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11 de novembro de 2007

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Cultura

Um marco para a humanidade


Roberto Freire (*)
La Insignia. Brasil, novembro de 2007.

 

Em várias partes do mundo, com mais destaque para a Rússia, comemoram-se hoje [7 de novembro] os 90 anos da Revolução Russa, já reconhecida por historiadores e pensadores de diversas origens e escolas como o maior acontecimento político e social do chamado breve século XX. Despojada de qualquer traço ideológico, ou mesmo de paixões que costumam tisnar fatos históricos, ela se transformou em tema obrigatório quando se quer analisar a aventura humana sobre a face da Terra, na perspectiva da bem-aventurança, da paz, das liberdades e da justiça social.

Pensar o mundo futuro e não levar em consideração o feito dos revolucionários russos, liderados entre outros por Lênin, além da manifestação clara de preconceito para com as classes sociais subalternas, seria uma fraude.

Tal como outros grandes acontecimentos que mudaram a rotina de milhões de pessoas, sistemas econômicos e governos -estão nesse rol a Revolução Francesa e a Revolução Americana, só para ficarmos nos últimos três séculos -, a Revolução Russa não foi apenas uma resposta a uma formação social-econômica apodrecida, representada na Rússia pelo feudalismo czarista, mas principalmente a manifestação de novas possibilidades de intervenção humana nos complexos processos de construção de sociedades mais modernas, desenvolvidas e com padrões de justiça mais elevados. Também nela, ao invés dos canhões e da dureza dos conflitos e tensões, troaram mais alto as vozes e os cânticos dos espíritos transformadores e rebeldes que fazem a humanidade avançar.

O que houve de equívoco e de lixo ideológico político, muito disso subproduto de idéias e conceitos autoritários que estiveram presentes à marcha revolucionária, e depois por injunções da burocracia pesada e sem cor que nortearam sucessivas experiências administrativas do regime soviético, a história já se encarregou de sepultar ou de apontá-los. Ficam para as atuais gerações e as que virão o que houve de generoso da grande iniciativa dos revolucionários de 1917, o exemplo de que mudanças profundas são possíveis, a certeza de que as grandes massas podem ser atores de verdade nos processos de transformação, a convicção de que a evolução das forças produtivas - aí incluídas a ciência e a tecnologia - demanda sempre padrões novos de organização social e de distribuição de riquezas. Enfim, sistemas e regimes envelhecem, o novo sempre se levanta para empurrar as utopias à frente.

Independentemente do desfecho da Revolução Russa no cenário soviético e da própria Rússia, os benefícios que ela trouxe para aquela região são inegáveis - modernização, padrões altos de desenvolvimentos, saltos gigantescos nos planos educacional, cultural e científico. Abriu espaços para permitir a emergência no cenário mundial de novos centros econômicos e políticos, contribuiu para questionar o eurocentrismo e também a idéia insana de Império, hoje assumida com muita clareza pelos Estados Unidos. Inscreveu com sangue e luta o seu nome na jornada contra o nazi-fascismo, fato que o chamado Ocidente tenta empanar e jogar para baixo do tapete da história.

A Revolução Russa moldou pensamentos, obrigou o capitalismo a reconhecer a força e o poder da classe operária em todos os cantos do mundo, deu novos parâmetros à própria social-democracia, responsável por grandes realizações sociais e políticas sobretudo no continente europeu. Com acertos e erros, nasceram de sua força moral outros movimentos e revoluções que moldaram o mapa político na Ásia, na África e na América.

Mais importante, por ela própria e sempre relacionada às formulações críticas de Marx, produzidas no século XIX, a Revolução Russa deixou suas marcas profundas no pensamento humano contemporâneo em todas as áreas - da filosofia à medicina, da física à economia, das ciências sociais ao ambientalismo, da música à arquitetura, da poesia às artes plásticas. Além do mais, emulou discussões sobre direitos e protagonismos das mulheres, dos negros, das minorias, das crianças, dos velhos, enfim, consolidou o princípio de que as sociedades não podem ser organizadas com cidadãos com mais direitos do que outros.

Como todas as demais grandes revoluções, a Revolução Russa é única e está datada, pois situa-se no contexto das grandes transformações ocorridas no século XX, as mais amplas de toda a história da humanidade. E ela continua a agir entre nós naquilo que representa de utopia e possibilidades.

A revolução de 7 de novembro de 1917, que juntou em vaga poderosa operários, intelectuais, camponeses e marinheiros, jamais vai se transformar em um quadro de parede, como a Itabira imaginada por Carlos Drummond de Andrade. Ela sempre estará viva nos corações e mentes de todos os que acreditam em um futuro melhor.


(*) Roberto Freire é presidente nacional do PPS.

 

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