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La insignia
18 de maio de 2004


Estudando comunidades de formigas


Felipe A. P. L. Costa (*)
La Insignia. Brasil, maio de 2005.


Quando biólogos e outros cientistas vão a campo, com o objetivo de inventariar representantes da fauna de uma região, eles não contam apenas com a sorte para flagrar ou documentar a presença desse ou daquele animal; eles costumam montar armadilhas. De preferência, claro, armadilhas que não assustem nem machuquem os animais. Professores e professoras de Ensino Fundamental e Médio podem conduzir trabalhos semelhantes, aproveitando os resultados para discutir noções elementares de ecologia de comunidades com seus alunos [1]. Como veremos a seguir, é possível fazer isso sem sequer sair dos domínios da escola e, o que é mais importante, empregar o mesmo rigor de uma pesquisa científica.

Por que estudar formigas? Em primeiro lugar, porque formigas são insetos virtualmente onipresentes nos trópicos, incluindo a mesa da cozinha, a horta, o quintal de terra ou mesmo o pátio cimentado das escolas. Isso torna esse grupo de insetos extremamente acessíveis para estudos e experimentos científicos. Além disso, é relativamente fácil descobrir quantas e quais espécies (ou morfoespécies) de formigas vivem em uma área [2]. Para isso, os estudiosos costumam adotar certos procedimentos padronizados, o que inclui a montagem de armadilhas. Um tipo de armadilha muito utilizada pelos especialistas que estudam formigas contém iscas de sardinha, que servem para atrair a maioria das formigas tropicais, com exceção apenas das cortadeiras (saúvas e quenquéns) e das formigas de correição [3].

Os materiais e procedimentos mínimos necessários para descobrirmos quantas e quais espécies de formigas vivem na escola (ou em qualquer outro lugar) são relativamente simples e acessíveis:

* MATERIAL: uma lata de sardinhas (conservadas em óleo), um recipiente plástico (1 litro ou mais), uma colher de sopa e fichas de cartolina (8 x 15 cm ); e
* PROCEDIMENTOS: abrir a lata de sardinhas; despejar seu conteúdo no recipiente plástico, tendo o cuidado de guardar um pouco do óleo; usar a colher para misturar bem as sardinhas dentro do recipiente; depois que as sardinhas estiverem bem misturadas, colocar uma colherada da mistura no centro de cada um dos cartões; cada uma dessas iscas (isto é, o cartão com um pouco de sardinha) será entregue a um grupo de alunos.

Escolhida a área a ser pesquisada, basta distribuir as armadilhas, afastadas entre si de 5 a 10 m de distância. Cada grupo deve então se dirigir para o seu respectivo "ponto de amostragem", onde a isca será colocada. Os cartões devem ficar no chão (sobre a terra ou o piso cimentado), mas não devem ficar expostos à insolação direta, pois isso logo ressecaria a isca. Um tempo de exposição das iscas entre 10 e 20 minutos deve ser o suficiente. Durante o experimento, se for necessário, o professor pode umedecer as iscas, utilizando para isso o óleo que foi guardado. Os alunos devem manter uma certa distância do seu ponto de amostragem; mas, quando notarem a chegada da primeira formiga, podem se aproximar, tomando cuidado apenas para não pisar sobre a isca nem tropeçar em objetos próximos, pois isso poderia afugentar as formigas ou mesmo estragar o experimento. O professor deve registrar o tempo de chegada das primeiras formigas em cada ponto de amostragem; para isso, cada grupo deve ter um integrante responsável por alertar o professor.

A partir do momento que a primeira formiga chegue a uma isca, os alunos do grupo responsável por ela devem tentar registrar o seguinte: (i) o que as formigas fazem na isca: elas se alimentam ou apenas carregam a isca embora? (ii) quantos tipos diferentes de formigas aparecem? e (iii) qual o número total de formigas (indivíduos) vistas na isca?

Um ou mais integrantes de cada grupo devem tentar fazer esboços que ilustrem os vários tipos de formiga que eventualmente apareçam, enfatizando, por exemplo, diferenças de tamanho (formigas pequenas, médias ou grandes), cor (amarronzadas, pretas, avermelhadas etc.) e aspecto geral do corpo (observar se as mandíbulas são grandes, por exemplo, ou se o corpo é recoberto por muitos pêlos). Ao final, os grupos devem trabalhar em conjunto, com o objetivo de planejar e desenhar um grande mapa da escola, onde assinalarão os pontos de amostragem e os respectivos resultados, enfatizando quantos tipos diferentes de formigas foram encontrados em cada ponto.

Com um mapa desse em mãos, o professor pode aproveitar a oportunidade e discutir com seus alunos um aspecto fundamental da vida em nosso planeta: em comunidades naturais, nem todas as espécies são igualmente comuns e abundantes. No caso em questão, embora a escola possa abrigar várias espécies de formigas, é bem provável que nem todas sejam encontradas com a mesma facilidade. Ao contrário, enquanto algumas possam ser relativamente comuns e abundantes, aparecendo em muitas iscas, outras devem ser raras e escassas, aparecendo apenas em um ou outro ponto de amostragem. Por fim, vale lembrar que essa discussão sobre espécies raras e comuns tem desdobramentos teóricos e implicações práticas importantes, do tipo: por que tantas espécies são raras e apenas algumas poucas são comuns? Por que espécies raras seguem sendo raras e espécies comuns continuam sendo comuns? Em linhas gerais, as espécies mais ameaçadas de extinção são aquelas que naturalmente já seriam as mais raras?


Notas

(*) Biólogo meiterer@hotmail.com, autor do livro ECOLOGIA, EVOLUÇÃO & O VALOR DAS PEQUENAS COISAS (2003).

1. Para uma introdução à ecologia de comunidades, ver artigo "Ecologia de comunidades" http://www.lainsignia.org/2005/febrero/ecol_006.htm.
2. Muitas vezes não é possível identificar e dar nomes a todas as espécies registradas em uma amostra; nesses casos, uma alternativa é separar os indivíduos amostrados em "morfoespécies", de acordo com determinadas características externas.
3. A rigor, o material vegetal que saúvas e outras espécies da tribo Attini levam para dentro do formigueiro é utilizado como substrato para cultivar determinados fungos, dos quais essas formigas se alimentam. Para detalhes técnicos sobre o uso de armadilhas na amostragem de formigas, ver; Leal, I. R. 2003. Diversidade de formigas em diferentes unidades de paisagem da caatinga. In I. R. Leal; M. Tabarelli & J. M. C. Silva, orgs. Ecologia e conservação da caatinga. Recife, Editora da UFPE; sobre a história natural de várias espécies de saúvas, ver Mariconi, F. A. M. As saúvas. São Paulo, Editora Ceres, 1970.



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