabilizar as eleições. Como fazê-lo? Para essa gente, parece que só há um caminho: fazer o circo pegar fogo, criar um clima de guerra civil. Amedrontar as populações.

Em fevereiro, escrevi aqui mesmo em La Insígnia: "Os televisores sangrarão, os jornais impressos se encharcarão de sangue; policiais, bandidos e vítimas inocentes serão enterrados em covas rasas, dessas que os tratores passam as lâminas, recolhem os cadáveres e despejam no lixão de Gramacho. A governadora Rosinha Matheus vai entregar ao seu sucessor os restos do Estado do Rio de Janeiro. Tudo será debitado na conta do governo federal: 'Que não liberou verbas orçamentárias para as áreas de segurança dos estados'. Quem escapar ouvirá".

Naquele momento, imaginei que isso viria a acontecer no caso de o candidato Anthony Garotinho perder a eleição no primeiro turno, e Geraldo Alckmin ir para um segundo turno com o presidente Lula. Porém, considerando que Garotinho ficou fora da disputa, e São Paulo já possui as suas milícias paramilitares, o governo Lula já está sendo responsabilizado pela segurança pública dos estados, exatamente por "falta de repasse de verbas". O Rio de Janeiro já ensaia seus primeiros momentos de retomada da guerra do tráfico. O caveirão, o tanque de guerra contra as populações pobres, retorna às favelas, e os mortos já são contados a partir de dois dígitos por ataque.

Trecho do depoimento de Marcola, líder do PCC, à CPI do Tráfico de Armas:

Marcola declarou aos deputados:

"Fui criado por determinadas pessoas, agindo de má-fé para ter um bode expiatório. E cada vez que as coisas dessem errado e eles não soubessem como controlar e a quem punir, tinha lá o Marcola".

E ainda completou:

"É muito fácil ter um cara igual a mim. Se eu fosse político, eu ia arrumar um Marcola também. Se eu fosse um governador, ter um Marcola, não é bom, não? A segurança pública tá um caos, a culpa é do Marcola, não é do Alckmin. Nunca. Infelizmente. Essa é a realidade (...) Então, quem lidera é o Alckmin".

Palavras de Marcos William Herbas Camacho, o Marcola.



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