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La insignia
16 de junho de 2005


Brasil

As manobras do ilusionista e outras histórias


Glauco Faria
Revista Fórum. Brasil, junho de 2005.


Brasília.- O presidente do PTB deu um depoimento ontem no Conselho de Ética da Câmara com poucas novidades, mas que acrescentou novos personagens e denúncias ao conturbado cenário político de Brasília. Algo pouco explorado pela grande imprensa (talvez porque não interesse mesmo saber) são os motivos que levaram Jefferson a expor o esquema das propinas pagas a deputados da base aliada. Tentando justificar-se, o ainda deputado deu uma explicação cândida, porém contraditória. "Tentei resolver no diálogo", para acrescentar em seguida que o "divórcio com o governo foi inevitável", já que não foi tomada qualquer medida contra o mensalão.

Aí o petebista cai em contradição, já que por mais de uma vez repetiu que, após falar com o presidente Lula, cessou a entrega do dinheiro. Seria muita ingenuidade acreditar nas boas intenções de Jefferson ou, como ele cansou de repetir, na sua boa vontade em "matar no peito" problemas que diziam respeito ao PT para não prejudicar o partido do governo.

O momento e as denúncias sugerem algumas possibilidade. "Ele usa a tática do pó-de-mico, espalha pros outros se coçarem e fazer confusão", aponta o deputado Jamil Murad (PCdoB-SP) que, no entanto, não acredita que seja apenas o desespero que move o palavrório teatral de Jefferson. "Ele pode ser agente de algo maior", resume.

A opinião é compartilhada por muita gente da base aliada e coincidências não faltam para justificar a tese. Um dos primeiros a se manifestar a respeito da primeira entrevista dada pelo petebista à Folha de São Paulo foi o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), dizendo que havia avisado ao presidente Lula sobre o assunto. Agora, a secretária de Ciência e Tecnologia e ex-secretária de Educação do mesmo Perillo, Raquel Teixeira, diz que recebeu proposta para mudar de partido, envolvendo "condições vantajosas". Tudo muito concatenado. Em tempo: Delúbio Soares era cotado para ser candidato até a governador em Goiás. Mas no mínimo deveria ser um dos articuladores de uma candidatura forte contra o grupo de Perillo.

Bico fechado, bico aberto

A voracidade dos partidos de oposição contra o governo muda conforme o dia. O PSDB já havia maneirado seus ataques em relação à CPI do Correio. Em Brasília, comenta-se a respeito de um acordo feito entre o PT e os tucanos, que abrandariam as investigações já que a gestão da ECT na época do governo FHC não teria sido das mais lisas. Mas ontem, no depoimento de Jefferson, os tucanos se sentiram mais à vontade, tanto que após a intervenção do líder do partido Carlos Sampaio, o presidente do PTB declarou: "agora vejo que não estou sozinho". No entanto, não se sabe como será o comportamento do partido frente à mais uma denúncia envolvendo agora um tucano de alta plumagem, Pimenta da Veiga.

Enquanto isso, o PFL dá o tom do que será a CPI dos Correios se conseguir emplacar o nome de César Borges. O relator Jairo Carneiro (PFL-BA) se derreteu em elogios ao representado, que estava lá para dar explicações, e, em suas perguntas, tentou forçar Jefferson a envolver ou lançar dúvidas sobre a postura do presidente Lula no episódio. Ao contrário dos tucanos, os pefelistas querem o jogo pesado. O quanto a tática pode dar certo ficará evidente na escolha do presidente e relator da CPI dos Correios. Se não houver acordo, o que é o mais provável no momento, eles irão à votação e, em tese, o governo tem maioria. No entanto, a votação será secreta e o resultado pode causar ainda mais desgaste na já combalida relação entre governo e aliados.

Timidez

"Ele está ligado a tudo que aconteceu de ruim nesse país", bradava o esbaforido e visivelmente alterado presidente do PL, Valdemar Costa Neto, em um dos intervalos do depoimento de Jefferson ao Conselho de Ética. Ele e o deputado Sandro Mabel (PL-GO) foram os que mais violentamente reagiram às acusações do petebista. Mas o que chamou a atenção de fato foram as ausências de outros citados.

"O denunciante não tem muita credibilidade, mas a timidez da resposta reforça a acusação", pontua o deputado Chico Alencar (PT-RJ). "Os principais acusados foram extremamente tímidos como Pedro Henry, Pedro Corrêa, o bispo Rodrigues nem apareceram. É espantoso como as pessoas se encolhem, dando foro de veracidade a muito do que o Roberto Jefferson disse", completa.

Em relação às denúncias do petebista, Alencar ressalta que ele caiu em várias contradições, mas considera a possibilidade de parte do depoimento ser verdadeira. "Ele deu elementos circunstanciais que dão veracidade a alguns aspectos. Por exemplo, pode haver um esquema de captação de recursos para campanhas e transferência de parlamentares, o 'preço do passe'. Mas ele não falou em nenhum momento em mesada mês a mês para mais de cem deputados". O deputado aponta alguns caminhos para a apuração do caso. "Todos esses elementos merecem uma investigação mais detalhada, como essas agências de publicidade e esse tal de Marcos Valério".

Quanto ao suposto envolvimento de membros do PT, Alencar prega o afastamento de Delúbio Soares, "para que ele possa se defender melhor", mas deu seu recado. "Quem errou no PT, quem fez esquema que não foi comunicado ao Diretório e à militância, tem obrigação de sair do partido."

Cassação

Embora o foco do depoimento tenha sido desviado - o presidente do PTB estava na Comissão para responder a uma representação do PL sobre falta de decoro - ele dificilmente escapará da cassação. Para o deputado Júlio Delgado (PPS-MG), membro da Comissão, o fato do petebista ter declarado que aceitou R$ 4 milhões para campanhas do PTB pode ser a pá de cal para a tentativa de preservar seu mandato. "Isso é grave e fere frontalmente o Código de Ética Parlamentar, mas seria necessário apresentar uma nova representação contra ele", afirma. "Precisamos fazer a reforma política para acabar com esse tipo de coisa", completou em seguida, aderindo a um coro cada vez mais corrente no Congresso.



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