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La insignia
1 de fevereiro de 2005


A fuego lento

Humanismo, hoje!


Luís Carlos Lopes
La Insignia. Brasil, fevereiro de 2005.


O sentido da palavra humanismo, nos tempos que correm, transcende a idéia original, gerada na Antiguidade, do homem como medida de todas as coisas (Protágoras). Vai além do belo ideal renascentista de voltar ao homem, como fonte máxima de inspiração e de colocá-lo como centro do universo (Leonardo da Vinci). É distinto de algumas das concepções ambíguas que surgiram em sociedades escravistas ou excludentes e nas que ainda suportaram ou suportam grandes desníveis sociais. Estas formações sociais cultivaram idéias que dividem a espécie entre o mais humanos, os mais ou menos humanos e os não-humanos (mesmo que fossem biologicamente similares).

Ser humanista hoje é manter e rever todas as críticas e proposições do passado e a elas agregá-las ao conhecimento atual de que a humanidade é uma única família distribuída pela face da Terra. Nesta imensa família, composta por alguns bilhões de indivíduos, as divisões internas espelham o curso da história, não indicando quaisquer evidências de naturais superioridades biológicas, civilizatórias, raciais, sexuais etc. A preservação da espécie significa, igualmente, a preservação das diferenças, dos enfoques múltiplos e da herança cultural comum, que devem ser compartilhadas.

Ser humanista hoje é defender os direitos humanos básicos, originados na Revolução Francesa (1789) e reafirmados após da Segunda Grande Guerra (1939-1945). Qualquer pessoa, minimamente instruída e desprovida de algum fanatismo político ou religioso, sabe que todos os homens e as mulheres deveriam ter direitos de: sobreviver materialmente com dignidade; acesso a oportunidades reais de se desenvolver física e espiritualmente; fazer opções políticas, filosóficas e religiosas em estado de liberdade; saber o que se passa com os demais membros da grande família humana, sem preconceitos e induções que levem à desinformação e à cristalização de pressupostos racistas, xenófobos, sexistas etc.

A palavra humanismo, como qualquer outra, pode ser usada em sentidos opostos. Defender o homem e as mulheres é, no sentido aqui exposto, exercer a crítica aos regimes de exclusão. Estes apartaram e continuam a apartar os homens em várias classes, grupos, etnias, gêneros, religiões, graus de cultura e civilização.

Ser humanista é também lembrar que o poder sempre se achou mais humano. Os seus representantes sempre pensaram que seriam os únicos que teriam as prerrogativas de terem de fato se separado do reino animal. Isso lhes daria o direito de invadir, pilhar, impor e depois de dizer que fizeram isto para trazer a civilização. Ao excluir, o homem virou o lobo do próprio homem, ditando aos demais a quem pertence a herança da espécie na forma de bens materiais e simbólicos.

Inúmeras oposições entre os homens foram construídas ao longo do tempo. Para os gregos e os romanos, que se autoconsideravam como civilizados, eram bárbaros os que não compartilhavam das mesmas religiões, língua, hábitos e costumes. Estavam nesta categoria os seus escravos e os povos dominados e os ainda não dobrados pela força. Entre eles, não há registro da percepção racista, isto é, eles não consideravam as características morfológicas como significativas no processo de exclusão. Curiosamente, a tradição grega foi repassada aos romanos que escravizaram os primeiros, considerando-os como barbarus, repetindo o que antes faziam as cidades-estado da velha Grécia.

O medo dos orientais percorreu mais de dois milênios da história ocidental. Na idade média, os europeus temiam tudo o que vinha de fora, o que poderia afrontar o poder da cristandade e desejava-se unificar o mundo em uma só cultura, por meio da espada e da conversão religiosa. O temor do oriente, dos árabes e do Islã percorreu os mil anos do medievo. Do lado de lá, do norte da África e do Oriente, as invasões eram temidas e também se desejava invadir, conquistar e dominar. Os signos da guerra e da superioridade religiosa eram compartilhados e representados como necessários e vitais pelas civilizações que tinham algum tipo de contato e riquezas a serem exploradas.

Nos últimos 500 anos de história, o contato entre a espécie humana tornou-se universal. Com isto, somaram-se novas percepções civilizatórias, não menos anti-humanistas, paradoxais e excludentes. A criação do mercado mundial e a unificação das grandes civilizações e culturas, sob a ótica do comércio e do consumo, foram operadas inicialmente por meio das navegações, da escravidão e dos processos coloniais de ocupação territorial, trabalhos forçados para os autóctones e exploração à exaustão das riquezas naturais.

Hoje, os interesses financeiros, industriais e estratégico-militares dominam as ações que tentam manter, aprofundar ou romper as regras de convivência entre as civilizações. O mundo foi dividido e redividido até a contemporaneidade, demarcada por brutais ou sutis formas de dominação nacionais e internacionais, de controles políticos, econômicos e ideológicos dos súditos dos novos impérios.

Ser humanista hoje significa ser de esquerda. Não da esquerda talmúdica, sectária, dogmática ou de Estado, sim, de uma esquerda que prefere a vida à retórica do discurso, a verdade dos fatos à pretensão teórica, a prioridade do humano frente à formulação ideológica ou política.

As direitas sempre foram anti-humanistas. Mesmo quando se esconderam e se escondem na bandeira do humano, estiveram e estão na verdade disfarçando os seus reais propósitos de defesa das elites e de dominar a maioria para os seus propósitos inconfessáveis. Quanto mais o pensamento e a prática se direitizam, mais se afastam de ideais humanistas.

As esquerdas, em diversos momentos históricos, defenderam causas contra a humanidade, tiveram posturas e praticaram crimes que as aproximaram das direitas. Por isso, não basta ser de esquerda, é necessário verificar se as causas defendidas aproximam o pensamento político dos interesses da humanidade e isto não pode ser apenas uma fraseologia.

A grande pergunta sobre as decisões políticas é o seu efeito sobre a espécie. Ser humanista de esquerda, significa saudar qualquer atitude que defenda a paz, o direito de autodeterminação dos povos e a defesa dos pontos essenciais dos direitos humanos. Há um consenso internacional sobre estes, por mais que a retórica de alguns Estados tente desvirtuá-los para questões secundárias, do ponto de vista das crenças e dos costumes. Qualquer pessoa instruída, oriunda de qualquer parte do mundo, sabe o que é uma vida humana digna.

A dignidade humana não é um problema ideológico estrito senso. Depende das condições de vida reais das pessoas, muito mais do que dos seus pressupostos morais. Aliás, estes se relacionam com a vida material. São exemplos muito conhecidos no Brasil, bem como na maioria dos países com imensos segmentos da população excluída dos seus sistemas: crianças pedindo dinheiro nas ruas; prostituição infantil; exércitos desarmados de desempregados; milhões de trabalhadores que não ganham o suficiente para viver; criminalidade crescente versus opulência e abundância para poucos. Nestes casos e em outros, temos quadros nítidos de afrontamento dos direitos humanos básicos.

É também um problema da dignidade humana, como os mais instruídos reagem à miséria, à ignorância e à opressão. Se simplesmente se calam, se omitem ou aplaudem, estão de algum modo favorecendo a continuação eterna das iniqüidades humanas. A empatia não é apenas uma questão de caráter. Sofrer com o sofrimento do próximo, sentir e compreender a dor de nosso irmão é muito mais do que defender uma religião. Isto consiste em defender a espécie humana de sua possível destruição.



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