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La insignia
18 de janeiro de 2002


Rádio Amazônia: facilitando a comunicação entre os povos


Marcelo Medeiros
Rets. Brasil, janeiro de 2002.


Os Yekuana são um povo indígena que vive nas beiras de rios amazônicos do Brasil e da Venezuela, em território Yanomami. Uma de suas principais características é o talento para a navegação, que lhes permitiu estabelecerem-se em diversos pontos da floresta. A comunicação entre as tribos sempre se deu por meio de canoas construídas com madeira, assim como a interação entre elas e o resto do mundo. Ao longo do tempo, as formas de diálogo utilizadas pelos nativos foram mudando e incorporando elementos dos povos com os quais faziam contato.

Um exemplo disso é que desde dezembro eles usam o rádio para entrar em contato com a capital do estado onde estão localizados no Brasil (Roraima), órgãos do governo, organizações de ajuda e seus parentes do país vizinho. Esse é o resultado de uma iniciativa da ONG Amigos da Terra , de instalar rádiotransmissores em comunidades isoladas da Amazônia para facilitar o contato delas com o resto do mundo. Além dos índios, são beneficiadas outras populações tradicionais da floresta, como seringueiros, castanheiros, pequenos cultivadores, pescadores e ribeirinhos. O projeto começou em 1991 e desde então já instalou 228 estações de rádio em diversas comunidades amazônicas.

Na maioria dos casos, organizações comunitárias e lideranças locais vão à Amigos da Terra pedir ajuda para a instalação de um equipamento de radiofonia. Um projeto formal é então elaborado, contendo as informações necessárias para o pedido de concessão à Anatel e a instalação dos equipamentos, assim como uma missão preparatória com os líderes da localidade para explicar-lhes o uso do rádio. No caso dos Yekuana, a Associação de Pais e Mestres da Escola Estadual Apolinário Gimenes foi a responsável. Todo o custo, no primeiro ano de funcionamento da rádio, fica por conta da Amigos da Terra. O gasto é relativamente baixo: no caso dos indígenas foram gastos por volta de R$ 25 mil, sendo que R$ 15 mil foram em equipamentos necessários para o funcionamento - como antena dipolo, placa solar de geração de energia, bateria e a aparelhagem de radiofonia. O restante foi gasto basicamente com passagens aéreas - o que encareceu bastante a instalação pois o local é de difícil acesso - e treinamento de pessoal. Para legalizar a transmissão ainda é necessário pagar a taxa de instalação (R$ 850 a cada dez anos) e de uso (R$ 80 anuais) à Agência Nacional de Telecomunicações. Aos nativos cabe apenas zelar pelo equipamento e fazê-lo funcionar. A partir do segundo ano eles são os responsáveis pelo pagamento das taxas.

Após a instalação, lideranças das tribos - geralmente professores e agentes de saúde - são treinadas para utilizar as máquinas. A estação principal fica em Boa Vista e as outras três transmissoras ficam em aldeias no município de Amajari (RR), todas num raio de 500 Km da central. No lado brasileiro, são cerca de 400 yekuana. A comunicação dos técnicos com os índios, quando não é feita em português, é sempre acompanhada por tradutores.

De acordo com Marcelo Piedrafita, coordenador do programa, o objetivo é fortalecer os canais de registros e informações das localidades atendidas. Isso serve para avisar ao Ibama de queimadas descontroladas, pedir ajuda para problemas de saúde e fiscalizar a demarcação de terras indígenas. "É um instrumento valioso de comunicação, que serve para manter a saúde dos atingidos e vigiar suas terras. Além disso, em muitos casos, é o único meio de comunicação eficiente e rápido, um elo de ligação imediata", diz.

O rádio serve também para fortalecer os laços culturais, de parentesco e políticos dos indígenas. Os Yekuana venezuelanos há 10 anos já possuem rede de rádio semelhante à que agora foi instalada por aqui e isso tem servido para facilitar o contato entre eles. "Quando um xamã local não consegue curar alguém, o rádio serve para que ele possa entrar em contato com o xamã de outra tribo e trocar procedimentos ou mesmo chamá-lo para fazer o ritual necessário", conta Piedrafita. Da mesma maneira, famílias separadas ao longo do tempo encontram um meio de se reencontrar. Outro ponto a ser destacado é que os contatos são feitos na língua nativa, o que a fortalece.

Apesar dos rádios amadores estarem localizados em uma região de conflitos freqüentes entre os habitantes e invasores de terras e fazendeiros, não há registros de problemas com a instalação. A legitimidade das organizações que têm desenvolvido esse trabalho é um dos fatores para essa paz, além do fato do programa estar associado a políticas do Estado na área como as ações do Ibama e da Funai.



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