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La insignia
26 de junho de 2005


Transporte limpo reduz mortes prematuras


Mário Osava
Envolverde, junho de 2005.



Rio de Janeiro.- Uma drástica redução da contaminação causada pelo transporte nas grandes áreas metropolitanas do Brasil poderia economizar US$ 50 bilhões nos próximos 20 anos, ao evitar a morte prematura de 47 mil pessoas e enfermidades em centenas de milhares. A estimativa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo se baseia nos resultados da primeira fase do Programa de Controle da Contaminação do Ar por Veículos Automotores (Proconve), adotado pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente em 1986. O programa reduziu entre 80% e 90% as emissões contaminantes de veículos novos, evitando 4.500 mortes prematuras entre 1997 e 2000 e economizando entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões em custos sanitários, segundo o estudo da Faculdade de Medicina.

Estes são dados destacados na IV Conferência Internacional de Emissões Veiculares, realizada quarta e quinta-feira desta semana em Brasília, para troca de informações entre especialistas, autoridades ambientais e empresários de vários países e, também, para impulsionar políticas de redução da contaminação urbana. As emissões por parte do transporte (partículas em suspensão, chumbo, óxidos de nitrogênio, dióxido de sulfuro, monóxido de carbono e ozônio) podem provocar graves danos à saúde, desde transtornos neurológicos e redução do coeficiente intelectual em crianças, até doenças respiratórias crônicas, hipertensão, irritação na vista e inclusive morte prematura.

O México é um exemplo de que se pode melhorar rapidamente o meio ambiente nas grandes cidades com medidas de controle, disse à IPS o presidente da Associação de Fabricantes de Equipamentos para o Controle de Emissões Veiculares na América do Sul (Afeevas), Roberto Pereira, organizadora da conferência. Em poucos anos, o México deixou de ser um país dos mais atrasados para liderar a região em matéria de controle dessa fonte de contaminação, com leis reguladoras baseadas no modelo norte-americano, informou Pereira. A indústria resistiu, mas o governo se impôs, acrescentou. Por isso, para exportar automóveis para o México a indústria brasileira tem de cumprir exigências mais rigorosas do que as do mercado interno. A tecnologia mais avançada encarece a produção, porém, uma tributação menos elevada do que a brasileira compensa os custos, explicou o especialista.

O Chile também avançou muito nessa área. Mas se trata de um país importador de veículos e combustível, que pode exigir produtos adequados, disse à IPS Paulo Macedo, coordenador do Proconve. Em um país como o Brasil, o processo exige avanços coordenados no "triângulo formado por regulamentação, indústria automobilística e combustíveis", por isso o governo "não impõe, negocia a regulamentação com todos os setores envolvidos", explicou. Além dos progressos nessa área, o Brasil dispõe de uma vantagem "que nenhum outro país possui", que é a produção de álcool combustível a partir da cana-de-açúcar, menos contaminante do que os derivados de petróleo por ser oxigenado, em que é utilizado em uma mistura de 25% com a gasolina ou sozinho, como combustível completo, destacou Macedo.

Não por coincidência os três países mencionados, os mais preocupados com o problema, possuem as metrópoles mais povoadas da região: São Paulo, Cidade do México e Santiago do Chile. No Brasil, o Proconve promoveu uma boa melhora nos veículos, que cada vez poluem menos, e nos combustíveis, o que evitou o agravamento das condições ambientais das grandes cidades. Mas a quantidade de veículos no País duplicou entre 1990 e 2003, passando de 18 milhões para 36 milhões, o que ameaça a saúde dos 182 milhões de brasileiros, especialmente nas regiões metropolitanas. A grande batalha agora é melhorar o óleo diesel, consumido principalmente por grandes veículos como ônibus e caminhões, segundo Gabriel Branco, consultor técnico da Afeevas.

"Era mais fácil melhorar a gasolina e os motores que a utilizam, por isso o Proconve se dedicou inicialmente com sucesso a esses produtos", explicou Branco à IPS. Agora a meta do programa é reduzir a emissão de enxofre, que provoca chuvas ácidas, e também a contaminação urbana mais grave no momento, o ozônio. O diesel brasileiro ainda emite muito enxofre. O que é vendido nas regiões metropolitanas tem proporção de 2.000 partes por milhão e o empregado no interior do país 3.500 ppm. A meta é conseguir a partir de 2009 uma redução drástica para chegar a 50 ppm. Essa é uma qualidade indispensável que o combustível deve ter para que a indústria possa melhorar seus veículos, com a instalação de catalisadores compatíveis para reduzir as emissões, equipamentos que são danificados por uma presença maior de enxofre, ressaltou Branco.

Segundo o especialista, 80% do óxido de nitrogênio, origem do ozônio, são emitidos pelos veículos movidos a diesel. O ozônio é produzido pela interação de hidrocarbonos e óxidos de nitrogênio sob a influência da luz solar. Sem novas técnicas de refino não será possível atingir a meta. Para isso, a Petrobrás decidiu investir US$ 3,3 bilhões em suas refinarias até 2010. Mas a solução não será satisfatória, porque a substituição do diesel será gradual, começando com 10% do total, o que criará um problema de distribuição, lembrou Pereira. Outras empresas e pequenas refinarias ainda não aderiram ao programa.

Os progressos no controle das emissões terão de ser intensificados, porque dentro de duas ou três décadas a contaminação urbana se agravará devido ao aumento de veículos em circulação e mesmo adotando as medidas preventivas, advertiu Pereira, que além de presidir a Afeevas é diretor no Brasil da empresa belga Umicore. A Afeevas é uma associação sem fins lucrativos de 15 empresas multinacionais que produzem equipamentos e tecnologia para controle da contaminação por parte dos veículos. Seu objetivo é fornecer informação técnica a favor de políticas nacionais e internacionais que melhorem a qualidade do ar e da vida.

As novas tecnologias implicam maiores custos, mas as doenças provocadas pela contaminação custam mais e "uma vida não tem preço", argumentou. As metrópoles brasileiras também sofrem devido ao grande aumento no número de motocicletas como novo fator de contaminação. Mas este ano teve início uma produção com melhores tecnologias para reduzir as emissões, e estes veículos mais tarde serão incluídos em programas similares ao dos automóveis, disse Macedo.



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