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24 de outubro de 2001 |
O nacionalismo na Revolução cubana (II) Luís Eduardo Mergulhão Ruas
Indubitavelmente, o nacionalismo é uma das principais características da revolução cubana, sendo a verdadeira seiva capaz de sedimentar a sua resistência e fundamentar seus avanços durante os seus quarenta anos de história. Embora ele possua características centrais que se fazem presentes em todas as fases do processo revolucionário, evidentemente ele se manifesta de acordo com as correlações de forças presentes na luta política, sendo mais explícito ou enfatizado alguns de seus elementos em determinadas situações históricas.
Por isso, para facilitar a análise dos discursos dividirmos o processo revolucionário em determinadas fases, com uma breve visão das características do contexto histórico a que se referem os discursos das lideranças da revolução cubana. Da História me absolverá (1953) ao Caráter socialista da Revolução (1961) Como foi visto anteriormente, após a fracassada tentativa de tomar o quartel de Moncada, Fidel Castro e o que restou de seu grupo, mais tarde chamado de M-26, são presos e levados a julgamento. Ao tomar sua própria defesa, já que era advogado, Fidel acaba por denunciar o regime, justificar sua ação e acaba por apontar as linhas gerais de uma plataforma política. Este discurso, mais tarde devidamente lapidado, se torna o programa desta organização, sendo espalhado por toda a Ilha. Nele já encontramos trechos interessantes sobre a forma como é interpretada a realidade cubana, o sujeito da revolução e a questão nacional, que se revelam fundamentais para entendermos os caminhos seguidos pelo, processo revolucionário após 1959: " Quando falamos em povo, não nos referimos aos setores acomodados e conservadores da nação, aos quais convém qualquer regime de opressão, qualquer ditadura, qualquer despotismo, prostrando-se diante do amo de turno até bater a cabeça no chão. .... Entendemos por povo, quando falamos de luta, a grande massa irredenta, que todos oferecem, enganam e traem, que aspira a uma pátria melhor, mais digna e mais justa; que é mobilizada por anseios ancestrais de justiça, por ter padecido a injustiça e o escárnio geração após geração, que anseia grandes e sábias transformações em todos os níveis e está disposta a dar a última gota de sangue para alcançá-las, quando acreditar em alguma coisa ou alguém, sobretudo quando acreditar suficientemente em si mesmo.... Chamamos de povo, se de luta se tratar, os 600.000 cubanos que estão sem trabalho, desejando ganhar honradamente seu pão, sem Ter de emigrar de sua pátria em busca de sustento; os 500.000operários do campo que vivem em choças miseráveis que trabalham quatro meses por ano e passam fome o resto do tempo, compartilhando com seus filhos a miséria; os 400.000 operários industriais volantes; os cem mil pequenos lavradores; os trinta mil mestres e professores; os vinte mil comerciantes afogados em dívidas; os dez mil profissionais liberais joven. Este é o povo que sofre as grandes agressões e privações é portanto, capaz de lutar com toda a coragem .... O futuro da nação e a solução de seus problemas não podem continuar dependendo dos interesses egoístas de uma dezena de financistas, dos frios cálculos sobre os lucros que fazem em seus escritórios com ar condicionado dez ou doze magnatas. O país não pode continuar de joelhos. Os problemas da República só terão solução se nos dedicarmos a luta por ela com a mesma energia, honradez e patriotismo que nosso fundadores lutaram para criá-la". (1) Percebemos nessas afirmações que a constituição do sujeito que vai levar à frente o processo revolucionário é vista de forma bem ampla, não havendo uma delimitação rígida entre os vários setores que o compõem ou qual deles terá capacidade de exercer um papel de vanguarda destas transformações, unificando-se na luta concreta contra a exploração e a opressão. Vemos então que é dada uma grande importância à luta política e ideológica, à ação do sujeito na história, daí a constituição deste campo político não ter como critério somente a relação destes grupos com a estrutura material da sociedade, procurando-se assim não se limitar a determinação estrutural das classes sociais. Paralelamente já há uma clara referência a questão da nação, que deve ser soberana e ter seus destinos dirigidos pela maioria que a compõem imbuída de sentimentos patrióticos e éticos que se encontram na luta dos fundadores da República, ou seja, como se os caminhos da sociedade cubana tivessem, graças a interesses particulares, se desviado do rumo correto. Evidentemente este discurso se insere em um contexto de luta onde havia a necessidade de uma ampla frente política, envolvendo também setores consideráveis da burguesia não aliadas a Batista, o que explica toda esta flexibilidade na formulação de um programa de reformas políticas e econômicas que nada tinham de socialistas. Logo, havia uma preocupação em manter esse vasto leque de forças, mesmo que na prática exista uma radicalidade que após a vitória da revolução será decisiva, pois "Unir é a única coisa a fazer nesta hora. Unir o que tem em comum todos os setores políticos revolucionários e sociais que combatem a ditadura. E o que tem em comum todos os partidos políticos de oposição, os setores revolucionários e as instituições cívicas? O desejo de pôr fim ao regime de força, às violações, aos direitos individuais, aos crimes infames e buscar a paz que todos desejamos pelo único caminho possível: o caminho democrático e constitucional do país". (2) Com o isolamento dos setores ligados à ditadura de Batista e o constante avanço político militar do exército rebelde que vai ocupando postos chaves da estrutura política do país, há uma tentativa de se manter esse discurso amplo e unitário, apesar das tamanhas diferenças que já começam a se tornar explícitas entre os diversos grupos políticos tradicionais de oposição a Batista e uma ala mais radical do M26 de julho. Na sua visita aos EUA, Fidel Castro assume um tom extremamente diplomático, porém já deixando claro o conteúdo patriótico da revolução e o sentimento de dignidade nacional, ao mesmo tempo que mostra que a aplicação do seu programa não exclui, ao contrário beneficia, setores consideráveis da burguesia: "Em Cuba 98% do povo lutou, porque em Cuba não houve uma guerra civil como aqui nos EUA, que foi parte de uma nação contra a outra. Em Cuba houve uma luta entre o povo de Cuba e um bando de dilapidadores e ladrões....." (3) "... o comerciante que incrementará seus lucros, as indústrias que se ampliarão, os bancos cubanos que passarão a ter mais possibilidades de colaborar com o governo revolucionário facilitando a mobilização do crédito, esses também ainda que sejam classes instaladas, estarão com a Revolução, porque eles também serão beneficiados com a revolução". (4) Nesta conjuntura, onde a vitória da revolução é recente e as medidas democráticas mais incisivas ainda não tinham sido aplicadas, há uma clara tentativa de demonstrar que esta revolução não era comunista e tinha raízes cubanas, ou seja nacionais, o que mostra que, pelo menos neste discurso, a liderança da revolução tentava demonstrar concordância com aquela preconceituosa visão que apontava a radicalização de qualquer movimento como comandada por estrangeiros, que tentavam impor uma ideologia distante de nossas tradições, etc. Simultaneamente, há um claro recado sobre as consequências políticas das ações daqueles que se opõem a revolução: " Nuestra revolución no es comunista, nuestros ideales se apartan de la doctrina comunista, la Revolución cubana no es capitalista ni comunista, és una revolución própria, tiene razones cubanas, es estritamente cubana y enteramante americana..." (5) "O mais que podem fazer será pôr bombas ou fazer um atentado, e se fizerem atentados, pior, pois radicalizarão mais... . Isto terá como consequência a radicalização da revolução e então sim, perderão mais. Pretendemos fazer as coisas com moderação, com cuidado, levá-las dentro da ordem, e não tomamos todas as medidas ao vencer a revolução, antes as vamos implantando pouco a pouco....." (6) Evidentemente EUA esperavam neutralizar uma possível radicalidade da revolução, já manifestada quando das divergências em torno da própria estruturação política e militar do país na época do manifesto conjunto das oposições, seja incentivando das mais diversas formas os setores mais moderados na tentativa de minar o setor mais radicalizado do M-26 de Julho, inclusive patrocinando ações militares, seja tentando pressionar economicamente o governo cubano. Afinal, o governo americano, já havia percebido o tom nacionalista de Fidel nas suas primeiras declarações e discursos nas inúmeras atividades de massa após a derrubada de Batista, que ligavam os EUA a condição do país antes da revolução , sempre apontando que, a partir da derrubada de Batista, o povo cubano era efetivamente livre: " Somos serenos, somos ecuanimes, pero muy claros en cuanto a lo que es dignidad de la nacion cubana, en cuanto lo que es la soberania del pueblo cubano. Creo que este pueblo tiene los mismos derechos que otros pueblos a gobenarse, a trazarse su próprio destino libremente y de hacer las cosas mejor y más democraticamente de lo que hacen otros que habalaban de democracia y le mandávan tanques Sherman a Batista..." (7) " Se os Estados Unidos desejam ter bom relacionamento com Cuba, a primeira coisa que terão de fazer é respeitar nossa soberania" (8) " ... Nosotros nunca habíamos sido independentes, nunca. Decían que esta era una república soberana e independiente, y eso era mentira. Aquí el embajador americano era el que daba órdenes y gobernaba en la mayor parte dos casos...." (9) "Entonces, con respecto a la situación de Cuba no hay más que una actitud de respeto a las decisiones sobernas de la nación, porque nossotros estamos actuando en ele território cubano, no estamos actuando en la Flórida, ni en Nova YorK, ni en ninguna parte. ..Que seria lo único inteligente que pueden hacer los EUA? Sencillamente, dejar en paz al pueblo de Cuba, dejar en paz a la nación cubana caundo quieran discutir que vengan a discutir de igual para igual com nosotros y com respecto a nuestros derechos , sencillamente". (10) Essa etapa que vai da vitória da revolução até a decretação do caráter socialista, sem dúvida é extremamente rica no que se refere às disputas políticas e que caminhos serão traçados pelo governo revolucionário. Conforme as medidas democráticas e nacionais vão sendo aplicadas, como vimos no primeiro capítulo, a reação da burguesia cubana e dos EUA torna-se mais vigorosa, e o governo tenta então construir um novo campo de apoio político, sempre salientando a unidade, a soberania da pátria e a defesa da nação, que agora passa a se combinar com uma postura antiimperialista cada vez mais vigorosa, centrada na crítica às ações dos EUA não só em relação à Cuba mas toda a America Latina. Importante perceber que esses discursos se dão bem antes do caráter socialista da revolução, o que demonstra como as medidas nacionalistas atingiam o cerne das relações econômicas do capitalismo dependente, trilhando assim os caminhos para uma possível ruptura com a ordem burguesa, caso o processo não fosse paralisado pelo temor da direção do governo ou por uma rápida rearticulação da burguesia : "Eso quiere decir que la palabra independência, la palabra soberanía, la palabra república, há sido muchas veces una ficción. La lucha revolucionária es una lucha pela firmación plena de nuestra soberania, ..." (11) "Nuestro pueblo tenía derecho a ser un día libre, ...., nuestro pueblo tenía derecho a contar un día con gobernantes que no defienderan los monopólios estrangeros, con gobernantes que no defienderan intereses privilegiados, com governantes que no defienderan los explotadores, sino com gobiernantes que pusiesen los intereses de su pueblo y de su Pátria por encima de los intereses del extranjero voraz; com gobernantes que pusiesen los intereses del pueblo, los intereses de sus campesinos, los intereses de sus obreros, ... , por encima de los intereses de los privilegiados y de los explotadores." (12) " Quiénes están y quiénes estarán contra la revolución? Aquellos cuyos intereses no son los intereses de Cuba, aquellos cuyos no son los intereses del pueblo de Cuba. Esos estarán contra la revolución. Y quiénes más? Estarán tambíen contra la revolución los resentidos, los frustrados, los que se venden, los que se aflojan, los que tracionan, estarán contra la revolución todos aquellos que concibieron la Revolución como uma ambición personal, no como una empresa del pueblo.. Todos aquellos que soñaron que esto era un continuar del pasado, todos aquellos que pensaron hacer fortuna o satisfacer vanidades personales, aquellos que soñaron en ser timoneles de la nave revolucionária , aquellos que se llenaron en ambiciones y no tuvieron el valor y capacidad de llegar lejos" (nov. 1959) (13) A Revolução traduz-se como um marco fundante da Pátria, da liberdade, da soberania do país, sendo o símbolo do rompimento das amarras que impediam a real expressão da nacionalidade. O seu trajeto, segundo o discurso, só tende a avançar e aprofundar-se inexoravelmente e, o que é importante perceber, já há uma vinculação explícita com os oprimidos em detrimento dos privilegiados, sendo os primeiros o esteio fundamental da nação simbolizada no conjunto dos setores sociais, inclusive as classe médias, que apóiam a revolução. O interesse do povo, o interesse da nação, vinculava-se ao processo revolucionário, ou seja, na forma como seus caminhos eram definidos pela direção do país. A revolução significa a vitória dos oprimidos, a nação era simbolizada pelos humildes, que agora detinham o controle dos caminhos a serem seguidos pela Pátria, agora soberana, iniciando assim uma nova era e rompendo definitivamente com um passado sem retorno: "La revolución há sido como una luz que se enciende en medio de la noche, la Revolución há sido como un sol cuyos rayos alumbran un amanecer para la Pátria"( julio 1960). (14) "Caundo quieren discutir( los imperialistas yanquis) que vengan a discutir de igual para igual. Caundo quiren discutir que vengan a discutir aquí, com un país que ni se rende ni se vende. Y desde luego, desde luego, no sueñen jamás que Cuba podrá volver su carro, que Cuba podrá volver a su cícculo de títeres. Cuba jamás volverá a ser lo que fue! Cuba jamás les hará el jeugo de los intereses del império yanqui! Cuba estara siempre al lado de los pueblos oprimidos; ...., Cuba no estará jamás al lado de la casta de privilegiados...( agosto 1960). (15) "No . No nos queda ninguna duda que la pátria vencerá. No nos queda ninguna duda porque sabemos el terreno que estamos pisando,; porque además, no es la batalla de un grupo de hombres, es la batalla de un pueblo entero y nunca un pueblo entero ha perdido ninguna batalla" ( setiemre de 1960). (16) Evidentemente esse antiimperialismo não poderia estar restrito somente a revolução cubana. A derrubada de uma ditadura sangrenta por uma revolução popular comandada por guerrilheiros com comportamento espartano foi amplamente divulgada por toda a América, razão da imensa simpatia internacional com que contava o novo governo, das mais diversas classes sociais. Porém, o funcionamento do paredón, e as efetivas medidas democráticas combinadas com as nacionalizações provocaram o temor da burguesia do continente e principalmente dos EUA, que não só eram os maiores parceiros comerciais da Ilha como tinham presença decisiva em todos os setores de sua economia. O governo americano contava com isso para tentar inibir o aprofundamento da revolução, e por isso tentou de todas as maneiras sufocar a economia cubana, seja boicotando a produção e a compra do açúcar, incentivando a imigração dos trabalhadores mais qualificados, impedindo a concessão de créditos anteriormente acordados, etc. É neste sentido que o governo cubano procura não só a solidariedade da América, como passa a incentivar movimentos contrários a várias das ditaduras do continente, muitos deles sendo organizados ou partindo da própria ilha, afinal a generalização de movimentos inspirados na revolução cubana traria mais complicações à hegemonia americana no continente, principalmente se vitoriosos, impedindo assim um completo isolamento econômico e político do páis. Essa necessidade econômica e política de sobrevivência se combina com uma das características ideológicas da revolução, e presente em Martí, da valorização da ética e dos valores morais na ação do sujeito revolucionário, capazes de romper as mais difíceis condições objetivas, além da importância dos estreitamento dos laços com outros países da Nuestra América, afinal contribuir com a libertacão de Porto Rico fazia parte do projeto dos independentistas em 1898. Logo, a revolução cubana será apresentada, nos discursos de suas lideranças, não só como imbuída do mesmo espírito daqueles que lutaram contra o colonialismo, mas como aquela que está disposta a demonstrar, com seu exemplo prático e com sua solidariedade aos povos oprimidos da América, ser possível um enfrentamento com o imperialismo, que só pode ser levado a frente caso a burguesia a ele associada, perca o poder político. "Que importa que nos condenen? Que importa que Washington manobre? Después de eso seguirá viviendo una revolución que surgió a la vida sin permiso de unos o de otros, después de eso seguirá teniendo más vida que nunca. ... Porque Cuba lo que hace hoy es recoger la bandera de América, la bandera de Bolívar, la bandera de Sucre, de San Martín, la bandera de Juarez y de Sandino, la bandera de los hombre dignos de América, la bandera de la dignidad de América. Cuba lo que hace hoy es rebelarse contra el coloniaje yanqui, como ayer se rebelaron ellos en Venezuela, México o en Argentina contra el coloniaje e Espanã. El grito de Cuba será el grito de Cuba en Costa Rica, será el grito de libertad de la América, será el grito de los derechos de América, será el grito de dignidad de América, frente al grito del imperio, frente a la complicidad vergonzosa de los que entregan sus pueblos en bandeja de plata al poderoso império del norte." (17) A cada demonstração de intolerância do imperialismo, leia-se imperialismo americano, a direção da revolução constrói de forma competente um discurso de apelo ao sentimento patriótico, tentando demonstrar à população que ser nacionalista, lutar pela soberania do país, significa combater o perigo externo, ou seja a ameaça imperialista. O exemplo das explosões do navio La Coubre, um cargueiro francês que trazia armas provenientes da Bélgica, apontou um decisivo fortalecimento deste nacionalismo, seiva fundamental da revolução, com o antiimperialismo. Os sentimentos patrióticos, o pertencimento à nação, significa apoiar a revolução, e isto só pode ser desdobrado com a unidade de todo o povo e o apoio irrestrito ao governo. Pela primeira vez surge a palavra de ordem, célebre para demonstrar o tom nacionalista, com que Fidel passará a encerrar seus discursos, além do decidido apelo àqueles que constituem o sujeito da revolução, demonstrando que com vontade, convicção e, por que não, fé, os maiores obstáculos são rompidos: "Hoje eu vi nossa nação mais forte do que nunca...., hoje vi nossa revolução mais sólida e invencível do que nunca.... . Cuba jamais será covarde, Cuba não voltará atrás, a Revolução não será detida... A revolução marchará em frente vitoriosamente... (18) " Y sin inmutarmos por las amenazas....recordando que un día nosostros fuimos 12 hombres solamente y que, comparada aquella fuerza nuestra com la fuerza de la tiranía,........., sin embargo, nosotros creíamos que resistimos entonces , como creemos hoy que resistimos a cualquiera agresíon. Y no solo que sabremos resistir a cualquier agresión, sino que sabremos vencer cualquier agresión, y que nuevamente no tendríamos outra disyuntiva a aquella com que iniciamos la lucha revolucionária: la de libertadad o la muerte. Solo que ahora libertad quiere decir algo más todavía: libertad quiere decir pátria. Y la disyuntiva nuestra sera: Pátria o Muerte!" Seguindo este processo de radicalização antimperialista, o caráter socialista da revolução é logo manifestado em discurso realizado no enterro das vítimas fatais após o bombardeio de aviões vindos da Guatemala, um dia antes da invasão da Baía dos Porcos por cubanos contrários à revolução e apoiados pelos EUA. Além da manifestação explícita da linha ideológica socialista, é importante perceber a referência aos camponeses e operários, agora claramente destacados no campo dos humildes, e a contraposição extremamente didática, fundamental para um claro entendimento dos mais simples sobre a conduta apontada pela liderança, entre os trabalhadores e os ricos, agora associados aos mercenários e contrários aos reais interesses da pátria. É este grupo de humildes que servirá de sustentáculo à revolução, vista como o único caminho da liberdade e afirmação da independência nacional. Significa uma nova leitura de nação que foi lentamente se constituindo desde a vitória da revolução, representação do povo humilde e trabalhador que constitui a grande maioria da população, distando daquela que percebe nação como englobando todas as classes sociais de uma determinada sociedade, onde os conflitos de classe seriam secundários em função do sentimento patriótico, se articulando com a questão da soberania nacional. " E essa revolução, essa revolução, não defendemos com mercenários. Nós a defendemos com homens e mulheres do povo. Quem tem armas? Por acaso o mercenário tem armas? Por acaso o milionário têm armas? Porque mercenários e milionários são a mesma coisa. Por acaso os filhinhos dos ricos têm armas? .... Quem tem as armas? São as mãos de senhoritos? São mãos de ricos? São mãos dos exploradores? Que mãos levantam estas armas? Não são mãos operárias? Não são mãos camponesas? Não são humildes do povo? E qual é a maioria do povo? Os milionários ou os operários? Os exploradores ou explorados? Os privilegiados ou os humildes... Companheiros operários e camponeses, esta é a revolução socialista e democrática dos humildes, com os humildes e para os humildes.....Operários e camponeses, homens e mulheres humildes da pátria, juram defender até a última gota de sangue esta revolução dos humildes, pelos humildes e para os humildes.......? Viva a classe operária! Vivam os camponeses! Vivam os humildes! Vivam os mártires da pátria! Vivam eternamente os heróis da pátria! Viva a revolução socialista! Viva Cuba Livre! Pátria ou Morte! Venceremos!" (19) A busca de um socialismo cubano A opção socialista da revolução cubana foi resultante das diversas contradições entre as medidas nacionais e democráticas apontadas pelo governo e o imperialismo americano. A extrema subordinação de sua economia à dos EUA e a dura resistência dos EUA em não aceitar mesmo as pequenas mudanças inicialmente propostas contribuíram para que, em um mundo marcado pela guerra fria e a bipolaridade, a adoção de um modelo socialista e com cada vez maior ligação com a URSS se desse em um prazo extremamente curto. Embora inscrita nas alternativas oferecidas naquele momento e alimentada pelos fatos, a escolha de uma linha socialista foi uma opção clara de um setor majoritário daqueles que lideraram a revolução, não sendo um "destino" mecanicamente determinado pelas circunstâncias objetivas. Por isso, era tarefa da direção política e ideológica do país, seguindo a linha de construir e trabalhar a consciência da população com fatos concretos e de maneira didática, apresentando a ligação entre as medidas nacionalistas e o amor pela pátria com o antiimperialismo em bases socialistas, mostrando que essa era a única maneira de preservar a soberania conquistada em 1959. Assim, logo depois da decretação da opção socialista, Fidel Castro procura relacionar de maneira mais clara e aprofundada a ligação dos caminhos da revolução com a luta de Martí quando aponta: " ...Não, Martí não era marxista-leninista.... . Porque a revolução de Cuba era uma revolução nacional, libertadora, perante o poder colonial espanhol; não era uma revolução que fosse uma luta social, era uma luta que perseguia primeiro a independência nacional. E mesmo naquela época, Martí disse de Marx: "Já que se colocou ao lado dos pobres merece meu respeito... E que outra visão teve Martí? Uma visão também genial no ano de 1895. Teve a visão do imperialismo americano quando o imperialismo americano ainda não tinha começado a ser imperialismo..... Tínhamos de optar entre permanecer sob o domínio, a exploração e a insolência imperialista, continuar suportando aqui os embaixadores ianques dando ordens, continuar mantendo nosso país no estado de miséria em que estava, ou fazer uma revolução antiimperialista, e fazer uma revolução socialista.... Nisso não havia alternativa. Escolhemos o único caminho honrado, o único caminho, leal que podíamos seguir junto a nossa pátria, e de acordo com a tradição de nossos mambises, de acordo com a tradiçào de todos que lutaram pelo bem do nosso país. Esse é o caminho que seguimos, o caminho da luta antiimperialista". (20) É preciso levar em conta que não existe meio termo entre capitalismo e socialismo. Os que se empenham em encontrar terceiras posições caem em uma posição verdadeiramente falsa e utópica. Isso equivaleria a se desentender, ou seria cumplicidade com o imperialismo. ... A revolução antiimperialista e socialista tinha que ser só uma, uma verdadeira revolução, porque existe apenas uma revolução. Essa é a grande verdade dialética da humanidade: o imperialismo, e diante do imperialismo, o socialismo: .....Qual socialismo deveríamos aplicar? Tínhamos que aplicar o socialismo científico.... Digo aqui com total satisfação e com total confiança: sou marxista-leninista e serei marxista-leninista até o último dia de minha vida." (21) Embora a situação estrutural da economia cubana, a adoção de uma orientação socialista e a correlação de forças do mundo implicassem uma necessária aliança com o conjunto de países liderados pela URSS, Cuba procurou forjar um socialismo próprio, principalmente na década de 60, quando houve profundos debates sobre que socialismo construir em uma ilha com pobre recursos naturais, historicamente submetida ao colonialismo e ao imperialismo. Neste debate, que curiosamente se ateve às questões do desenvolvimento econômico não se abrindo maiores possibilidades para discussão em torno da representação e da democracia no socialismo, se destacaram muito as opiniões de Guevara, que possuía uma visão extremamente crítica, baseada em um marxismo profundamente criativo distante da ossificação teórica soviética, acentuando a ação do homem na história. Embora nosso tema central não tenha como alvo central estas discussões, é importante citar Guevara para demonstrar o quanto a revolução cubana alimentou uma conduta de soberania nacional, tentando seguir um caminho próprio e independente mesmo no que se refere ao modelo socialista hegemônico da época, características que não foram apagadas nem por força das obrigatórias concessões a objetividade da real politik daquele período. " Na Iugoslávia funciona a lei do valor, na Iugoslávia fecham-se fábricas porque não rendem, existem delegações suíças e holandesas que recrutam mão-de-obra desocupada e a levam para trabalhar em seus próprios países, para trabalhar nas condições que impõe um país imperialista à mão de obra estrangeira...... Na Polônia se vai pelo mesmo caminho, anulando as medidas de coletivização,.... . Também n Alemanha e na Tchecoslováquia se começa a estudar o sistema iugoslavo para tentar apliá-lo. Em resmo, estamos na presença de uma série de países que estão mudando de caminho. Diante de que? Diante de uma ralidade que não se pode desconhecer: Que o bloco ocidental avança em ritmos superiores aos da democracias populares. Por quê? Em vez de se ir ao fundo, à raiz disso, para tentar resolver o problema dá-se ua resposta superficial, volta-se à teoria do mercado, recorre-se à lei do valor e são reforçados os estímulos materiais. (22) " La investigación marxista avanza en un camino peligroso... . Al dogmatismo intrasigente da época de Stalin le ha sucedido un pragmatismo inconsciente. Y lo trágico es que lo mismo ocurren todos los aspectos de los pueblos socialistas". (23) " ... a bíblia não e mais o Capital mas o manual de economia política". (24) "Como puede significar "benefício mútuo" vender a precios del mercado mundial las matérias-primas que cuestan sudor y sufrimentos sín limites a los países atrasados y comprar a precios de mercado mundial las máquinas producidas en las grandes fábricas automatizadas del presente ?". (25) Essa posição de independência manifestada pelo governo cubano em relação às discussões em torno do transição comunista, das relações entre os países que se proclamavam socialistas e a estratégia revolucionária para a América Latina muitas vezes tornou tensas as relações com a URSS. A marca da soberania já estava expressada logo após a vitória da revolução quando Fidel disse que: " No tabuleiro do poder político nunca nos encontrarão desempenhando o papel de dóceis peões". (26) A desconfiança em relação à URSS se estabeleceu definitivamente com a chamada Crise dos Mísseis, quando o governo americano, descobrindo a presença de armas estratégicas em Cuba direcionadas aos EUA, procede um bloqueio naval à ilha. O governo cubano teria instalado ali mísseis soviéticos não só para se proteger de uma invasão americana com aquelas armas, mas simplesmente para ter possibilidade de internacionalizar o conflito caso ela fosse realizada. Porém, o acordo entre Kennedy e Kruschev é feito sem consultar os líderes do governo cubano, que vêem tal fato como um insulto à soberania de Cuba, que na verdade foi tratada como um satélite, como o próprio Guevara já desconfiava e temia. Tal acontecimento insultou o sentimento de soberania nacional cubano, e foi assim apontado por Fidel: "Kruschev teve grandes gestos de amizade com nosso país. Realizou atos que foram de grande ajuda para nós. Mas a maneira como se comportou na crise de outubro foi uma série afronta para nós. Estou convencido que, pelo menos por princípio, devíamos ter sido consultados, e isso não se fez. Aquilo me pareceu absolutamente incorreto, produziu irritações, protestos por nossa parte e digamos inclusive que influiu nas relações cubano-soviéticas durante anos." (27) Tais acontecimentos incentivaram ainda mais a necessidade de Cuba ver espalhada uma revolução pelo continente, agora não só para combater o imperialismo americano, mas também para permitir que outras revoluções vitoriosas alterassem o quadro geopolítico dando uma maior margem de manobra a Cuba, impedindo assim uma dependência do país em relação a URSS. Logicamente, naquela circunstâncias, a revolução cubana, que segundo Guevara havia tocado nas consciências dos latino americanos, se tornava um exemplo de revolução, daí a tentativa de tornar os Andes a Sierra Maestra da América Latina. Por isso, Cuba organiza várias reuniões e encontros visando contrubuir e organizar a luta revolucionária do continente, seguindo uma linha estratégica que entrava em desacordo com a URSS e vários Pcs do continente. A revolução cubana já se tornara um marco no continente e agora pretendia liderar os países a América Latina em sua verdadeira independência nacional, instalando um profundo sentimento de orgulho patriótico no povo da ilha: "O destino da revolução popular na América está intimamente ligado ao desenvolvimento de nossa revolução". (28) " A natureza da revolução é a luta pela independência nacional, a emancipação diante das oligarquias e o caminho socialista para o desenvolvimento econômico econômico e social pleno". (29) "Isso é que vale em termos que superam o nosso pequeno âmbito e isso também é o nosso maior orgulho: que um cubano em qualquer lugar do mundo seja respeitado, admirado, seja querido, e às vezes, temido e odiado pelo que representa a revolução, pela profundidade que alcançou, pelos seus êxitos em quatro anos". (30) "Isso mostra que ela( a burguesia nacional) teme mais a revolução popular que a opressào despótica dos monopólios, que insultam a nação, ofendem os sentimentos patrióticos e colonizam a economia". (31) Todavia, com a derrota dos focos guerrilheiros na América e os diversos problemas oriundos de uma situação econômica estrutural extremamente difícil, mostrando a dificuldade da opção socialista em um país com parcos recursos naturais, sofrendo todas as consequências do colonialismo e do neocolonialismo, com uma relaçào comercial com o Leste em essência não muito benéfica extremamente atrasadas, convivendo com uma extrema escassez de quadros técnicos especializados, submetido a forte cerco imperialista, combinada com as graves falhas do modelo proposto por Che adotado durante a década, Cuba foi obrigada a aprofundar seus vínculos com o bloco socialista e a URSS. Em 1968 o governo cubano dá apoio à intervenção dos soviéticos na Tchecoslováquia, o que evidentemente era uma contradição com toda a sua luta contra o imperialismo americano pela soberania nacional e autodeterminação. Porém, mesmo nesse situação onde a justificativa teórica política era impossível, o governo não deixou de fazer duras críticas ao socialismo do Leste Europeu, com base nas formulações de Guevara e, mesmo dando apoio a esta "medida amarga", provoca a URSS ao colocar a questão cubana, percebendo até onde poderia ir o "internacionalismo proletário" da Doutrina Brejnev ao perguntar: "As divisões do Pacto de Varsóvia serão enviadas ao Vietnã se os imperialistas ianques aumentarem sua agressão contra aquele país e o povo do Vietnã requerer sua ajuda? As divisões do Pacto de Varsóvia serão enviadas para a República Democrática da Coréia se os imperialistas ianques atacarem aquele país? As Tropas do Pacto de Varsóvia serão enviadas para Cuba se os imperialistas ianques atacarem nosso país e nosso país a requerer?" (32) No ano de 1972 Cuba entra para o CAME, conselho que geria as relações comerciais entre os países socialistas e por isso deve se adequar ao papel que a ela lhe é conferido, que embora traga alguns benefícios, na verdade a impossibilita de diversificar sua economia, e determina a adoção de um modelo econômico bem parecido com o desenvolvido no Leste Europeu, ao mesmo tempo que mantinha seu papel de solidariedade às lutas dos povos do terceiro mundo, se tornando um país importante do movimento dos não-alinhados. A manutenção do discurso antiimperialista, sempre exaltando o papel exercido por José Martí enquanto internacionalista se faz presente: " José Martí, guia e apóstolo de nossa guerra pela independência contra a Espanha, ensinou-nos esse espírito internacionalista que Marx, Engels e Lenin confirmaram na consciência do nosso povo. Martí pensava que "pátria é humanidade" e nos traçou a imagem de uma América Latina unida, frente à outra América Imperialista e soberba, "conturbada e brutal"- como ele dizia- , que nos desprezava". (33) Trata-se da revolução cubana procurando em Martí sua inspiração e fundamentalmente sua legitimidade perante seu povo e a história, procurando relacionar que algumas características e linhas de ação presentes no processo revolucionário cubano se relacionavam com alguns pontos das reflexões e da prática política daquele considerado por todos os cubanos o pai da pátria. De acordo com esta leitura os dirigentes da revolução só estavam seguindo os senderos inicialmente propostos por Martí quando apontam que "Ali, no Moncada, fomos sendo martianos. Hoje somos martianos e não deixamos de ser martianos, porque não há contradição nisso pelo menos para nós. Ali estávamos com as idéias de Martí e hoje continuamos com as idéias de Martí, com as idéias de Lênin, com as idéias de Marx, com as idéias de Bolívar, com a revolução de Bolívar, com a revolução do Che; com a direção de Martí, com a doutrina de Marx e com Bolívar, com o continente que Bolívar quis unir(....) Com profundas raízes martianas hoje consideramos e acreditamos que somos marxistas". (34) " Creio que minha contribuição à revolução cubana consiste em haver realizado uma síntese das idéias de Martí e do marxismo leninismo e have-la aplicado consequentemente em nossa luta...... Mas Martí, e toda a nossa história, cultura e particularidade, nos acompanhou na etapa da construção do socialismo junto com Marx, Engels e Lenin e nos seguirá iluminando o futuro. Esta é uma das razões de nossa consígnia "Socialismo ou Morte", pois o socialismo em Cuba significou a continuidade lógica de nossos sentimentos patrióticos e internacionalistas". (35) Logo, para a direção da revolução, o socialismo não representa a antítese do nacionalismo, mas fundamentalmente o caminho para este último se concretizar plenamente, a ponto de se chegar a usar a expressão continuidade lógica, como se fosse algo inevitável, representando a superação entre várias tarefas históricas democráticas e nacionais que não foram levadas a cabo no seu devido tempo em função do desenvolvimento do capitalismo cubano e a impotência de sua burguesia em aplicá-las. Este nacionalismo, de cunho revolucionário e internacionalista, se encontra na revolução, vista como um marco regenerador da nação e da soberania do país, sendo uma constante presença nos discursos políticos, justamente porque conseguem agregar a maior parte da população, mantendo as bases fundamentais do consenso social, principalmente nos momentos de crise política ou diante de uma ação mais ofensiva do imperialismo. Foi o que ocorreu em meados dos anos oitenta e se estendeu após o fim da URSS, quando Cuba, praticamente sozinha, optou por manter a orientação socialista, só que exaltando cada vez mais a soberania, os sentimentos patrióticos e a relação da revolução com a luta de Martí ou seja, intensificando um discurso de claras características nacionalistas. Notas
(1) Fidel Castro. El Pensamiento de Fidel Castro. La Habana. Editora Política, 1983, pág 243 |
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