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La insignia
24 de junho de 2005


Brasil

Golpe tucano e movimentos sociais


Altamiro Borges (*)
La Insignia. Brasil, junho de 2005.


Em reunião realizada nesta terça-feira, dia 21, em Brasília, os mais representativos movimentos sociais do país concluíram que está em curso um "golpe branco" no Brasil. Sob o disfarce do combate à corrupção, o bloco liberal-conservador apeado do poder em 2002 estaria operando uma sórdida manobra para paralisar, desgastar e, se possível, derrubar o governo Lula. Diante da gravidade da crise política, CUT, UNE, MST, entre outras entidades, decidiram deflagrar uma mobilização nacional em torno de quatro eixos: contra a trama golpista do PSDB-PFL; pela apuração rigorosa de todas as denúncias de corrupção; por mudanças urgentes na política macroeconômica; e em defesa de uma reforma política democrática e participativa.

Se esta jornada de fato ganhar as ruas, envolvendo a militância avançada e despertando o senso crítico da sociedade, a trama golpista da direita terá, ironicamente, cumprido inestimável papel. Após um período de "paz e amor" com o deus-mercado, a mídia e a elite neoliberal, essa campanha explicitaria as antagônicas contradições existentes no país - que o governo Lula tentou, em vão, conciliar. Ela serviria para refrescar a memória e demonstrar os reais propósitos dos tucanos rentistas, entreguistas e autoritários e, ao mesmo tempo, para pressionar o governo Lula no rumo das mudanças exigidas nas urnas em 2002. Não seria um cheque em branco concedido ao presidente, mas sim um apoio condicionado à imperiosa correção de rota!

Trama golpista

A decisão dos movimentos sociais de tomar às ruas com uma plataforma nítida se justifica plenamente. O momento político é dos mais graves e de efeitos imprevisíveis. Os demônios andam a solta no Brasil, mas disfarçados com plumagem tucana! Diante das denúncias de corrupção disparadas pelo sinistro deputado Roberto Jefferson - um franco atirador que até agora não apresentou sequer uma prova concreta do crime, mas ganhou as manchetes da mídia que tenta transformá-lo de acusado em acusador -, o país está parado, em estado de choque. Neste cenário inflamável, em que não faltam posições erradas e erráticas da base do governo e é visível a manipulação da mídia, o bloco liberal-conservador define sua tática para a revanche.

Alguns urubus carniceiros, camuflados de tucanos, pregam a morte prematura do governo, o impeachment do presidente. "Cozinhar Lula em fogo brando até o início da campanha eleitoral pode não ser boa receita. Se Lula chegar até o palanque, ninguém o demoverá mais de nada", orienta o portal E-agora, um panfleto hidrófobo da direita. Já outros golpistas, vestidos de cordeiros, propõem "sangrar" o presidente até 2006, evitando abalos nos alicerces econômicos neoliberais e surpresas políticas. "Não pense que se o Lula cair a sociedade vai nos chamar para assumir. O povo não morre de saudade da gente", conspira o hábil FHC, segundo relatos da revista Época. "Vamos deixar o Lula sangrando e vencer as eleições", ordenou!

O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, um dos poucos intelectuais que prenunciou o golpe militar em 1964, tem razão quando adverte para o perigo de um "golpe branco" incitado pela mídia. "A grande imprensa levou Getúlio ao suicídio com base em nada; quase impediu Juscelino de tomar posse, com base em nada; levou Jânio à renúncia, aproveitando-se das maluquices dele; e tentou impedir a posse de Goulart com base em nada. A grande imprensa em países em desenvolvimento é a grande porca das instituições, a grande emporcalhada". Para ele, o PSDB só aguarda a evolução da conjuntura, insuflada pela mídia venal, para definir sua tática. "Se a chance aparecer, os tucanos vão apoiar esse golpe branco".

Disputa de projetos

Na essência, a atual crise política reflete a luta entre dois blocos de poder e seus respectivos projetos para o Brasil. Não tem nada de ética, a não ser para os que acreditam na postura anticorrupção do PSDB-PFL, este condomínio neoliberal que se chafurdou na lama nos oito anos de FHC. De um lado, encontra-se um governo resultante do acúmulo de forças dos trabalhadores, que não criminaliza as lutas sociais e adota uma conduta soberana nas relações exteriores. O seu maior defeito não é ético, apesar das denúncias feitas exigirem rigorosa apuração e o "corte na carne". Seu maior defeito foi o da ausência de nitidez do projeto, o da ausência de ousadia política, o que deu brechas para a atual investida do bloco liberal-conservador.

Ao manter a política macroeconômica neoliberal, cedendo às pressões do capital financeiro e fraturando a sua base social de apoio; ao apostar todas as fichas no pantanoso terreno institucional, costurando alianças pragmáticas e não programáticas para garantir governabilidade; e ao subestimar os movimentos sociais na definição dos rumos políticos do país, o governo perdeu impulso e instigou a revanche neoliberal. Agora, para recuperar o apoio dos setores populares e reanimar as esperanças do povo, precisará dar sinais mais nítidos de que pretende mudar sua orientação. Do contrário, ficará ainda mais refém do "deus-mercado", que exigirá uma recomposição ministerial de corte conservador e novas medidas ortodoxas na economia.

Do outro lado, encontra-se o bloco da elite, que controla o poder há séculos, critica a "falta de autoridade" do presidente na repressão às lutas sociais, em especial ao MST, e condena os "exageros retóricos" da política externa atual. Seu objetivo já está bem definido. Sob o falso invólucro do combate à corrupção e com a ajuda da mídia venal, ele pretende paralisar, desgastar e derrubar o governo Lula. A sua plataforma eleitoral também já está escrita. Prega o retorno da Alca e da postura servil diante dos EUA, propõe dura repressão ao "banditismo" do MST e exige a aceleração da agenda neoliberal. "A reforma da previdência parou, o destino institucional do Banco Central está nos escaninhos da política e da reforma trabalhista (e não apenas sindical) nem se fala", criticou FHC recentemente, antecipando seu programa para a sucessão.

Diante da gravidade da crise política e do risco iminente da revanche tucana, os movimentos sociais não poderiam ficar parados. A omissão seria um grave crime. Atentos à adversa correlação de forças e cientes da natureza contraditória do governo Lula, eles se contrapõe ao golpismo do bloco liberal-conservador, ao mesmo tempo em que exigem sinalizações consistentes de mudanças nos rumos atuais. Não adotam nem a postura inconseqüente de certos setores de esquerda, que parecem excitados com as tramas golpistas, e nem caem na conversa fiada da negação da política, da prioridade ao movimentismo da "sociedade civil". Sabem que é o futuro da luta pela democracia, soberania e justiça social que está em jogo nessa disputa.


(*) Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro "Encruzilhadas do sindicalismo" (Editora Anita Garibaldi, 2005).



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