Mapa del sitio | ![]() |
Portada | ![]() |
Redacción | ![]() |
Colabora | ![]() |
Enlaces | ![]() |
Buscador | ![]() |
Correo |
![]() |
![]() |
26 de setembro de 2005 |
Luís Nassif
Lá pelos anos 60, o "gospel" americano começou a influenciar a música brasileira. A música vocal já era bastante prestigiada, desde os corais até os conjuntos vocais propriamente ditos. Entre os corais, lembro-me os mineiros Madrigal Renascentista e Ars Viva. Entre os conjuntos, o Coral de Ouro Preto, com um repertório magnífico. Sem contar os grandes conjuntos vocais do Rio, como "Os Cariocas", e um de São Paulo, excepcional e de curta duração, chamado de simplesmente "Quarteto". O próprio pessoal do MPB4 admitia que a técnica de harmonização do "Quarteto" era a mais requintada da época.
Mas o grande conjunto vocal que marcou a primeira parte de minha adolescência, a primeira metade dos anos 60, foi "Nilo Amaro e seus Cantores de Ébano", diretamente influenciados pelo gospel americano. Naquele início dos anos 60, as férias de janeiro eram uma festa em Poços de Caldas. Havia o Colégio Dominicano das freirinhas que, nas férias, recebia frei João Baptista, também dominicano, que havia criado uma experiência inovadora de uma fábrica de móveis controlada pelos próprios funcionários. Nas férias ele era uma espécie de preceptor de seminaristas dominicanos, uma rapaziada alegre, esportista e que adorava serenatas. Tenho a impressão de que frei Betto fazia parte do grupo. Frei Tito -que se suicidou em Paris, após ser torturado pelo DOPS de São Paulo-certamente fazia, conforme me lembrou outro dia minha prima Rosa Maria, ativista política da época. Saíamos às noites para as serestas e os dominicanos com suas vozes bem treinadas no cantochão davam uma musicalidade extra aos nossos sons amadores. O repertório era quase todo calcado em Nilo Amaro. Era um conjunto negro que tinha duas vozes bem marcantes: o solista Nilo Amaro, com voz abaritonada, e o baixo, um baixo profundo de um negrão fantástico, Noriel Vilela -que conheci pessoalmente na noite de Belo Horizonte quando fui para lá com o Dagô, pandeirista e dono do bar do Alemão, no intervalo de minha saída da "Veja" e entrada no "Jornal da Tarde", em 1979. Gravaram apenas dois LPs na Odeon, mas marcaram toda uma geração. Os carros-chefes de seu repertório eram "Leva eu, sodade". Começava com Nilo Amaro cantando "ô leva eu, minha sodade / eu também quero ir, minha sodade / quando chego lá na feira tenho medo de cair / leva eu...". Aí entrava o negão do baixo profundo "leva eu", lançando sua voz nas profundezas. No nosso coral, o baixo era interpretado pelo Francha, que se mudou anos depois para Belo Horizonte. Os compositores eram Alventino Cavalcanti e Tito Neto, que nem sei se conseguiram emplacar um segundo sucesso. Seu repertório era muito eclético. Outro sucesso enorme foi a "Prece ao Vento" ("vento que balança, as praias do coqueiro") de Gilvan Chaves, Fernando Luís da Câmara Cascudo e Alcyr Pires Vermelho. E, principalmente, "Uirapuru", (Uirapuru, uirapuru, seresteiro cantador do meu sertão") de Waldemar Ramos Oliveira, o Jacobina, compositor baiano que fez carreira no Rio de Janeiro, voltou para sua cidade nos anos 90 e de quem não se ouviu mais falar. Havia uma canção de ninar linda, a "Canção de Ninar meu Bem", de Gracindo Júnior e Bidu Reis. Mas o conjunto também enveredava pela música americana de Nat King Cole ao clássico "Down by the riverside" ao samba canção e à bossa nova de Djalma Ferreira e Luiz Antonio, passando por Dorival Caymmi e sua "Lenda do Abaeté". Não consegui quase nada sobre o conjunto e sobre Nilo Amaro. Não consta na "Enciclopédia da Música Brasileira", nem na Enciclopédia Cravo Albim. Noriel Vilela gravou um LP solo em 1968, de sambas, muito bem gravado entre os quais "Eis o Home" ("ó meu fio, do jeito que você está / nem o homem te pode ajudar"), relançado recentemente com algum sucesso.. Em um blog de música fico sabendo que Nilo Amaro morreu no ano passado em Goiânia, de derrame cerebral. |
|