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La insignia
24 de junho de 2005


Brasil

A confusão e o discurso único


Renato Rovai
Revista Fórum. Brasil, junho de 2005.


Tortura é ato bárbaro e não pode ser classificado como elemento da disputa política, pois, se assim for entendido, justificada está a barbárie. Entre outros motivos, e também por esse, é absurdo que se escreva um artigo para criticar um governo e sua política cujo título seja: o torturador venceu. Comento texto de Clovis Rossi, publicado na edição de quarta-feira (22/6), do jornal Folha de S. Paulo.

Evidente que o autor enveredou para essa "análise política" porque na tarde de terça-feira (21/6) dois ex-presos políticos, envolvidos com a luta armada e vítimas de tortura, participaram de uma transmissão de cargo, de um governo que ele considera um desastre. Porém, injustificável do mesmo jeito.

Sua crítica mistura política de juros altos, sopão dos pobres e corrupção no poder com frases do tipo "nem foi preciso aplicar mais choques elétricos para que se rendessem", quando ironiza a postura atual de alguns membros do governo.

À parte as comparações tortas e a conclusão infeliz de que por tudo isso os torturadores venceram, no meio do seu artigo Rossi também cita Oded Grajew e diz que ele "não pode ser acusado de fazer parte da risível conspiração tucano-midiática".

Será mesmo assim tão risível que setores da mídia estejam atuando ou venham a atuar em parceria com setores da política? E que isso possa atingir um ponto que coloque em risco o que há de democracia política no Brasil?

Talvez não seja ainda o caso de se imaginar que já haja uma conspiração golpista, mas seria exagerado perguntar, por exemplo, por que os setores midiáticos estão dando tratamento tão diferenciado para denúncias de porte semelhantes.

No programa Roda Viva de segunda-feira (20/6), o deputado Roberto Jéferson afirmou que houve financiamento eleitoral ilegal do PSDB para o PTB e vice-versa. A "apuração jornalística" resultou numa notinha de esclarecimento do presidente do PTB à época, ex-senador Andrade Vieira, negando o fato e desmentindo o deputado que era líder do partido. Nada a respeito foi perguntado ao ex-presidente da República e nenhuma indignação nas manchetes de TV e rádio. A notícia rapidamente sumiu.

É risível perguntar por que a acusação da secretária Fernanda Karina de que o ex-presidente do PSDB, ex-deputado federal e ex-ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, teria recebido 150 mil reais da empresa do publicitário Marcos Valério foi menosprezada por quase todos os veículos de comunicação? E por que eles aceitaram, com serenidade jornalística, a explicação de que aquilo se tratava de pagamento de uma consultoria?

Poderiam ser citados outros tantos exemplos de pesos e medidas distintos, que dão margem ao entendimento de que há complacência dos setores midiáticos com certos partidos e governantes. Mas não é só disso que se trata. É maior a coisa.

Nos últimos dias, infelizmente, aumentam os indícios de que pode estar em curso uma cobertura jornalística de discurso único em formato de show. Os sinais são a mistura de notícias sem conexão, a construção de vilões, acusações que parecem vir de todos os lados, mas que tem a mesma origem, e a construção de um clima de risco eminente. Ampliado, isso pode se tornar uma ação desestabilizadora. Ainda não se pode caracterizar tal situação, mas descartá-la é ufanismo midiático. Ao menos um grande grupo de mídia dá sinais claros de que aposta nesse caminho. E acusa mesmo sabendo que fabrica mentiras.

Isso nada tem a ver com querer que a oposição se torne zeladora do bem estar do governo em turno. Ou que se espere da imprensa que esconda bandalheiras em nome de quem quer que seja a tal da governabilidade.

Aliás, ser subserviente ou equilibrado tem tanta relação, como vitória dos torturadores tem com qualidade de um governo. Aliás, governo que poderia ter sido mais eficiente para democratizar os meios de comunicação. Não o fez e agora aqueles que ousaram e ainda ousam lutar podem, de novo, pagar a conta.



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