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22 de agosto del 2007

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Internacional

Quando a primavera se tornou inverno


Tiago Barbosa Ribeiro
Kontratempos / La Insignia. Portugal, agosto de 2007.

 

Neste mesmo dia, 21 de agosto de 1968, as tropas do Pacto de Varsóvia cruzaram as fronteiras da Checoslováquia para esmagar a Primavera de Praga e o ciclo de liberalização política -o "socialismo de rosto humano"- iniciado por Alexander Dubcek. Tal como fizeram em 1956 com a Revolução, os dirigentes comunistas não cederam um milímetro e impediram qualquer hipótese de democracia no Leste Europeu.

Mas a invasão de Praga e a violenta repressão que se seguiu marcou uma viragem fundamental, num período em que a Paris das barricadas de 68 se afirma como bem mais próxima da resistência ao invasor comunista do que com as palavras mecânicas de "igualdade" totalitária de Moscovo. Até na dimensão estética e iconoclasta isso se faz sentir, com a juventude de Praga a mudar os sinais de trânsito para confundir os tanques comunistas que entravam na cidade.

Na realidade, embora então não o soubéssemos, o estrondo com que caiu a Primavera de Praga abalou as sólidas fundações simbólicas da URSS. Em certo sentido, o significado de Praga foi mais determinante até do que os gulags e todo o aparelho totalitário de Lenine, Estaline e sucessores. Em 1956, Sartre, Edgar Morin e Italino Calvino deixaram de ser compagnons de route dos comunistas. Depois de 1968, isso massificou-se. Assim, ambas as datas devem ser entendidas numa perspectiva diacrónica.

Nas décadas seguintes a Praga, entre 1970 e 1980, o comunismo regrediu como nunca antes desde 1917 na sua capacidade de se sustentar como o oráculo da história e nunca mais conseguiu atrair uma importante camada da população onde podemos incluir intelectuais, académicos, jovens universitários, etc., que até meados da década de 1960 permitiram ao comunismo internacional manter uma vasta sombra de "validação moral" no interior das esquerdas ocidentais e, de uma forma geral, no universo da produção de ideias e de pensamento. As revoltas de 1956 e 1968 foram por isso degraus que aceleraram a escada de 1989, contribuindo para mortificar o sistema de valores do comunismo. Trinta e nove anos depois de Praga, é essa a sua maior conquista.


Porto, 21 de agosto de 2007.

 

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