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La insignia
8 de mayo de 2006


Adalgisa Nery: A poeta militante


Luís Nassif
La Insignia. Brasil, mayo de 2006.


Início dos anos 90, os dois velhos senhores rememoram a vida, os negócios e as paixões em uma fazenda antiga de Botelhos, sul de Minas. O mais calado, Walther Moreira Salles, introduz cada tema; o mais falante, Homero Souza e Silva, dá os detalhes. Durante muitas décadas foram parceiros de alguns dos mais importantes negócios do país. Walther montava a estratégia, Homero executava. Ambos se completavam e eu ficava no meu canto, ouvindo e anotando encantado as histórias que jorravam daquela mesa.

Depois do almoço, arrisquei outro tema:

-- E a Adalgisa Nery?

Os antigos, de Poços de Caldas, lembravam-se da poeta em farras monumentais na Fonte dos Amores, junto com alguns grandes empresários e políticos da época, como João Daut. Walther queixou-se:

-- Ela não gostava de mim. Vivia me criticando na sua coluna na "Última Hora".

Homero levou um susto, pôs a mão na cabeça e exclamou:

-- Ai, Walther, esqueci de te contar.
-- O quê, Homero?
-- Em 1954 eu fui a um jantar na casa do presidente da Alcoa, a Adalgisa estava lá, bebeu um pouco, me chamou de lado e me confessou que era apaixonada por você.
-- Uh!, Homero. E só agora você me diz isso?

Quarenta anos depois, Adalgisa provocava lembranças flamejantes não apenas no banqueiro Moreira Salles, mas em toda a geração dos anos 40, que tinham nela e em Cecília Meirelles as grandes musas.

Adalgisa nasceu no Rio de Janeiro em 1905, sete anos antes de Walther, filha de um funcionário da prefeitura do Rio. Aos 16 anos casou-se com o poeta Ismael Nery, cinco anos mais velho, e se aproximou de toda a intelectualidade que integraria a geração de 40, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Murilo Mendes, Jorge de Lima. Enviuvou cedo. Ismael morreu vítima de tuberculose aos 30 anos. O casamento foi conflituoso e trágico: dos sete filhos que tiveram, apenas o mais velho e o mais novo sobreviveram.

Cinco anos depois, Adalgisa iniciou sua carreira-solo de escritora na Revista Acadêmica. Em 1940 casou-se com Lourival Fontes, o grande mentor do Departamento de Imprensa e Propaganda, um bruto mas com enorme vocação para circular nos meios intelectuais e cooptar alguns dos maiores nomes para o seu departamento. A lua-de-mel foi em Poços de Caldas. Em uma das noites, o casal compareceu ao elegante Cassino da Urca, que Moreira Salles construíra e arrendara para o lendário Joaquim Rolla. Foi servido ao casal um prato francês qualquer, que Lourival confundiu com uma farofa nordestina.

Em 1945, Lourival foi indicado embaixador brasileiro no México, e Adalgisa conquistou também a intelectualidade mexicana, tendo sida pintada tanto por Rivera quanto por Frida Khalo.

Separou-se de Lourival em 1953 e, em 1954, estreou sua coluna "Retrato sem Retoques" na "Última Hora", onde permaneceu até 1962 misturando a crítica política com esse tempero tão feminino: a dor-de-cotovelo. E tome paulada, Dr. Walther. Foi cassada em 1969.

Eu ainda não conhecia as ligações de Adalgisa com Poços quando, em 1980, no Jornal da Tarde, sugeri um perfil da poeta, de quem ninguém mais ouvira falar. A sucursal do Rio demorou um pouco a responder, pela dificuldade em localiza-la. Coube ao repórter Cláudio Lacerda, recentemente falecido, levantar a história. Adalgisa tinha acabado de morrer. Nos últimos anos, havia enfrentado uma difícil disputa jurídica com seu único filho, em torno de sua herança.

Sem recursos, acabou sendo acolhida por Flávio Cavalcanti, o apresentador de direita, símbolo máximo do autoritarismo militar, o homem que quebrava discos, crucificava cantores... mas que tinha um coração de manteiga. Morou alguns anos na casa de Flávio, em Petrópolis, a quem dedicou seu romance " Neblina". Depois, recolheu-se ao Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá onde morreu poucos em 1980.


Poema da amante

Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos,
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.
Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.
Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.
Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.
Eu te amo
Desde a criação das águas,
desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.
Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.



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