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La insignia
10 de maio de 2006


Pesquisa revela a (des)confiança na mídia


Venâncio A. Lima
Linha Aberta. Brasil, maio de 2006.


No Dia da Imprensa, ao assinar solenemente a Declaração de Chapultepec, o presidente da República reafirmou aos empresários da grande mídia seu compromisso com a liberdade de imprensa, lembrou a responsabilidade proporcional ao seu poder que jornais e jornalistas devem ter, e manifestou sua confiança na sabedoria e no discernimento da população em relação às notícias veiculadas pela mídia.

Na mesma quarta-feira (3/5), o Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão noticiou seminário sobre o tema realizado na Câmara dos Deputados, fez críticas a "tropeços" do governo e, além da cerimônia no Palácio do Planalto, acrescentou a seguinte informação:

"E no Dia da Imprensa, uma pesquisa da rede inglesa BBC e da agência Reuters em dez países mostrou que os brasileiros acreditam mais na imprensa do que no governo: 45% acreditam que os meios de comunicação são confiáveis e 30% consideram o governo confiável. Entre os dez países, o Brasil ficou em 8º lugar em relação à confiança na mídia - ao lado da Coréia, e à frente apenas da Alemanha. E os brasileiros demonstraram o pior índice de confiança no governo. Na pesquisa sobre a confiabilidade das empresas, a TV Globo ficou em primeiro lugar no Brasil."

Quem se der ao trabalho de ler as 22 páginas do relatório da pesquisa (Trust in the Media) verá que ela revela muito mais sobre a grande mídia brasileira do que o sugerido na breve notícia do JN e nas matérias publicadas em jornais e revistas que trataram do assunto entre nós.

A pesquisa foi realizada pelo Instituto GlobeScan para a BBC, a Reuters e o The Media Center, e entrevistou 10.230 adultos em 10 países - Inglaterra, Estados Unidos, Brasil, Egito, Alemanha, Índia, Indonésia, Nigéria, Rússia e Coréia do Sul - nos meses de março e abril deste ano.

No Brasil, o trabalho foi realizado pela GFK Indicator e foram ouvidos, por telefone, mil adultos de nove regiões metropolitanas - Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo - no período de 16 a 22 de março.

Fonte de informação

Uma primeira constatação que se pode fazer é que, considerando o período em que a pesquisa foi realizada - 11 meses depois do início do "escândalo político midiático" e das revelações diárias, na grande mídia, de denúncias de corrupção envolvendo genericamente "o governo" - não é de surpreender que apenas 30% dos entrevistados manifestassem confiança no governo. Ao contrário. Talvez se possa até mesmo dizer que esse percentual é surpreendentemente elevado.

O que de fato chama a atenção é que mais da metade dos entrevistados - ou 55% - tenham dito que não confiam nas informações obtidas através da mídia. Entre todos os países pesquisados, esse percentual é igual ao da Coréia do Sul e só não é maior do que o obtido na Alemanha (57%).

A pesquisa revelou também que o Brasil é, comparativamente, o país onde os entrevistados estão mais descontentes com a sua própria mídia, conforme expresso em diferentes indicadores:

- 80% (oitenta e não dezoito, como consta da matéria "Brasil: mídia é mais confiável que governo", publicada em O Globo em 3/5/2006, pág A 31) disseram que a mídia exagera na cobertura das notícias ruins;

- 64% (sessenta e quatro) concordam que raramente encontram na grande mídia as informações que gostariam de obter;

- 45% (quarenta e cinco) não concordam que a cobertura da grande mídia seja acurada; e

- 44% (quarenta e quatro) declaram ter trocado de fonte de informação nos últimos 12 meses por haver perdido a confiança.

Advertência reiterada

Outra revelação importante é de que somente 20% (vinte) dos entrevistados brasileiros declaram confiar nos blogs como fonte de informação, enquanto os jornais impressos foram apontados por 68% (sessenta e oito) como as fontes mais confiáveis.

O quadro que emerge da pesquisa da GlobeScan no Brasil, portanto, é de uma grande mídia que exagera na cobertura apenas do que é ruim e na qual a maioria não confia nem encontra o que quer. Além disso, quase a metade dos entrevistados não acredita que ela cubra os fatos corretamente e declara haver mudado de fonte de informação por falta de confiança.

O enquadramento da cobertura que a grande mídia fez da própria pesquisa da GlobeScan - salientando o que é positivo para ela e escondendo o que é negativo - não seria um exemplo que confirma a percepção que a maioria dos entrevistados revela?

Não seria essa avaliação muito próxima daquela que outras pesquisas de opinião no Brasil indicam como sendo a da maioria da população sobre a cobertura que a grande mídia tem oferecido ao país da crise política nos últimos meses?

Se for, faz sentido a advertência feita por experientes analistas e políticos no correr desse longo processo de crise, e que agora foi reiterada pelo próprio presidente da República no Dia da Imprensa:

"Se engana aquele que escreve alguma coisa sem imaginar ou sem acreditar que o povo tenha capacidade de discernimento para saber o que é exagero, o que é verdade, o que é mentira".


(*) Venâncio A. Lima é pesquisador sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política (NEMP) da Universidade de Brasília e autor, entre outros, de Mídia: Teoria e Política (Editora Fundação Perseu Abramo, 2ª ed., 2004).



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