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La insignia
22 de janeiro de 2005


O maestro da Tropicália


Luís Nassif
La Insignia. Brasil, janeiro de 2005.


De certo modo o maestro Rogério Duprat teve alguma participação em minha decisão de ser jornalista.

Vim para São Paulo em 1970, aos 20 anos, dividido entre a música e o jornalismo. No ano anterior, tinha vencido o festival de Poços de Caldas, com um júri composto pelo Damiano Cozzella, Júlio Medaglia, Fernando Faro e Walter Silva. Duprat seria jurado, mas na última hora foi convocado por Caetano Velloso para colocar arranjos no LP que lançou naquele ano, pouco antes de partir para o exílio.

No final de 1970, comecei meu estágio na "Veja" já sabendo que meu destino seria o jornalismo. Mesmo assim, lá por meados de 1971, Tarik de Souza, crítico de música da "Veja", ouviu algumas músicas minhas e resolveu me apresentar ao maestro, junto com um colega de ECA. O maestro se interessou pela música do colega, ouviu a minha com enfado, convencendo-me definitivamente que minha vocação era o jornalismo.

Os da minha idade sabem o que foi a influência de Duprat e seus amigos maestros, mais os poetas concretistas, na juventude da época. Influenciaram os baianos Caetano e Gil e implodiram com as escolas de música popular, como alguns anos antes haviam implodido com o formalismo da música erudita.

Por tudo isso, quando o Gutenberg Guarabyra, o Gut, me convidou para visitarmos o maestro, concordei na hora. Cheguei um pouco atrasado no pequeno apartamento, perto do aeroporto, onde o maestro fica quando vem a São Paulo, de seu exílio em Itapecerica da Serra.

Duprat está com 73 anos e vive seus últimos momentos de lucidez. Está praticamente surdo, mas na conversa lembra-se de tudo, com uma lucidez impressionante.

Lembrou-se dos tempos da casa na rua Rodrigues Alves, na Vila Mariana, vizinho da familia Gandra Martins, quando ele e seu irmão Régis saiam com seus instrumentos para tocar na rua.

Começou a estudar violão aos 14 anos. Teve dois mestres fundamentais: o maestro Oliver Toni - que foi meu professor no meu primeiro ano na ECA - e o compositor Cláudio Santoro, um ex-discípulo do grande Koelreutter - o homem que trouxe a música atonal para o Brasil, e que vive seus últimos momentos em um apartamento da avenida São Luiz, em São Paulo.

Rogério aprendeu violoncelo e, durante bom tempo, trabalhou na Orquestra Municipal de São Paulo e na da TV Tupi. Foi naquele período que o grupo de amigos -ele, Damiano Cozella, Júlio Medaglia, Willy Correa de Oliveira, Gilberto Mendes-começou a bagunçar o coreto da música erudita, para desgosto de Camargo Guarnieri. Na mesma época, no Rio, o maestro Eliezer de Carvalho conduzia revolução similar, ampliando o repertório das orquestras brasileiras.

Um pouco antes, uma geração um pouco mais velha -composta por Santoro e Guerra Peixe-já começar a inovar, disseminando os conjuntos de câmera, acabando com o exclusivismo das grandes formações orquestrais nas apresentações.

Em 1962, com a ajuda da Secretaria da Cultura de São Paulo, Rogério conseguiu assistir um curso de verão na Alemanha, do maestro Karlheinz Stockhausen, um jovem maestro nascido em 1928,e que se tornara o maior nome da vanguarda alemã.

Graças a Duprat, Stockhausen, o norte-americano John Cage, o francês Oliver Messien, caíram na boca da juventude estudantil da época. Dessacralizava-se a música, usava-se o bom humor - como a famosa peça de Cage, um concerto para máquina de escrever.

A bem da verdade, com raríssimas exceções, era uma música que, de minha parte, achava muito chata. Mas quando os maestros da Tropicália trouxeram a irreverência para a música popular, a história dos arranjos populares brasileiros passou por uma revolução comparável às de Pixinguinha e Radamés, décadas atrás.

Parte daquele bom humor foi influência direta do LP "Sargent Pepper", dos Beatles. Naquele fim dos anos 60, achei na rodoviária de São João da Boa Vista um LP de um grupo vocal norte-americano, o "Harpers Bizarre", que, tenho certeza, influenciou os maestros da Tropicália. Rogério lembra-se vagamente do nome do conjunto.

Seu grande momento foi nos LPs de Caetano e da Tropicália na época. Mas até hoje não perdoa Caetano, por ter criticado uma liberdade poética do maestro em uma das faixas: um sonoro pum.

Não apenas o arranjo, como a interpretação do pum foram do maestro. Hoje ele está convencido de que Caetano não estava à altura da homenagem.



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