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La insignia
10 de dezembro de 2006


Leibe


Ivy Judensnaider (*)
La Insignia. Brasil, dezembro de 2006.


Leibe era um homem bastante conhecido no bairro, porque vendia quinquilharias, canetas, relógios, lenços de seda e tudo o mais que se pudesse desejar. Ele se dividia entre as vendas em São Paulo e no interior, para onde levava sua mala cheia de novidades e artigos diferentes. Como regra geral, passava uma semana no Bom Retiro e outra viajando de trem pelas pequenas cidades onde tinha a sua freguesia estabelecida. Leibe era um bom sujeito, na opinião de todos. Eles confiavam na autenticidade fraudada das mercadorias, sabiam que ele sempre fazia algum desconto e simpatizavam com a maneira com que tratava os clientes. Normalmente, compravam o necessário e, depois, iam até a casa dele onde, bebendo um copo de vodka, acertavam a conta do mês. Foi uma surpresa quando souberam da morte de Leibe em Araraquara, vítima de um enfarte precoce. Moshe, o médico de confiança de Gitle, esposa de Leibe, acompanhou os procedimentos de traslado e enterro do velho amigo. Ao retornar, procurou contar calmamente à viúva o que descobrira.

Para espanto de todos, Leibe tinha uma outra família em Araraquara. Uma outra esposa, chamada Maria, e outros filhos, chamados Jacó e José. Como se não bastasse, havia morrido nos braços dessa outra esposa que, por ter sido anteriormente instruída, ligara para Moshe, avisando-o do ocorrido. Mas, o que enfezara realmente Gitle, o que a fizera berrar de ódio e quebrar todos os copos e pratos da casa, não fora nada disso. O que a aborrecera profundamente e a fizera chorar de vergonha - e não havia maneira de esconder, porque os funcionários do Chevra Kadisha* também tinham visto - foi saber que Leibe decorara a segunda casa com os mesmos móveis e a mesma decoração escolhida por Gitle para a residência do Bom Retiro. Por se considerar um homem sem conhecimento e sem bom gosto, por saber que Maria era humilde demais para selecionar as peças e arrumar a casa, aproveitara as escolhas de Gitle e comprara tudo em dobro.

Entendo esse movimento de Leibe. Ele compreendia: a felicidade é peregrina. Leibe, como todos nós, só queria sentir-se sempre em casa.


(*) Sociedade responsável pela manutenção de cemitérios e outras instituições judaicas.



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