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La insignia
17 de abril de 2002


Venezuela

A ação contra Chávez


__SUPLEMENTOS__
Golpe en Venezuela

Laerte Braga



Um dado curioso nos fatos que marcaram a Venezuela no final de semana e têm ampla repercussão em toda a conjuntura internacional, foi o comportamento dos meios de comunicação, sobretudo nos países latino-americanos.

A política norte-americana para a América Latina, no governo de Bush, é simples: é um extenso quintal, portanto não há com o que preocupar-se. Já está sob controle. Ou são governos dóceis como o do Brasil, o da Argentina, o do México, ou são exceções como Castro e Chaves. Esses, tratados a ferro e fogo.

A "Rede Globo" de televisão, algo como uma empresa oficial do capital no Brasil, exibiu, há cerca de um mês, uma série de reportagens em seu principal noticiário. "A Hora Oficial" - costumam chamar de "Jornal Nacional" - que, hoje se vê, preparando a opinião pública para o golpe.

Mostrou um país dividido, um Chaves que tentava fazer da Venezuela uma nova Cuba e, evidente, com imagens e opinião depreciativas sobre os dois governos. Foi uma das primeiras emissoras a noticiar o golpe - como se viu uma tentativa - e também a única a relacioná-lo com a realidade brasileira, buscando atingir candidatos a presidência da República, diferentes do ex ministro e senador José Serra. O candidato oficial. Foi simples o comentário: "é preciso ter cuidado para não se deixar enganar por promessas de candidatos que, eleitos, não poderão cumpri-las". O robô feminino que apresenta o dito jornal foi programado para ler a notícia no velho estilo maternal. Faz parte do processo de dominação.

Os principais jornais e as maiores redes de televisão da Venezuela estão pedindo garantias para o exercício da atividade jornalística, para a liberdade de informação, acusando o governo Chaves de tentar cercear esse direito. Foram advertidos pela SPI - Sociedade Interamericana de Imprensa - por terem saudado o golpe desde o primeiro momento.

Não é tão difícil assim discutir os limites da liberdade de imprensa. A meu juízo, nem existem limites. A informação, sobretudo num mundo como o nosso, é fundamental. Interpretar fatos, analisá-los ou dar opiniões, acaba sendo lícito, principalmente se for manifestação clara de opinião. São, no entanto, instrumentos do poder quando prestam-se a manipular a opinião pública, em qualquer lugar do mundo, até porque escondem os fatos reais e verdadeiros.

A imprensa venezuelana, ligada e controlada pelo capital, uma das elites mais atrasadas do mundo, não tem preocupações e nem escrúpulos com o fato jornalístico como "mercadoria", vá lá, principal dos meios de comunicação. Seguem à risca a máxima de um político brasileiro, o ex vice presidente José Maria de Alkimin: "o que importa não é o fato, mas a versão".

A "Globo" tem uma longa história de comprometimento com a mentira. Foi assim no tempo da ditadura militar; ao esconder as manifestações populares pela campanha das diretas; ao editar o debate Lula e Collor, em 1989, favorecendo o candidato neo liberal; ao esconder as manifestações pela renúncia de Collor; é assim ao sentar em cima de todo processo corrupto e entreguista do governo FHC, razão pela qual vai ao mais importante agente de fomento financeiro do Brasil, o BNDES - Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social - e pega 1 bilhão de reais. Mais que 400 milhões de dólares a guisa de aumento de capital.

v Foi fácil. Uma operação com requintes de chantagem explicita. Incensou Roseana Sarney, parceira na "Globo" do estado do Maranhão, deixou a moça a ver navios quando deferido o requerimento do empréstimo e transforma, diariamente, José Serra naquele capaz de conduzir o Brasil a um porto seguro. O deles, o do capital privado. Por essa razão, para salvar a maior empresa de comunicações do País, o Congresso, sempre de quatro, vai votar a lei que permite capital estrangeiro no setor.

Aos poucos se vai conhecendo a extensão da aventura de elites e setores das forças armadas venezuelanas. Conversaram com a CIA (a versão americana é que só houve conversa e não apoio). Obtiveram, em poucas horas o reconhecimento do "novo" governo. O silêncio do governo brasileiro até que a situação começasse a reverter e FHC saísse a tentar salvar sua biografia de "estadista" e "democrata".

E até o silêncio de Lula. A imprensa francesa e a brasileira noticiam que o candidato da " minha última chance" escondeu-se para não ter que falar sobre o assunto. Não queria que vinculassem-no ao presidente da Venezuela. Hoje, com a volta de Chaves consumada e fotos de Lula e Chaves nos principais jornais, diz que é diferente: "não sou como Chaves, pois represento estabilidade. A esquerda no Brasil amadureceu muito nesses anos todos".

Que esquerda? Que amadurecimento? O cara perdeu foi a vergonha. Dentre as muitas lições do golpe frustrado, algumas são de capital importância. Não se pode dissociar a tentativa de derrubar Hugo Chaves do resto da situação mundial. Não fosse a Venezuela o quarto maior produtor de petróleo do mundo e o segundo fornecedor dos Estados Unidos.

A significação do petróleo pode ser mensurada pela guerra no Oriente Médio. Os mais brutais massacres dos últimos tempos, desde os nazistas, cometidos por Israel, sob aval dos Estados Unidos.

O cerco, voltando a América Latina, a todo o conjunto de movimentos populares, sejam pacíficos como o MST, ou guerrilheiros como as FARCs, todos rotulados como terroristas, a nova terminologia do capital para seus adversários, através de bases militares em praticamente todos os países e da ação criminosa e assassina de polícias nacionais, como no Massacre de Eldorado dos Carajás, ou na prisão dos sem terra em Buritis, na fazenda dos filhos do "vice rei".

Um detalhe: o governo dos Estados Unidos comunicou ao gerente geral do Brasil que conseguiu os votos necessários para afastar o embaixador Bustanti da direção do departamento que cuida do controle de armas químicas, na ONU. E não há necessidade de muito tutano para compreender o porquê. Bustanti acredita que é preciso encontrar caminhos de paz e negocia inspeções no Iraque. Bush quer guerra e quer impor condições inaceitáveis a Saddam, para ter o pretexto. É só isso. A diferença entre a sanidade e insanidade. Entre o caráter decente e o pervertido.

Chaves não está seguro. Contraiu responsabilidades talvez maiores que seus projetos, muitos deles titubeantes. Sem uma definição clara e precisa de objetivos, senão gerais. É pouco. Para uma revolução é pouco.

O mundo, os governos gerenciais da América Latina e o governo matriz, dos Estados Unidos, não escondem uma perplexidade genuína, com a reação popular. Hoje não há dúvidas que foi quase literalmente espontânea. Convenceu militares e setores políticos por esse caráter. Pela percepção que nenhum governo golpista teria condições, se não a um preço muito alto em vidas, de sufocar as aspirações populares, mesmo que difusas e nem tanto organizadas, mas bem definidas.

Ou pela sofreguidão com que um baronete do petróleo, Carmona, a sede com que foi ao pote - reveladora do verdadeiro caráter das classes dominantes -manifestou-se: fechou o Congresso e a Suprema Corte (tentou).

De tudo isso e mais alguma coisa sobram dados para concluir pontos essenciais: o governo dos Estados Unidos estava envolvido através da velha forma: CIA; o governo brasileiro entrou na muda, tal e qual passarinho, sabia dos fatos e só veio a público negar apoio aos golpistas quando a volta de Chaves estava consumada. Lula pegou o roteiro errado e está estrelando uma comédia pastelão; se ganhar não representa, como está, conquista alguma.

A liberdade de imprensa não existe. Os meios de comunicação pertencem ao capital. Estão sob controle do capital. O que esconde-se no biombo dos espetáculos midiáticos, é apenas a informação deformada, mentirosa, de maneira deliberada. Rediscutir o papel da imprensa é fundamental. É justo um grupo econômico como a "Globo", no caso do Brasil, mentir, enganar, criar fatos que não existem; ou deturpar os que existem? Ou, na Venezuela, os principais meios de comunicação saudarem o golpe, em nítido apoio a movimentação das elites?

Isso é imprensa livre? Ou um ajuntamento de bandidos - os grupos econômicos - para fabricarem a realidade descrita por Guy Debord em "A Sociedade do Espetáculo " - ed. Contraponto, Brasil - ?

Ao falar em conciliação nacional, sem explicitar como, o presidente da Venezuela pode estar querendo ganhar tempo para organizar suas bases de apoio, espera-se, mas é lícito temer que esteja vacilando em transformar um processo reformista, avançado, mas reformista, num processo revolucionário real e efetivo. Os "pobres" da Venezuela mostraram que é possível expurgar as elites do poder e construir o "um outro mundo é possível", defendido no FSM - Fórum Social Mundial -.

Estão querendo transformar a América Latina, toda, num grande México. Com fossos e tudo, na fronteira. Os meios de comunicação - os grandes grupos, os que dominam - são cúmplices, pois são compráveis a qualquer hora e a qualquer momento. Ou desfrutáveis como costumam dizer alguns excelentes escritores nordestinos. No duro mesmo são parte dos grandes olhos do capital postos sobre todos nós. Nem Huxley e nem Orwell estavam errados em suas previsões. Que, na verdade, foram advertências. Os arranjos da sinfonia desafinada do golpe foram orquestrados pela tumurosa cumplicidade de governo dos EUA; gerência da província do Brasil; meios de comunicação de massas do capital e, militares com eterna vocação para salvar a "pátria".



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