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9 de fevereiro de 2008

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Iberoamérica
Brasil

Contradições da economia brasileira


José de Souza Martins (*)
Gramsci e o Brasil / La Insignia. Brasil, fevereiro de 2008.

 

No ano passado o País ganhou 60 mil novos milionários. Isso é bom. Significa que a coisa está dando certo para milhares de pessoas. Significa que mais gente tem demonstrado competência para trabalhar para o capital, capitalistas que são dele funcionários, que o fazem multiplicar-se. Milionário, conforme me explicaram, é quem tem mais de um milhão de dólares investido, isto é, dinheiro que ganha dinheiro sem trabalhar, mas que precisa de quem trabalhe para ele. No ano de 2007, o número de milionários no Brasil pulou de 130 mil para 190 mil, 46,1% em um ano, segundo a Folha de S. Paulo, 0,1% dos brasileiros. Mas, se isso é bom, também pode ser ruim, pois não está claro como tantos puderam se tornar milionários de modo tão fácil, sobretudo sendo jovens, quando muitíssimos mal conseguem o pão nosso de cada dia.

Outra notícia foi a de que 20 milhões de brasileiros pularam das classes D/E para a classe C, passando da categoria de miseráveis para a de pobres. Isso parece bom. Um especialista demonstrou que bastaria conceder R$ 10 a cada miserável por mês para que não houvesse mais miseráveis no Brasil. Em dinheiro, é muito pouco, mal dá para o feijão dos 30 dias. Mas promoveria um salto nas estatísticas sociais, ainda que ilusório, um pulo do nada para nada e pouco.

A mobilidade desses 20 milhões de brasileiros resulta da combinação de crescimento econômico com assistencialismo sem desenvolvimento, especialmente o Bolsa-Família. Isso, então, é ruim: alivia a miséria do momento, mas não assegura um destino de efetiva inserção nos benefícios da economia. O dia-a-dia melhora um pouco, mas a vida continua sem perspectiva.

Em 2007, foram criados 1,6 milhão de empregos com carteira assinada, número 31% maior do que no ano interior. Isso é bom, porque representa relação de trabalho menos precária, mais segurança para quem trabalha. Mas o padrão salarial ficou pior do que nos anos oitenta, quando já era baixo em relação aos anos sessenta. Isso, pois, é muito ruim porque confirma que, pela segurança do emprego estável, as pessoas estão se conformando com salários menores e vida pior.

O resumo da novela é este: o país se torna cada vez mais rico e, ao mesmo tempo, cada vez mais pobre. Quanto mais o governo fala no social, mais prospera o privado; quanto mais fala no trabalho, mais cresce o capital. Isso é o que se chama de contradição social, a contradição constitutiva do tipo de sociedade que temos. Política é a competência para resolvê-la e superá-la. Quando não há competência política, não há futuro. Há apenas programas sociais, que de conjunturais se tornam permanentes. Um purgatório que disfarça o inferno da pobreza que renasce a cada passo, que muda de nome, mas não muda a vida.


(*) José de Souza Martins é professor de Sociologia na Faculdade de Filosofia da USP. Este texto foi originalmente publicado em O São Paulo (semanário da Arquidiocese de São Paulo), ano 52, n. 2.683, 7 fev. 2008.

 

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