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La insignia
20 de janeiro de 2002


Vagas para todos


Marco Aurélio Nogueira
Jornal da tarde. Brasil, 17 de janeiro.


Em dezembro passado, os reitores das três universidades estaduais de São Paulo envolveram-se numa polêmica para ver como seriam divididos os recursos suplementares de R$ 50 milhões, disponibilizados pelo governo do estado para a criação de novas vagas no ensino superior.

A USP e a Unicamp sentiram-se prejudicadas pelos deputados estaduais, que, ao ajustarem a suplementação ao orçamento de 2002, concederam mais da metade dela à Unesp. Os reitores alegaram que a verba adicional deveria ser dividida da mesma maneira que é feito o repasse do ICMS: 5,2% para a USP, 2,3% para a Unesp e 2,1% para a Unicamp. Os deputados raciocinaram de outro modo: já que as verbas eram suplementares e tinham fim determinado, deveriam ser repartidas conforme as propostas concretas. Como a Unesp propôs um plano mais adequado, coube a ela a maior parte dos recursos.

A polêmica esconde uma questão crucial: devem as universidades públicas expandir ou não suas vagas e as modalidades de cursos que oferecem? Se sim, como fazer isso: homeopaticamente, isto é, de modo módico e cauteloso, ou agressivamente, com disposição para avançar com impetuosidade?

As universidades estaduais paulistas oferecem um número muito reduzido de vagas. Há uma fantástica demanda reprimida. Inscrevem-se em seus vestibulares cerca de 200 mil jovens, e as vagas são apenas 17 mil. Nelas, estudam 100 mil estudantes, um número pequeno diante do tamanho da população e das necessidades educacionais do estado.

Das três universidades, a Unesp é a que se encontra em posição mais particular. É a única que está claramente voltada para o atendimento das diversas regiões do estado. Sua estrutura está distribuída espacialmente e é, por isso mesmo, mais cara. Com 32 mil alunos (graduação e pós) e 4.200 docentes, a Unesp emprega 9 mil funcionários, ao passo que a USP, com 56 mil alunos e 6.600 professores, funciona com 14 mil funcionários. A Unicamp, por sua vez, apesar de ter bem menos alunos (cerca de 21 mil) e professores (1.800), mostra-se bem mais avantajada em número de funcionários (8 mil). São discrepâncias que mostram a complexidade do quadro universitário paulista e que têm servido de base para justificar, quantitativamente, a divisão orçamentária entre as três instituições. Ajustes terão de ser feitos em todas elas.

A reitoria da Unesp propôs uma corajosa ampliação de cursos e vagas. Inaugurou um novo campus em São Vicente, dispõe-se a constituir em cinco anos mais 7 novas unidades (em Registro, Sorocaba, Itapeva, Ourinhos, Tupã, Dracena e Rosana) e abriu mais de 500 novas vagas já para 2002. Nos vestibulares deste ano, está oferecendo 6 mil vagas (a USP oferece 8 mil e a Unicamp 2,5 mil).

Evidentemente, há diversos pontos em aberto. Seria um equívoco se as universidades públicas, em nome da defesa de seu patrimônio intelectual e material, que é riquíssimo, postergassem sua expansão e diversificação. Seria ruim, também, se crescessem de modo burocrático ou sem rumo claro. A sociedade não suportaria tal postura e migraria para as escolas particulares. Mas seria igualmente desastroso se a ampliação se fizesse em detrimento da valorização e recuperação daquilo que é a essência da vida universitária. Faltam professores na USP, na Unesp e na Unicamp. Os salários são baixos e a infraestrutura deixa a desejar em muitos locais. Não é possível crescer na graduação sem fortalecer a pós-graduação e incrementar a pesquisa. É preciso andar pisando em várias canoas.

A ampliação de vagas já entrou na agenda das universidades. Mas a operação não será simples. Além de depender do apoio das bases universitárias e da devida sustentação financeira, ela terá de combinar diversos caminhos: novas unidades, cursos seqüenciais, ensino à distância, redefinições curriculares. E terá de ser posta em prática num quadro cheio de tensões, desconfianças e insatisfação.

O futuro passa pela habilidade que vier a ser demonstrada no trato desta questão. No mundo de hoje, e diante dos déficits conhecidos, não há como recuperar, consolidar e melhorar o que existe nas universidades sem um salto para frente em termos de novas vagas e especializações. A partir de agora, a comunidade acadêmica terá de se posicionar com audácia, discernimento e inteligência política. Afinal, somente ela, com os atributos que lhe são próprios, pode fornecer os parâmetros mais adequados para a expansão de que se necessita.



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