Mapa del sitio Portada Redacción Colabora Enlaces Buscador Correo
La insignia
16 de outubro del 2006


Homenagem a um irmão


Otaciel de Oliveira Melo
La Insignia. Brasil, outubro del 2006.


Meus amigos

Inicialmente eu gostaria de me solidarizar com a dor de todas as famílias que perderam algum ente querido, na tragédia que vitimou 154 pessoas, envolvendo o acidente com a aeronave da Gol. Nós estamos pranteando a perda de uma dessas pessoas, que sempre nos foi muito cara e muito amiga: a de um irmão, pai, tio, avô, cunhado... enfim, estamos homenageando a memória de Osman de Oliveira Melo.

É comum em nossa cultura falar-se sempre bem dos mortos. Isto ocorre principalmente entre os políticos, quando inimigos juramentados são capazes de reconhecer virtudes no desafeto, uma vez ele morto, claro. Porém aqui, nesta homenagem, queremos falar de uma pessoa com muitas virtudes especiais e com aqueles defeitos inerentes a todos os seres humanos.

No tocante aos nossos defeitos, eles são tantos e tão conhecidos que dispensam comentários. Contudo, considerando os mais notórios, podemos citar a inveja, o egoísmo e a ambição desmedidos, a nossa incapacidade de nos colocarmos no lugar do outro e ajudarmos ao próximo, a nossa imensa capacidade de pré-julgar as pessoas pela cor, vestuário, marca de carro e outros bens perecíveis, e de nos acomodarmos com facilidade diante das misérias do mundo. Mas existem pessoas que, mesmo sabendo que uma mudança substancial no comportamento humano exige séculos de uma educação voltada para a valorização da vida, elas questionam o porquê dessa coisa ser assim. Meu irmão era uma dessas pessoas: ao questionar os defeitos humanos, ou seja, os seus próprios defeitos, sem dúvida ele passava a se conhecer melhor e lentamente se transformava.

Mesmo quando ainda era adolescente tinha um respeito e uma atenção toda especial pelos nossos pais (e aqui quem fala é um irmão), o que não é pouco se considerarmos hoje o comportamento de alguns filhos que matam seus progenitores com o objetivo de herdar o mais rapidamente possível suas fortunas. Quando Osman conseguiu uma bolsa de estudo no IME para complementar os seus estudos em eletrônica, demonstrou uma generosidade tão grande para com os velhos que, pelo vestuário surrado com que ainda se apresentava, parecia que continuava vendendo pegadores de roupa e pequenos recipientes de plástico pelas feiras da imensa Baixada Fluminense, para colaborar com o orçamento familiar. Essa manifestação de apreço pelos pais se manifestaria em diversas outras oportunidades ao longo de sua vida.

Osman sempre teve uma capacidade extraordinária de fazer amigos e de conservar amizades. Enaltecia sempre a qualidade dos outros, em vez de ressaltar os defeitos comuns a todos os seres humanos. Ao agir dessa maneira, pensava que um simples elogio, desde que sincero, podia fazer as pessoas mais felizes. Sabia conviver com idéias diferentes das suas, embora soubesse defender seus pontos de vista com uma argumentação quase sempre irrefutável. Usava sempre a força dos argumentos e nunca o argumento da força. Também nunca fazia uso da máxima, utilizada pela maioria dos políticos que diz: "se você não consegue convencer uma pessoa da justeza de seus argumentos, confunda-a". Sabia ouvir e muitas vezes refletir por muito tempo sobre as proposições de um interlocutor, antes de voltar a tocar no assunto. Osman tinha uma idéia da sua limitadíssima capacidade de interferir nas coisas ruins que acontecem no mundo, mas nunca desistia.

Estava sempre bem humorado, mesmo quando de ressaca. Recebia os irmãos, os parentes e os amigos em sua residência com uma alegria incontida. Oferecia sempre o melhor vinho ou a melhor bebida de seu armário, e haja descontração. Quando bebia ficava muito mais bonachão do que quando sóbrio. A casa dele sempre se assemelhava a uma pousada, principalmente de nordestinos. As pessoas que tiveram a oportunidade de conviver com ele ainda que por uma manhã ou um dia em qualquer parte do país, sempre voltavam a perguntar pelo Osman. Dezenas de fotografias espalhadas pelo nordeste do Brasil retratam esses momentos de encantamento.

Complementando, eu gostaria de contar uma história que Osman me contou há muito tempo, considerada piegas por ele e talvez conhecida por todos aqui presentes, mas que dá uma idéia muito precisa de sua postura diante da vida: a floresta pegava fogo e um passarinho, que se encontrava em um lago junto a um elefante, fazia o papel de bombeiro carregando pequenas gotículas de água no bico e jogando o precioso líquido sobre a vegetação que crepitava; o elefante irritado com a atitude da pequena criatura comentava: "oh passarinho, deixa de ser estúpido; você não vê que todo esse seu esforço é inútil e que jamais você conseguirá apagar esse fogaréu?"; ao que a pequena criatura respondia: "se eu vou apagar, não sei; eu faço a minha parte".

Osman com certeza fez a sua parte e viverá para sempre em nossa memória.



Portada | Iberoamérica | Internacional | Derechos Humanos | Cultura | Ecología | Economía | Sociedad Ciencia y tecnología | Diálogos | Especiales | Álbum | Cartas | Directorio | Redacción | Proyecto