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22 de setembro de 2007

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Iberoamérica

A diáspora brasileira


Luis Carlos Lopes
La Insignia. Brasil, setembro de 2007.

 

Existem múltiplas diásporas no mundo atual. Inúmeros povos buscam refúgio ou uma vida melhor fora de seus países de nascimento. Em termos numéricos, as migrações massivas da África, da América Latina, do leste europeu e de alguns países da Ásia chamam a atenção. Milhões trocam de pátria, idioma e convivência cultural. Vão viver onde existe a possibilidade de trabalho, sonhando com melhores dias. Mais do que em qualquer outra época, o contexto da globalização é o da existência de inúmeros casos de migrações massivas.

Os destinos preferenciais destas migrações são bem conhecidos. Europa ocidental, os Estados Unidos, o Canadá, o Japão e a Austrália lideram a disputa pelo maior escore de países de acolhida em cada região do planeta. O destino de muitos depende de inúmeros fatores, que variam enormemente de caso para caso. Obviamente, conseguem ficar nestes países porque existem dispositivos legais ou semilegais que facilitam as coisas.

Os países de acolhida, também 'escolhem' os imigrantes, de acordo com seus interesses e necessidades. Mesmo os imigrantes ilegais, só ficam porque há trabalho e interesses pelas suas permanências. Os critérios de seleção de imigrantes formatados por alguns países lembram os antigos princípios da eugenia, na busca dos mais aptos e nos que quase nada há o que investir. Buscam mão-de-obra altamente especializada e/ou trabalhadores braçais para preencher as lacunas de suas economias.

Na Europa, países que mantiveram colônias na Ásia, na África e na América recebem milhões de imigrantes vindos de lá. Normalmente, eles escolhem seus países de adoção a partir da língua e da existência de núcleos antigos de imigração que facilitam a chegada e a instalação. Na Ásia, o Japão, por exemplo, vem recebendo milhares de origem brasileira, à busca de trabalho e da formação de uma pequena poupança, a ser investida no Brasil. Neste caso bastante particular, os imigrantes são descendentes dos japoneses que vieram para o Brasil no passado. Os Estados Unidos e o Canadá são destinos de emigrantes saídos de toda parte. Predominam os vindos da América Latina, dos países mais pobres da Ásia e os originados da África, sobretudo os árabes e os povos da África Central. Em todos os casos, contatos anteriores, derivados da política e da economia, a existência da proximidade geográfica, dentre outros fatores, explicam o destino de muitos.

O Brasil é hoje um país de emigração. Continua, contudo, recebendo imigrantes, como no passado, gente vinda de toda parte. Mas, o número dos que saem (emigrantes) é bem maior do que em qualquer época de nossa história. Calcula-se que cerca de quatro milhões ou mais de brasileiros foram tentar a vida no exterior nos últimos vinte anos. Alguns foram e jamais voltaram. Outros, por diversas razões, voltaram espontaneamente ou foram obrigados a retornar. Dos que retornam, alguns devem se radicar definitivamente no Brasil. Outros retornam ao mesmo destino anterior ou para uma nova tentativa de sobreviver em região desconhecida.

A diáspora brasileira tem, como as demais, pontos de concentração precisos. Os brasileiros vão em massa para os EUA e para a península ibérica. Além destes dois pontos, a já comentada emigração para o Japão é um caso particular e bastante problemático. Entretanto, são encontráveis em pequenos grupos espalhados por todo o planeta Terra. Não é difícil encontrar brasileiros, praticamente, em qualquer país. Eles lá estão pelas mais diversas razões.

A presença desta diáspora é um fenômeno novo que precisa ser compreendido como uma das dimensões do atual processo de globalização. A economia mundializou-se, propondo o fim da antiga possibilidade de desenvolvimento local autônomo e autosuficiente. O capital, que nunca teve pátria, percebeu as vantagens de viajar na velocidade das redes de comunicação e dos computadores ligados ao mercado financeiro internacional. É mais lucrativo comprar insumos onde é mais barato, produzir nos países de salários mais baixos e vender no mercado mundial. Também, é um bom negócio empregar imigrantes no chamado primeiro mundo, nas condições que se conhece através das mídias e dos depoimentos de retornados.

Os migrantes são peças destas engrenagens, buscam sobreviver nas frestas desta nova ordem mundial. Tendem a ir para os centros que os acolhem, interessados no que ganharão com isto. Vão porque ainda faltam empregos, salários dignos ou não se está de acordo com a ordem interna de seus países de origem. Existe gente que migra porque não possui meios de se profissionalizar e conseguir um emprego melhor. Normalmente vão para o emprego precário no exterior, ganhando bem mais que o mesmo tipo de emprego daria no seu país de origem.

Tudo isto gera um fenômeno sociocultural e político novo, que alguns já denominaram como "estado imigrante", composto pelos grupamentos de brasileiros espalhados pela face da Terra. Eles vêm buscando reconhecimento e alguma espécie de ajuda da pátria-mãe. Não devem ser abandonados porque fugiram dos seus países. Tiveram razões de sobra para isto. Além do mais, têm o direito de ir e vir pelo mundo afora e de experimentar a vida por toda parte e tirar suas próprias conclusões. Alguns conseguem ter uma vida boa. Outros são bem-sucedidos financeiramente, mas reclamam que lhes falta algo que não conseguem compreender. Outros, no máximo conseguem algum dinheiro à custa de muito esforço e sofrimento. Todos são brasileiros, mesmo que cidadãos do universo globalizado. Precisam superar diferenças, se abraçarem e se organizarem no exílio especial de nossos dias.

 

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