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26 de julho de 2001 |
Ratos e ratoeiras Luís Carlos Lopes
É difícil não deixar de lembrar da velha brincadeira fonética brasileira - certamente com equivalentes em outros países e línguas - em que 'o rato, roeu a roupa do rei de Roma'. A leitura dos jornais e a visão dos telejornais não deixam dúvidas. O rato, mamífero prolífico, multiplicou sua herança genética, em escala geométrica, ganhou novas sobrancelhas, estaturas, pesos e origens, infestou palácios, plenários e gabinetes, roendo tudo o que pode ser roído nas novas 'romas'.
Se existem novas 'romas', existem novos ratos. Estes, só não roem dinheiro... São alérgicos, preferem investi-lo em contas reais e fantasmas, em paraísos fiscais espalhados pelo planeta, em fazendas, gado, sítios, carros e casas de luxo etc. Os ratões e ratazanas de nosso tempo nada têm a ver com a simplicidade de um Mickey Mouse. São como os avós dos tios patinhas, fazem tudo para ter um cofre cheio e parecerem com os milionários que conhecem e apreciam, mas que ainda não lhes foi possível chegar lá. Perseguem este ideal nas sombras e buscam a luz no exagero do consumismo e da exibição de luxo, riqueza e poder. Normalmente, há algumas exceções, são novos ricos, filhos ou netos de quase-pobres. Não são bonzinhos para quase ninguém, a não ser para os patrões de seu tempo - prestam serviços inestimáveis, mas cobram caro por eles. Distribuem um pouco para seus amigos e amigas mais próximos. Afinal, eles são fiéis escudeiros, prontos para ficar com as migalhas dos banquetes. O curioso que cada roedor pego com a boca na botija pelas mídias serve como prelúdio do outro, que será noticiado a seguir. Não raro, os juizes dos ratos, togados ou de ocasião, têm rabo, orelhas grandes e cheiram mal. Poderão ser, no passo seguinte, 'a bola da vez', se o seu poder não for suficiente para abafar o próximo escândalo espetacular que se seguirá, em uma rotina quase que obrigatória. Desde que um certo rato alto, com olhos indígenas, ficou mil dias na poltrona real, as mídias, com alguns interstícios, não mais pararam de falar nesta família numerosa que vive de leste ao oeste e do sul ao norte. Mas antes, houve outros, muitos outros, incontáveis nas peripécias da 'arte de roubar', conhecida desde os tempos coloniais. No passado, não havia mídias, sociedade de massa, televisão, rádio, jornais etc, essas coisas da tal modernidade... O poder não estava, ainda, tão diluído e representado por esses artefatos. Em algumas épocas, certamente eram em número menor, porque o risco era grande e certamente a cobiça e o apelo ao consumo eram, igualmente, menores. Hoje, onde o peso e a medida dos homens e das mulheres está no que podem comprar, e a oferta é uma das coisas mais globalizadas de nosso tempo; não é difícil imaginar o estímulo velado e a força de atração de ser rato, entre os ratos, e de fugir dos gatos, como o diabo foge da cruz. Mas até a maior parte dos gatos perdeu os dentes e as unhas. Buscam conciliar o inconciliável e acreditam que a epidemia dos ratos é episódica e logo passará. Assim pensam... De acordo com as mídias, cada novo rato roubou mais do que os outros, já passados e esquecidos. Mas, quando o rato e seus comparsas são dos bons, conseguem bem mais do que os seus 'quinze minutos de fama'. As cifras são astronômicas, o ideal seria que houvesse lei que obrigasse suas representações em dólares, para não haver dúvidas no presente e no futuro do tamanho do estrago. Dizem os especialistas no combate à praga que não adianta montar ratoeiras, se o ambiente - as instituições, por exemplo - são estruturadas para a moradia dos ratos. Veneno só funciona por um tempo. Vacina, não existe. Eles voltam sempre... Por vezes, ainda mais fortes e comilões. Os ratos roem os ratos mortos, alimentam-se de carne pútrida ou em bom estado. Para eles, não há diferença. O impulso que os empurra é o da preservação da espécie. O sacrifício de alguns pode significar a vida dos outros. Talvez, a única coisa que os erradiquem ou controlem sejam mudanças estruturais. Aliás, não foi assim que muitas doenças foram vencidas! Os ratos que roem a roupa dos reis e dos povos das novas 'romas' também riem à toa. Mesmo quando apanhados, sabem, melhor do que ninguém, que a sobrevivência de sua espécie é um problema sistêmico. Em outras palavras, melhor do que armar ratoeiras, é discutir de que material é construído e de como é possível implodir o habitat da bicharada. Se isto, algum dia for conseguido, sobrará aos ratos o suicídio, a mais extrema clandestinidade ou o exílio. Caso contrário, o barulho surdo de cada ratoeira, tão alardeado pelas mídias, será apenas o aviso de que as estruturas das novas 'romas' correm o risco de ruir... A moral desta história e dos seus ratos é a mesma compartilhada hegemonicamente pelas instituições que os abrigam. O problema é que ninguém pode ou deve ver ou saber. Por fim, pedem-se desculpas aos ratos reais, mamíferos incríveis, por tomá-los como exemplo para explicar uma outra linhagem. Com todo respeito, mil perdões, pois os verdadeiros ratos têm suas razões, lutam como a maioria pela vida, só buscam comida, nada querem saber de luxo, poder e riqueza, a não ser em sonhos. |
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