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La insignia
31 de outubro de 2005


Depois da catástrofe


Roberto Villar Belmonte
Envolverde, outubro de 2005.



Os desastres - como furacões, secas e estiagens - estão deixando de ser fenômenos naturais. Uma combinação de ações humanas está intensificando a freqüência destes episódios, antes considerados normais, e gerando conseqüências cada vez mais devastadoras. O equilíbrio ecológico do planeta está sendo significativamente alterado pela destruição dos ecossistemas, mudanças climáticas, crescimento da população e aumento da ocupação de áreas de risco impróprias para a presença massiva de habitações.

"O número de desastres ambientais tem aumentado nos últimos 25 anos", informa Michael Renner, diretor do Projeto de Segurança Global do Worldwatch Institute de Washington. As mudanças climáticas são um fator cada vez mais influente. O ano de 2004 foi o quarto ano mais quente desde 1861, depois de 1998, 2002 e 2003. Na última década estão os nove anos mais quentes desde o início dos registros de temperatura que começaram a ser feitos na segunda metade do século 19, em plena revolução industrial.

Entre 1980 e 2004, o número de pessoas afetadas pelos desastres naturais cresceu a passos largos, revelam as estatísticas do Banco de Dados Internacional sobre Desastres (www.em-dat.net). O aumento foi de 550 milhões entre 1980 a 1984 para 1,4 bilhão de pessoas sem moradias e que precisaram de algum tipo de assistência entre 2000 e 2004. O levantamento, utilizado nas pesquisas do Worldwatch Institute, inclui a ocorrência de terremotos, ondas gigantes, enchentes, tempestades e secas.

Michael Renner constata que as ações de ajuda externa e as decisões de reconstrução adotadas após os desastres naturais têm uma forte influência, que pode ser positiva ou negativa, na política dos países afetados. O pesquisador do Worldwatch Institute foi um dos participantes do III Fórum Internacional de Mídia "Meio ambiente, um caminho de paz", promovido pela Sociedade Cultural Greenaccord de 12 a 15 de outubro em Monte Porzio Catone, a 40 quilômetros de Roma, com a presença de jornalistas de 32 países.

Os desastres naturais podem catalisar uma série de conflitos sociais. No caso das secas, por exemplo, aumenta a disputa por água e comida. "Mas eles também são uma oportunidade de solucionar pacificamente conflitos que já existiam antes do país ser afetado gravemente por algum fenômeno devastador", defende Michael Renner. O sofrimento causado pelos desastres gera interesses e necessidades comuns, e a destruição pode ser tão grande que a reconstrução somente seja possível depois de um acordo de paz.

Efeito tsunami

O Worlwatch Institute realizou um estudo sobre o impacto político da onda gigante tsunami, que em dezembro 2004 destruiu parte da costa do Oceano Índico, na longa guerra civil em curso tanto em Aceh, na Indonésia, quanto no Sri Lanka. Os pesquisadores esperavam que o sofrimento causado pudesse desarmar os espíritos. Os resultados, no entanto, foram distintos. Em Aceh, um acordo de paz foi recentemente celebrado. No Sri Lanka, logo depois que a euforia inicial passou, recomeçaram as hostilidades.

A guerra civil entre os separatistas de Aceh e o governo da Indonésia durou 30 anos. A última tentativa de paz havia fracassado em maio de 2003, quando foi imposta lei marcial. O conflito pode ser atribuído, segundo Michael Renner, à excessiva centralização política e à exploração injusta dos recursos naturais. A repressão política, a corrupção e a violação dos direitos humanos pioraram os ânimos na região. Depois da tsunami, um acordo de paz foi assinado no dia 15 de agosto, após sete meses de negociações.

Aceh tem cerca de 4 milhões de habitantes. A guerra civil entre o Movimento Aceh Livre (Gerakan Aceh Merdeka) e o governo de Jacarta matou 15 mil e desalojou mais 1,5 milhão de pessoas. Já a onda gigante matou 131 mil pessoas, deixou 37 mil desaparecidos, mais de 500 mil pessoas sem casa (até agosto de 2005), 800 mil pessoas dependendo de ajuda para comer e 116.880 moradias destruídas. A região tem muitos reservas de petróleo e foi a mais afetada pelo maremoto.

Conflitos a resolver

Apesar do Sri Lanka também ter sido muito afetado pela onda gigante, que varreu a região em dezembro de 2004, os acontecimentos pós-desastre foram bem diferentes. A guerra civil teve inicio em 1983 em função do nacionalismo do grupo Sinhala e de políticas educacionais impostas pela minoria Tamils. Desde fevereiro de 2002 há um cessar-fogo na região, mas as negociações de paz paralisaram e ainda não avançaram mesmo após a destruição causada pelo desastre ocorrido no final do ano passado.

O Sri Lanka tem 19,6 milhões de habitantes. A guerra civil já matou 65 mil pessoas e deixou mais um milhão de desabrigados. A tsunami levou embora a vida de quase 34 mil vítimas e deixou mais 5 mil pessoas desaparecidas. As estimativas apontam que mais de 450 mil pessoas permanecem sem casa e 915 mil ainda são dependentes de algum tipo de auxílio para comer. A onda gigante danificou e destruiu 90 mil moradias no país que segue em conflito, apesar da dor causada pelos danos.

Se a hipótese sobre o potencial pacificador dos desastres ambientais de Michael Renner estiver correta, o Brasil também tem uma boa oportunidade para resolver os conflitos causados por produtores e madeireiros inescrupulosos na região Amazônica. Um novo fenômeno, o aquecimento das águas do Oceano Atlântico, foi a causa da recente seca que assola o norte da floresta. Resta saber se a dor causada por mais esta calamidade será suficiente para uma paz sustentável na região ou novos desastres serão necessários.

Os estudos do Worldwatch Institute mostram que a diferença está no tipo de auxílio ou ajuda humanitária que é dada após o desastre ambiental. Somente ações de boa vontade não são suficientes para incentivar a resolução de conflitos históricos. A ajuda humanitária precisa ser transformada em mudança política para solucionar as causas dos conflitos. Na Amazônia, o conflito é resultado da ganância e da exploração sem limites. Precisará uma intervenção da ONU para estancar a destruição da floresta?


(*) Roberto Villar Belmonte participou do III Fórum Internacional de Mídia "Proteção da natureza, um caminho de paz", realizado em Monte Porzio Catone, na Itália, de 12 a 15 de outubro de 2005, à convite da Associação Cultural Greenaccord.
Texto publicado no site www.ambienteja.com.br no dia 25/10/05



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