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16 de agosto del 2007

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Entrevista com Ivy Judensnaider

A pesquisa e o trabalho em grupo


Arscientia / La Insignia. Brasil, agosto de 2007.

 

Aproxima-se o segundo semestre, data para a entrega da maioria dos TCCs dos mais diversos cursos superiores. Os trabalhos de conclusão, ou monografias, variam em função de muitos fatores: alguns são realizados em grupo, outros individualmente; alguns envolvem a realização prática de certas tarefas (criação de agências-modêlos ou empresas-júnior), outros apenas a coleta de dados secundários e bibliográficos, ou estudos de casos. A arScientia inicia agora uma série de artigos e entrevistas sobre o tema com a profa. Ivy Judensnaider. Economista, mestra e doutoranda em História da Ciência, ela orienta alunos em projetos de Trabalho de Conclusão de Curso há mais de uma década.

arScientia: Para que fazer um TCC se é tão mais fácil comprar um?

Ivy Judensnaider: (risos) Que pergunta! Mas, vamos lá. Em primeiro lugar, por que é crime. Comete crime quem compra o trabalho, e comete crime quem vende o trabalho. É uma situação bem diferente de se contratar um revisor, ou um orientador auxiliar que acompanhará o trabalho do grupo, e que são procedimentos legítimos que agregam valor ao trabalho de TCC. Em segundo lugar, por que é um desperdício. Quer dizer, mesmo que não se configurasse um crime, não valeria a pena. O que é um TCC? È uma oportunidade, e única em alguns casos, de se desenvolver uma pesquisa de fôlego, durante um determinado tempo, sobre um tema da área de interesse do aluno. É a chave de ouro do curso de graduação, ou de pós. Depois de dois ou quatro anos se especializando e se preparando, o aluno vai mostrar a musculatura que desenvolveu nesse período. Ele vai mostrar sua capacidade de fazer um recorte temático, de escolher a melhor metodologia, de executar um projeto de pesquisa, de vencer todos os obstáculos. Mesmo que o aluno não vá fazer carreira acadêmica, a sua titulação envolve os conhecimentos exigidos para a realização de um TCC. Em terceiro lugar, por que os trabalhos "comprados" são facilmente reconhecíveis. Aliás, algumas universidades já dispõem de recursos que permitem a identificação rápida de trabalhos desse tipo. Algumas até organizaram departamentos encarregados única e exclusivamente dessa tarefa. É fácil identificar um trabalho comprado.

-Quais os cuidados que os alunos devem ter quando iniciam um TCC?

-Pode parecer óbvio, mas as evidências indicam que nem sempre é assim: o que exige cuidado, ao início de um TCC, é algo que costuma passar despercebido, e que diz respeito ao grupo escolhido, no caso do trabalho ser realizado em equipe. A maioria dos alunos não percebe a importância de escolher companheiros igualmente comprometidos com o trabalho. Esse trabalho, o de elaborar uma monografia, é gigantesco. Os alunos pecam por escolher seus colegas por motivos de simpatia ou conveniência, e se esquecem que estão escolhendo parceiros com os quais dividirão responsabilidades. Costumo dizer que é uma união mais difícil do que o casamento, por que não há possibilidade de divórcio. O grupo terá que permanecer junto pelo menos por um ano.

-Quais sugestões podem ser dadas para que os alunos façam uma boa escolha?

-Os trabalhos realizados ao longo do curso servem como balizadores. Quer dizer, se o aluno já esteve num determinado grupo que não funcionou, ou que apresentou problemas, para que insistir? Cada um de nós funciona melhor ou pior com determinados perfis de colegas, e isso é uma coisa que vamos compreendendo aos poucos.

-Alguns alunos sequer gostam de trabalhar em grupo.

-Sim, é verdade. O que observo é que alunos com dificuldades em trabalhar em grupo, e que optam por trabalhos individuais ao longo do curso de graduação, terão certamente muitos problemas quando do momento do TCC. Na verdade, o aluno que não consegue trabalhar em grupo, terá uma vida profissional problemática. Mesmo tarefas solitárias requerem interação social, no mínimo com clientes. Portanto, o aluno que não gosta de trabalhar em grupo deve fazer um esforço pessoal para superar a dificuldade.

-Quais conselhos poderiam ser dados para a escolha de um grupo?

-São vários. Experiências anteriores positivas costumam funcionar. Sugiro que os alunos não se deixem levar por questões meramente sociais: quer dizer, o colega que faz companhia na balada de sexta-feira pode não ser exatamente o parceiro mais adequado. Aliás, quanto mais profissional for a escolha e a formação do grupo, maiores as chances de sucesso. Recomendo que se escolham parceiros que agreguem em termos de habilidades. Qual a vantagem de um grupo formado por alunos ótimos na coleta de dados, e todos péssimos em análise e redação? Se o grupo terá cinco ou seis pessoas, o ideal é que se somem habilidades.

-Quais grupos costumam ser mais bem sucedidos?

-Certa vez, vi um grupo formado por excelentes amigos, que já haviam trabalhado juntos antes. O grupo implodiu antes do término do TCC (risos). Uma coisa é dividir a leitura de alguns livros, e jogar depois tudo para uma única pessoa redigir: em trabalhos de menor porte, isso é possível. Num TCC, não. São raros os projetos que podem ser tão fragmentados assim, e o usual é que a interdependência dos membros do grupo seja muito grande. Numa relação dessas, as dificuldades são inúmeras; e, ao longo do projeto, as diferenças surgem e assumem proporções gigantescas. Falo de se ter no grupo aquele colega que sempre tem problemas particulares, ou o que nunca está disponível no final de semana para trabalhar. Considerando a envergadura dos TCCs, essas são coisas que devem ser avaliadas. Em contrapartida, os grupos mais bem sucedidos são aqueles que se formam profissionalmente: escolhem-se os membros em função das habilidades, da disponibilidade de tempo, das afinidades em termos de comprometimento com o trabalho.

-Quais afinidades, por exemplo?

-Já orientei monografias de graduação e pós, e projetos das mais diversas áreas: Publicidade, Jornalismo, Administração, Engenharia, Direito. Em todas as áreas, o TCC costuma envolver prazos e métodos rigorosos. Se você é ansioso, e gosta de ter tudo planejado, como fará parte de um grupo de pessoas mais relaxadas, que preferem "ir fazendo" ao invés de planejar cada etapa cuidadosamente? Se você pretende ter tudo encerrado alguns dias antes do prazo final, deve evitar fazer parte de grupos que funcionam bem apenas momentos antes da entrega. Se você quer organização, deve evitar pessoas desorganizadas. Se você quer um ambiente mais criativo, deve evitar trabalhar com pessoas burocráticas.

-Qual o modelo de um bom grupo?

-Um grupo ideal é aquele em que se somam habilidades entre pessoas com perfis parecidos em termos comportamentais. Nesses grupos, é possível se fazer um planejamento prévio que contemple as preferências e habilidades de cada um. Quer dizer, se você detesta revisar notas de rodapé, e outro colega tem predileção especial por isso, por que não respeitar essas vontades? Sugiro que se faça um contrato no início do projeto, contrato esse que contemple as várias possibilidades de ocorrências e problemas: o que fazer se um membro do grupo adoecer ou precisar se afastar? O que fazer se um membro do grupo deixar de cumprir uma tarefa? O que se espera de cada um? Esses contratos costumam funcionar, ainda mais se forem elaborados com objetividade. Outra sugestão é que se escolha um Gestor do Projeto, alguém organizado e com espírito de liderança, e que possa controlar a execução do Plano de Trabalho e a aplicação do Contrato. Alguém que controle prazos e qualidade. Alguém que funcione como mediador em situações de conflito.

-Alguém do próprio grupo?

-Se for possível, sim. Caso contrário, deve-se procurar fora do grupo.

-E nos casos de trabalhos individuais?

-Nesses casos, o momento decisivo é aquele comum em todos os projetos de TCC: a escolha do tema.

 

(*) Ivy Judensnaider é economista, mestra e doutoranda em História da Ciência. É editora-chefe da revista arScientia, e atua como professora universitária nos cursos de Jornalismo, Propaganda, Psicologia, Farmácia, Nutrição, Letras, Administração e Economia.

 

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