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La insignia
11 de junho de 2005


Brasil

Soneto da separação
(Ou o jovem militante, 25 anos depois)


Gilson Caroni Filho (*)
La Insignia. Brasil, junho de 2005.


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
-Soneto da Separação. Vinícius de Moraes-


Foi como artífice de um novo Contrato Social, compondo com setores de centro-direita, que o PT chegou à presidência da República. Longe de configurar conquista hegemônica que precede a chegada ao poder, a vitória petista sinalizou uma inequívoca inflexão ética da sociedade brasileira. Inegável salto qualitativo de um eleitorado refratário, até então, a qualquer alteração substantiva no cenário político.

O terreno a ser conquistado na guerra de posições era tão vasto quanto íngreme. A envergadura do novo projeto teria que se defrontar com a capilaridade das estruturas da direita derrotada eleitoralmente.Como destacava o presidente Lula "ao PT não seria dado o direito ao erro". E pode estar aí, na assertiva, a explicação para a guinada ética desconcertante.O pânico de errar impediu a mudança de modelo e terminou por levar à adoção da agenda liberal-conservadora derrotada nas urnas. O que seria uma política emergencial tornou-se doutrina econômica inconteste. Se os líderes petistas dispunham de alguma teoria sobre o capitalismo em uma sociedade periférica, seu destino, com certeza, foi a lata de lixo do gabinete de Palocci.

Ninguém, no campo democrático-popular, esperava rupturas drásticas. Mas era perfeitamente possível, com o capital político acumulado, estabelecer alianças programáticas com forças conservadoras, empregando a mobilização dos movimentos sociais e segmentos expressivos da sociedade civil como fatores de contrapressão. Bastava manter o projeto de retomada do desenvolvimento com resgate da soberania e revitalização do aparato estatal. A margem de manobra era pequena, mas existia. É lícito supor que não faltasse massa crítica para saltos mais ousados.

Ao incorporar o receituário neoliberal, o núcleo dirigente do PT condenou-se a reproduzir seu método de governabilidade.Trocando um projeto de país por um outro, de poder, inviabilizou-se qualquer alteração na dinâmica institucional.Do realismo político ao pragmatismo fisiológico a distância é menor que a existente entre os Correios e o IRB. Loteamento de cargos e uso do Orçamento não são, como se tornou consensual entre analistas, as opções que sobram a governos com maiorias instáveis. As "más companhias", a quem se atribui a responsabilidade pela crise atual, são funcionais quando a promoção da cidadania é relegada a segundo plano.

A reforma política se faz imperativa, mas ela, por si só, não produz a redenção republicana. A raiz da corrupção está no modelo econômico escolhido. Na necessidade decorrente de "requalificar a base", na ânsia de se livrar do próprio passado para ingressar no campo conservador. A desconstrução de discursos passados era o pressuposto para atualização de suas lideranças. Ao afirmar que "quando a gente é de oposição pode fazer bravata porque não vai fazer nada", o presidente Lula deu a senha para que se entendesse o rumo tomado. Os setores contemplados com as políticas adotadas falam por si.

Roberto Jefferson não é, portanto, uma aliança equivocada. É a conseqüência inevitável de um partido que, no rastro dos juros paloccianos, deu um cavalo-de-pau na sua própria história. Quando o líder do PSDB, Arthur Virgílio, se oferece como fiador de um governo de salvação nacional, algo muito precioso para o coração militante se desmanchou no ar. Na oposição, o PT foi o maior projeto de transformação política do país. No governo, combinou, como poucos, superávit primário e déficit democrático. A escolha econômica é sempre uma opção ética. Eis a lição que a esquerda petista nunca esqueceu. E por isso está condenada a se reinventar.


(*) Gilson Caroni Filho é professor titular de sociologia da Facha.



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