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La insignia
19 de julho de 2007


Brasil

Síndrome de culpa


Luís Carlos Lopes
La Insignia. Brasil, julho de 2007.


Há muita gente de ambos os sexos que se acha culpada por muita coisa. Pensa que está nas suas mãos a solução de problemas sociais complexos ou, mesmo acredita, que alguns dos males brasileiros são de responsabilidade de todos. A síndrome de culpa é uma doença que tem origens antigas, remontando a uma sociedade mais comunitária - pré-capitalista - que desapareceu na curva do tempo. Vincula-se a várias religiões e a preconceitos urdidos na tradição cultural conservadora. Este mal estar é encontrável na conversação cotidiana, nas grandes e nas pequenas mídias. Vê-se tal sentimento à direita e à esquerda. Obviamente, existe quem tem culpa de fato e os que a imaginam ou são convencidos por alguma fonte de poder de que fatos deploráveis são de sua responsabilidade.

Neste modo de ver simplificador, 'todos' seriam culpados pela criminalidade, miséria etc. Estes fatos sociais horrorosos ocorreriam porque as 'pessoas' nada fariam para impedir que eles se eternizassem. Os brasileiros seriam culpados por não saber votar, por escolher mal seus representantes no legislativo e no executivo. A corrupção existiria porque 'todos' a aceitariam ou a praticariam. Há quem, à direita, que chega a dizer que a sociedade brasileira é corrupta, isto é, o que a maioria faria seria exatamente o mesmo. Conseguem, deste modo, suas rápidas auto-absolvições e o usufruto sem mácula dos frutos de suas ações. É confortante pensar assim. Paradoxalmente, se todos são culpados, ninguém de fato é passível de ser responsabilizado. Culpar a todos é uma forma de tentar a absolvição na terra, porque nada se sabe do que acontecerá após a morte. O mais provável é que a morte seja a seqüência lógica da vida, por mais que a existência de indivíduos isolados termine como o apagar de uma vela.

Não se pode conter a irritação frente a tal diluição dos sujeitos responsáveis pela existência humana. Não é verdade que todos sejam culpados, por exemplo, do desemprego ou da existência terrível do trabalho escravo ou do feito em péssimas condições técnicas e humanas. Os responsáveis por estes escândalos trágicos são os que têm poder de dar ou de tirar empregos. As pessoas comuns das classes pobres e das classes médias não têm este poder, portanto, não são responsáveis por estes fatos. Também, não têm nada a ver com a existência da criminalidade ligada à miséria e nem com a dos políticos e funcionários (corrupção de Estado). Ao que se sabe, a maioria dos brasileiros, que têm empregos ou pequenas rendas, vive do que ganha honestamente e não toma qualquer decisão sobre estas questões, como também nada ganha além do que é possível dentro dos seus limites econômicos e sociais. Podem até ser, em muitos casos, conservadores e omissos. Mas não é isso, o que provoca os problemas citados.

Os patrões da cidade e do campo, os lobistas ligados às grandes empresas e seus executivos são castas especiais da sociedade brasileira. Não se confundem ou se misturam aos assalariados do setor público e com os assalariados e pequenos rentistas do setor privado. Menos ainda, com a multidão de subempregados e desempregados do país. Os corruptores, sempre esquecidos, agem e pensam de modo particular. Para eles, o Brasil é um negócio e tudo tem seu preço. Trabalham com as cotações de cada consciência em poder de mando. Governam de modo indireto, comprando decisões, votos e favores. Suportam economicamente, outrossim, os problemas pessoais de seus aliados que estão no papel da corrupção passiva. Estão, há muito tempo, presentes no Estado brasileiro, existindo como uma sombra do poder governamental. São o verdadeiro câncer da política brasileira. Quase invisíveis e, quase sempre, impunes, levando sempre a melhor parte.

Curiosamente, esta gente é quase totalmente impune. Corruptos, no Brasil, são os que estão no Estado. Os que estão fora, mesmo que apareçam nas investigações, são poupados de maiores constrangimentos. Em alguns casos, chegam a ser presos e soltos rapidamente, tão rápido quanto o tempo de serem esquecidos, por efeito de suas relações e poder de sedução simbólica e, sobretudo, material. Se eles são muito poderosos, a prisão não será jamais o seu lugar. Há sempre um jeito de compor a situação e evitar o vexame. A justiça não tem qualquer pejo de se adaptar a cada circunstância e proceder de acordo com as normas acertadas no consenso com as elites do país. A flexibilidade da lei e do poder público são impressionantes, quando se trata de gente com dinheiro, fama, cor branca e poder. Já caiu no esquecimento a idéia da CPI (comissão parlamentar de inquérito) dos corruptores, uma das razões para tal foi que, possivelmente, teria sido necessário construir novas prisões e abrir novas varas judiciais.

A culpa no sentido religioso não existe no mundo concreto. O que é real é a responsabilidade de classes e castas nos problemas do país. Não é menor a responsabilidade do Estado, aqui entendido como uma organização usada para ordenar a sociedade, de acordo como os interesses mais fortes e em posição de dominação. Neste sentido, eles são 'culpados' por não proporem soluções efetivas das mazelas brasileiras. Não desejam dividir renda. Não querem construir uma sociedade democrática efetiva, baseada no diálogo e na busca de solução para os problemas mais graves do país. O que querem é se beneficiar do caos. A criminalidade e a miséria extrema são vantajosas, do ponto de vista empresarial e, por vezes, do governamental. Permitem o aumento dos gastos com a segurança pública e privada. Movimentam a economia, rendendo lucros impressionantes, por meio da compra e venda de produtos e de serviços ligados à questão da segurança. Fazem com que o Estado surja como paladino da lei e da ordem almejada pelos conservadores e pelas pessoas comuns.

Quando a 'culpa' é socializada, a 'absolvição' também o é. Produz-se a catarse, isto é, a paralisação do pensamento. Tudo fica como está. Segundo Guido Mantega, a dívida externa está praticamente paga, com o acúmulo recente e incrível das reservas cambiais. De acordo com mesmo ministro, a dívida interna está sob controle e em baixa, devido a nova política de juros. Mesmo assim, continua-se com a renda concentrada em poucas mãos e sem a divisão esperada através dos mecanismos tradicionais já existentes e de outros a serem inventados. Se a economia vai tão bem, porque as pensões de baixo valor da previdência privada (INSS) e pública não são reajustadas para cima? Por que não se incentiva o crédito popular a juros negativos? Por que não se faz uma reforma agrária definitiva, corrigindo-se um problema de cem anos de existência e fixando-se o homem no campo, evitando-se o inchaço urbano? Por que não se faz uma política de controle da natalidade, esquecendo o conservadorismo papal, e lembrando que o modelo de governo brasileiro é de uma república laica? Por que o Estado não distribui mais empregos, principalmente para os jovens mais pobres? Por que não se obrigam as empresas públicas e privadas a fazerem o mesmo? Por que não se aumenta substantivamente o salário mínimo, que é o principal indexador dos salários brasileiros? Por quê?



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