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La insignia
26 de maio de 2005


Banco Mundial: Mea culpa suspeito


Tiago Soares
La Insignia. Brasil, maio de 2005.


Os que há tempos revezam-se na grita contra as políticas de desenvolvimento do Banco Mundial acabam de receber novo fôlego. Desta vez, porém, a crítica contra os métodos e resultados da instituição vem de lugar improvável - do coração do monstro, de dentro do próprio BIRD.

Avaliação recente do Banco Mundial publicada dia 19 de março questiona a estratégia da instituição em sua política de combate à pobreza. A constatação, presente em relatório anual do Departamento de Avaliação de Operações (OED, na sigla em inglês) do BIRD, órgão fiscalizador independente que analisa o desempenho da instituição em suas operações e projetos, seria a de o que atual foco do Banco para seus programas de desenvolvimento é de eficiência duvidosa.

O problema, afirma o estudo da OED, estaria num foco excessivo do BIRD em programas voltados a gastos sociais (como políticas compensatórias em saúde e educação), deixando de lado estratégias de crescimento econômico (através da agrícultura, por exemplo) e de estímulo à boa governança.

"Ele (o BIRD) tem dado atenção insuficiente às questões relativas ao crescimento, sem o qual torna-se bastante improvável uma redução sustentável da pobreza", afirma o órgão em comunicado disponível no website do Banco. Opinião corroborada, no mesmo dia 19, em declaração do diretor geral do OED, Ajay Chhibber, à Reuters: "O Banco deveria dar mais atenção ao crescimento e às interações entre crescimento e aspectos sociais da redução da pobreza... algo que, para ser feito, precisa de atenção maior do que a dada até agora à (questão) da infraestrutura, do desenvolvimento rural e da agricultura".


Receituário desencontrado

A avaliação de Chhibber, apesar de esforçada, parece não levar em consideração outra análise recente do Banco - esta, justamente sobre a "solução" agrícola por ele sugerida. Em documento publicado em janeiro deste ano, intitulado Global Agriculural Trade and Developing Countries, o Banco dá o braço a torcer, e assume o resultado desastroso de sua política para a agricultura. Redigido por conceituados economistas da instituição, o relatório vai direto ao ponto, ao constatar que sua "estratégia de desenvolvimento baseada na exportação agrícola parece ter sido empobrecedora dentro do atual ambiente de políticas". Uma maneira suave de se dizer que as estratégias receitadas pelo BIRD para a agricultura têm sido prejudiciais aos países em desenvolvimento em coisas graves, como inserção no mercado global, qualidade do padrão alimentar e Estado de bem-estar social, entre outros.

Esse desencontro de avaliações dentro do próprio Banco poderia, para alguns, ser o bem-acabado reflexo de outro comunicado anual do OED, intitulado Annual Report on Operations Evaluation, que, emitido em março deste ano, põe em xeque a metodologia operacional do Banco. E, bem, muito provavelmente não o deixa de ser. Para um bom tanto de analistas, porém, esses recentes "mea culpas" do BIRD, apesar de necessários, estariam ainda longe de apontar o que, alegam, seriam os reais motivos dos estragos causados por sua política de investimentos -- seja com o "foco" que for.


Motor do Império

Para gente como o cientista político britânico George Monbiot, o problema está, em realidade, na própria natureza do Banco, que, apresentando-se como instrumento para a redução da pobreza e o desenvolvimento global, "amarra" seus empréstimos à reforma do Estado e à abertura comercial de quem os recebe -- via de regra, países pobres ou em desenvolvimento. O motivo? Agir como motor da hegemonia econômica dos EUA sobre o globo.

"Ninguém tinha (à época da fundação do BIRD e do FMI) qualquer dúvida de que as duas instituições foram desenvolvidas como instrumentos da economia estadunidense. Isto foi, porém, de algum modo apagado da história", afirma Monbiot em ensaio publicado, em abril último, no diário britânico The Guardian. Apesar de esquecidos, os motivos que sustentam tal afirmação são dos mais claros. Concebido por economistas dos EUA como um órgão internacional para o financiamento de nações devastadas pela Segunda Guerra Mundial, o BIRD cuidou, já em seu nascimento, do estabelecimento de eixos de poder que consolidassem a força de Washington dentro da instituição. Manobrou-se, então, para que os EUA tivessem poder para bloquear reformas dentro do Banco (é o país com maior número de votos -17% do total-, coisa que detém até hoje), e pela indexação de seus empréstimos ao dólar (abrindo caminho sua transformação em moeda global).

Natureza imperial que, mesmo nublada, dá sentido especial à nomeação de Paul Wolfowitz para a presidência da instituição. Até pouco tempo um dos homens fortes do Departamento de Defesa dos EUA (foi um dos principais artífices da Guerra do Iraque), Wolfowitz assume o controle do BIRD dia 01 de junho, sucedendo a James Wolfensohn, que deixa o cargo após dez anos. Uma troca de comando que, afirmam alguns, apenas novamente traz à luz as reais intenções de um sistema multilateral que, na verdade, nada mais seria que uma projeção do unilateralismo dos EUA.


Fontes

Reuters - Report: World Bank programs need more focus
http://today.reuters.com/news/newsArticle.aspx?type=reutersEdge&storyID=2005-05-19T220339Z_01_N19690117_RTRIDST_0_PICKS-ECONOMY-WORLDBANK-REPORT-DC.XML

Banco Mundial/OED - Página oficial
http://www.worldbank.org/oed/

Breton Woods Project - Bank on agricultural trade: export strategy "impoverishing"
http://www.brettonwoodsproject.org/article.shtml?cmd[126]=i-126-bfe71ca4e214320e2e17db22c21bcc9a

Breton Woods Projects - World Bank gets failing grade on 'results'
http://www.brettonwoodsproject.org/article.shtml?cmd[126]=x-126-178181

The Guardian - I'm with Wolfowitz
http://www.guardian.co.uk/comment/story/0,3604,1452430,00.html



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