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La insignia
23 de junho de 2005


A utopia é essencial


Tostão
Jornal do Brasil. Brasil, junho de 2005.


A vitória por 1 a 0 do Japão sobre a Grécia foi injusta. Os japoneses mereciam fazer mais gols. Após esta partida e a derrota do Brasil para o México, ficou a suspeita de que não foi o Brasil que jogou bem contra a Grécia, e sim que os gregos são ruins.

O Japão tem um time organizado, veloz e dois bons meias, Nakamura e Nakata. Mas cometem muitos erros individuais na defesa e nas finalizações. Como disse o Zico, um dos problemas do Japão é ser excessivamente disciplinado. Querem fazer tudo certinho, como nos treinos, e erram. Outra dificuldade do Zico é o intérprete. O mais importante na comunicação, que é dito, transmitido somente pelo olhar e pelos gestos, nunca será bem traduzido.

Ficou mais evidente nos dois primeiros jogos do Brasil a falta que fazem Cafu e Roberto Carlos. Além da qualidade técnica e experiência dos dois titulares, Cicinho e Gilberto não atuam de laterais nos seus clubes.

Robinho não tem feito na Seleção a sua principal jogada no Santos, que é sair da esquerda para o meio. Hoje, se jogar ao lado do Leo, terá mais chances.

Individualmente, Zé Roberto atuou bem, mas não é volante, como disse a Soninha. As principais qualidades de um volante são a marcação e o passe rápido, certeiro e para frente. Zé Roberto conduz demais a bola e avança pela esquerda, como se fosse um meia. Prefiro Juninho que marca, passa e finaliza bem de fora da área.

Contra a Grécia, Kaká pela direita e Ronaldinho Gaúcho pela esquerda jogaram mais abertos, formando dupla com os laterais. O time foi melhor na marcação e no ataque. Contra o México, os dois e mais Robinho ficaram embolados pelo meio.

Ainda não entendi o que quer o Parreira. No intervalo do jogo contra a Grécia, ele disse que o Ronaldinho Gaúcho jogou pouco pelo meio. Contra o México, reclamou que os dois meias centralizaram demais as jogadas. Parreira, que sempre teve idéias claras, certas ou erradas, está confuso. ''Decifra-me ou te devoro.''

Antes, o Brasil jogava com três no meio-campo separados dos três da frente. O time estava travado, burocrata. Mas era mais regular. Agora, a equipe tem momentos mais brilhantes, porém está mais irregular. Com o tempo, poderá corrigir essa deficiência. Por isso, Parreira deveria manter a nova formação e posicionar corretamente os jogadores.

Rubens Ricupero escreveu domingo no caderno especial da Folha sobre os 400 anos da imortal obra de Cervantes, Dom Quixote de la Mancha: ''No final, o fidalgo recuperou a razão, compreendeu seus desatinos, mas, privado do sonho, morreu de melancolia''.

A vida e o futebol sem o sonho perdem a graça. Parreira deveria tentar formar um time inesquecível e competente, e não apenas uma equipe eficiente, talvez vencedora. Há craques para isso. Faltam a utopia e o dedo do técnico.

Irregularidade

Muitos esportes, como vôlei, são bastante técnicos, o que não significa que não sejam criativos. Os treinos e a repetição são fundamentais.

Já no futebol, o imponderável, a imaginação e a improvisação são mais decisivos do que a técnica e a repetição. Daí ser muito mais comum o pior ganhar do melhor. A irregularidade é uma característica do futebol.

Individualmente, acontece a mesma coisa. Alguns craques são mais técnicos e outros mais inventivos. Os jogadores técnicos são mais regulares. Além da excepcional força física, Kaká se destaca mais pela técnica, embora seja também criativo. Já Ronaldinho Gaúcho é mais imaginativo e mais irregular.

Antes de a bola chegar, Ronaldinho, sem saber que sabe, mapeia tudo que está à sua volta, calcula a velocidade da bola, percebe os movimentos e o posicionamento dos outros e executa a jogada. É um saber inconsciente e intuitivo. Ronaldinho transfigura o futebol.

Ronaldinho tem uma ótima técnica, mas essa está sempre a serviço da imaginação. Ele inventa e depois faz. Não executa sem inventar. Por isso dá a impressão de que tenta sempre o lance mais bonito. Mas nem sempre dá certo, principalmente na Seleção. Talvez no Barcelona, Ronaldinho, por ser o único supercraque, se sinta mais responsável pela vitória.



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