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La insignia
19 de outubro de 2006


Brasil

A torturante sede do Geraldo


Fernando Soares Campos
La Insignia. Brasil, outubro de 2006.


Geraldo engolia em seco, a sede o atormentava, ondas peristálticas desciam goela abaixo, nem mesmo o seu sorriso forçado disfarçava o constrangimento. Ele apertava a bancada, a fim de disfarçar o tremor das mãos. Mas as câmeras indiscretas da Band revelavam o nervosismo do candidato debatedor.

Enquanto isso, Lula pegava a garrafa de água cristalina, gelada, e, lentamente, enchia o copo. A condensação formava aquelas gotículas no cristal. Lula erguia o copo e apreciava cada gole, suavemente.

Geraldo imaginou: "Isso é sacanagem!".

Lula parecia oferecer: "Vai, Geraldo, toma um pouco. Está refrescante!"

Mas Geraldo não podia soltar a bancada e segurar uma taça d'água. Seria um desastre, molharia todo o estúdio, pois ele tremia muito. Assim, suas mãos só poderiam aparecer em cena agitadas, disfarçando o tremor. Ou grudadas, apertando a bancada.

Lula, a cada instante, sacava da garrafa, enchia o copo, erguia-o como se estivesse brindando e oferecendo: "Tintim, Geraldo, à nossa saúde!"

Mas Geraldo queria saber: "Do onde veio o dinheiro, Lula?! De onde veio o dinheiro?!".

E Lula: "Calma, Geraldo, está sendo apurado. A Polícia Federal está investigando. Nós vamos saber de onde veio o dinheiro para a compra do dossiê!".

"Dossiê?!". Não! Essa não é uma palavra apropriada para se falar no caso da armação dos "petistas". Afinal, a parte da população menos esclarecida já está começando a entender o que vem a ser "dossiê". Melhor seria adjetivar o bicho: "O dossiê fajuto". Pronto, todo mundo sabe o que é "fajuto". Fajuto como um candidato qualquer.

Mas Lula preferia falar em "sanguessugas" que começaram no governo FHC do PSDB de Geraldo e caíram sob as investigações da nova Polícia Federal. Lula ainda perguntou: "Cadê Fernando Henrique? Vocês o convidaram?" - olhou para a platéia, a fim de avistar FHC. Em vão. - "Vocês estão com vergonha do Fernando Henrique?"

Geraldo tentou justificar: "FHC foi um erro!".

Lula pegou o copo e o abasteceu, produzindo aquele efeito gotículas cristalinas condensadas no cristal, e, erguendo-o, ofereceu: "Vai, Geraldo, toma um gole, refresca a garganta".

Geraldo olhava para o mediador, parecia implorar um intervalo, quando poderia saciar a torturante sede. Não podia pegar um copo d'água e sair borrifando o mundo. Também corria o risco de molhar o microfone, provocar um curto-circuito e morrer eletrocutado.

Berrou: "De onde veio o dinheiro, Lula?!".

Lula respondeu: "Eu sou o presidente da República, Geraldo, não sou policial. Mas a Polícia Federal está investigando. Garanto que todos nós vamos saber de onde veio o dinheiro para a armação da compra do dossiê. Não só sobre esta parte, Geraldo, mas também queremos saber o que esse dossiê revela, o que ele tem de tão importante!".

Entretanto, sobre essa última parte, Geraldo não queria falar. Isso não lhe interessa, afinal, conforme Geraldo já declarou, FHC do PSDB "foi um erro".

"Ética!", explodiu Geraldo, "Você nunca sabe de nada!".

"Sim, Geraldo, ética! Isso mesmo, a nossa ética não diz respeito a premonições. A gente só pode aplicar princípios éticos quando toma conhecimento de desvios de conduta. E isso, Geraldo, nós fizemos. Mas, Geraldo, o Barjas Negri..."

Quando Lula pronunciou a palavra cabalística, "Barjas Negri", Geraldo, além de sedento, ficou amarelento. Pois Barjas Negri, ex-ministro da Saúde de sua ex-Excelência FHC, foi secretário de Geraldo no governo de São Paulo e está atolado até o pescoço, no caso das ambulâncias superfaturadas, da quadrilha sanguessuga. Barjas Negri também está condenado em 102 processos; no entanto Geraldo não soube aplicar os princípios éticos, afastando um assessor desses. Ou Geraldo também não sabe de nada? Geraldo não sabe das centenas de vestidos de grife que sua mulher ganhou, quando ele era governador. Ela afirmou que havia doado as peças a uma instituição de caridade; a instituição negou que tenha recebido.

Geraldo ainda pensou em tomar água, mas... "Deixa pra lá! Não dá. Fica para o intervalo".

"Vou vender o aerolula!", Geraldo prometeu privatizar o aerolula, mas negou que tenha planos para privatizar a Petrobras. "Transformo o aerolula em hospitais". (Fiquei pensando cá com o meu zíper: será que foi por isso que Geraldo abandonou, lá no Palácio dos Bandeirantes, o Tito, aquele pitbull que Lú Alckmin levava para passear de helicóptero em Campos do Jordão? Deve ser por isso que Geraldo pretende vender o aerolula, o avião da Presidência, afinal, não tem mais Tito para levar a passeios.)

Finalmente o intervalo!

Geraldo agarrou uma garrafa d'água cristalina e tomou pelo gargalo, saciando aquela sede torturante.

Pensei: Será que, no próximo debate, o da Rede Globo, o Geraldo Alckmin vai conseguir tomar água? Bom, acho que isso vai depender da próxima sessão de acupuntura antes da "peleja". Acupuntura?! Peralá! O acupunturista do Geraldo não é aquele...?! Ah, deixa pra lá!



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