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6 de dezembro del 2007

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Sociedad

A inteligência imensa dos chimpanzés


Urariano Mota
La Insignia. Brasil, dezembro de 2007.


A notícia correu as redações de todo o mundo, esta semana. Cientistas japoneses... melhor copiar, para evitar qualquer dúvida:

"Chimpanzés batem humanos em exercício de memória
Chimpanzés já demonstraram que são parecidos com os seres humanos em vários aspectos culturais -eles disputam poder, são altruístas, transmitem conhecimento. Agora eles mostraram que podem ser ainda melhores que nós, ao menos quando o assunto são números.
Estudo publicado na revista "Current Biology" mostra que eles são capazes de lembrar com "extraordinária precisão" a ordem de números arábicos. Em um teste de memória, animais de até 5 anos bateram um grupo de estudantes universitários. Em um dos exercícios, chimpanzés e humanos foram apresentados brevemente a vários algarismos, de 1 a 9, dispostos em um monitor com tela sensível ao toque. Logo depois os números eram então substituídos por quadrados brancos. O desafio era lembrar qual número aparecia em qual localização e tocar os quadrados na ordem correta.
Em geral os chimpanzés jovens foram mais rápidos, no confronto com os adultos. O campeão foi Ayumu, que manteve o mesmo desempenho de acertos, 80%, independentemente do tempo de exposição aos números. O acerto humano caia pela metade quando a observação aos algarismos era de décimos de segundo".

Como vêem, os jornalistas escrevem com uma ligeireza incapaz de ser imitada por qualquer símio. Notem, já no primeiro parágrafo: "Agora eles", os chimpanzés, of course, "mostraram que podem ser ainda melhores que nós, ao menos quando o assunto são números". Não sei se o analfabetismo científico se tornou uma praga em todos os hemisférios cerebrais dos jornais. Isso porque os despachos de agências noticiosas confundem a sucessão, a contagem de 1 até 9, com a própria capacidade humana de compreender universos maiores que essa contagem. Não sei, a evolução humana da matemática nos perdoe, mas ... não compliquemos. Adiante, porque em outra agência a derrota humana foi bem mais eloqüente:

"Memória do chimpanzé é melhor que a do homem
TÓQUIO (AFP) - Os chimpazés jovens têm uma memória extraordinária, muito superior a dos humanos adultos, segundo uma pesquisa científica japonesa publicada nesta terça-feira...".

Não sei se o racional, supondo-o assim, que escreveu o título acima, conseguiu ler ou, menos, ou mais, a esta altura não sei, não sei se o autor do título imagina que exista uma obra chamada Em busca do tempo perdido, a melhor coisa que já se escreveu sobre a memória até hoje. Um pouco menos, digamos então: não sei se os jornalistas nas agências de notícias desconfiam que a memória humana venha a ser um pouco mais complexa que o recordar uma sucessão numérica em uma tela. Que ela, memória, alcança a história, não exatamente a historinha que periodistas contam todos os dias, mas uma História que vai além e aquém de um teste em Tóquio.

Mas não compliquemos, porque, nesse particular de alumbramento diante das capacidades cognitivas dos macacos, o cientista-chefe não lhes ficou atrás, dos jornalistas, devo acrescentar. Assim escrevo porque assim se expressou Tetsuro Matsuzawa, o pesquisador de surpreendente inteligência: "Ninguém poderia imaginar que chimpanzés - chimpanzés jovens, de 5 anos de idade - tivessem uma performance melhor que seres humanos em tarefas de memorização". Ninguém, vírgula, Doutor Tetsuro. A julgar pela qualidade da notícia, os chimpanzés já imaginavam. Esperavam apenas que algum símio o proclamasse.