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La insignia
24 de novembro de 2002


Não tropece na língua!

Reflexões sobre «vós»


Maria Tereza Piacentini (*)
Língua Brasil, novembro de 2002.


A estudante Amélia, de São Paulo/SP, faz a seguinte pergunta: "Por que nos cursos de português não se usa mais o pronome vós? Como usar vós, o que significa vós?".

Precisamos começar lembrando que temos três pronomes pessoais no singular e três no plural. A primeira pessoa é a que fala: eu e nós. A segunda é a pessoa com quem se fala: tu e vós. A terceira é a pessoa de quem se fala: ele/ela e eles/elas. Ocorre que nós brasileiros deixamos de lado "tu-vós" em favor de você e vocês, que são pronomes de tratamento tanto quanto "o senhor, a senhora, vossa senhoria e vossa excelência".

TU é ainda usado em algumas regiões do Brasil (eu mesma tuteio a maioria das pessoas com quem converso), mas o seu correspondente no plural - VÓS - não é jamais falado neste país. Seu uso ficou restrito ao âmbito religioso e literário, podendo ser encontrado ainda em escritos de natureza bastante formal como um discurso, por exemplo. É por essa raridade que os livros didáticos não incluem mais este pronome na conjugação verbal, Amélia. Mas é interessante saber como ele funciona, ao menos como "conhecimento geral".


Vós singular

Apesar de pertencer à categoria plural, vós pode ser usado em relação a uma só pessoa. É o caso, por exemplo, da Divindade: Pai Nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome...

Também é muito comum os fiéis se dirigirem a Deus com a segunda pessoa do singular, sem que isso signifique menor respeito ou reverência. Assim sendo, a mesma oração pode ser feita com o uso do pronome "tu", mas neste caso é preciso observar a mudança dos verbos, naturalmente, e demais pronomes: Pai Nosso, que estás no céu, santificado seja o Teu nome...


Vós plural Para ilustrar o uso do pronome "vós" como segunda pessoa do plural, trago um trechinho do poema VERSOS, de Cruz e Sousa, escrito em 1881 na então Desterro, hoje Florianópolis:

Eia, jovens, avante!
Ser artista é brilhante,
Trabalhar é uma lei!
[...]
Não temais os pampeiros
Sois gentis brasileiros
Deveis pois progredir!
Quem vos traça na história
Vossa augusta memória
É um deus - o Porvir!

Do mesmo Cruz e Sousa destaco o poema O ASSINALADO para demonstrar que ele usava "tu" sempre que se dirigia a uma só pessoa, reservando "vós" para o coletivo (no poema acima, vimos que se tratava dos jovens):

Tu és o louco da imortal loucura,
o louco da loucura mais suprema.
A terra é sempre a tua negra algema,
prende-te nela a extrema Desventura.
Mas essa mesma algema de amargura,
mas essa mesma desventura extrema
faz com que tu'alma gema
e rebente em estrelas de ternura.
Tu és o Poeta, o grande Assinalado
que povoas o mundo despovoado,
de belezas eternas, pouco a pouco.
Na natureza prodigiosa e rica
toda a audácia dos nervos justifica
os teus espasmos imortais de louco!


(*) Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do Instituto Euclides da Cunha - www.linguabrasil.com.br



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