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La insignia
30 de julho de 2005


Brasil

Idiotas, preconceitos e big stick


Fernando Soares Campos
La Insignia. Brasil, julho de 2005.


Muito já se falou sobre o preconceito do qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido alvo desde a época em que passou a freqüentar os noticiários, devido à sua liderança no movimento sindical contra as forças da ditadura do capitalismo feroz, até se tornar presidente da República. Mesmo assim, aqui estou requentando a vaca-fria.

A despeito de sua origem paupérrima de retirante nordestino e até mesmo de sua pouca instrução oficial dos bancos escolares, Lula soube aproveitar o que a vida lhe ofereceu, fazendo a leitura do mundo através do seu próprio sofrimento e testemunhando as injustiças que a classe social à qual pertencia estava submetida. As chamadas elites sabem que Lula se tornou um "péssimo" exemplo para essa gente do povo. Sua ascensão à Presidência da República certamente se refletiu nas camadas mais pobres da população brasileira. O homem do campo, o trabalhador da indústria, o gari, o feirante, a dona de casa, o pedreiro, o auxiliar de escritório, o balconista e tantos outros trabalhadores jamais serão os mesmos de outrora, dos tempos em que aceitavam, passivamente, os ditames ideológicos que pretendem justificar suas condições sociais atribuindo-lhes uma suposta inferioridade de seus esforços intelectuais. Em outras épocas, quando um trabalhador era "escolhido" para pousar ao lado do presidente da República, podia-se observar nele uma postura de extrema submissão. Sua fala (caso lhe fosse permitido falar) não passava de uma tímida representação, cuidadosamente ensaiada e limitada a agradecimentos à "Vossa Excelência". Agora, porém, é comum ver o presidente participando de eventos ladeado por trabalhadores que o tratam por "você" e têm a liberdade de expressar opiniões e queixas, assim como fazem elogios espontâneos, sem a necessidade de cumprir rigorosos protocolos oficiais. E nisso não se verifica o tom demagógico nem a "excentricidade" atribuída ao "pobre diabo" que ousasse improvisar num momento desses.

Nos últimos tempos, nenhum outro brasileiro, individualmente, foi alvo de tanto preconceito quanto Lula. Por diversas ocasiões li e ouvi críticas a respeito do seu grau de instrução. Algumas poucas expressavam apenas equivocadas opiniões que confundiam "inteligência" com "instrução formal" e denotavam um certo ceticismo sobre a sua competência em lidar, principalmente, com política econômica e relações internacionais, caso viesse a ser eleito presidente. Outras, a maior parte delas, não passavam (não passam) de grosserias com pretensões "humorísticas" (o mesmo tipo de anedota preconceituosa que ainda se faz, por exemplo, com os negros). Em muitos casos, aqueles que ainda veiculam tais preconceitos, contando lorotas ou divulgando opiniões discriminatórias, não reconhecem que são, eles próprios, os principais objetos desses julgamentos. É comum que se trate de pessoas de igual origem e, por conseguinte, de semelhantes características pessoais às de Lula; porém, não raro, exibindo um grau de instrução ainda menos representativo que o do próprio Lula. No entanto, quando ouvimos uma pessoa de maneiras rudes defender, a partir de sua própria ignorância, opiniões classistas que atingem a si próprio, entendemos as razões que o levam a uma atitude de autodiscriminação involuntária. A sua baixa auto-estima, invariavelmente, é o resultado de suas decepções com a vida e do julgamento de quem o quer fazer acreditar que ele próprio é um ser inferior, incapaz de raciocinar logicamente.

Para muita gente tida como "culta" (e muito bem capitalizada), Lula é um "iletrado". Agora, mais que isso, querem que seja um "fraco". Incapaz de governar nosso País. Chegaram a perguntar: "Com a saída do Zé Dirceu, quem será o próximo presidente em exercício?" - uma insinuação de que o ex-chefe da Casa Civil era uma espécie de eminência parda, quem realmente decidia os destinos do Brasil, devido à "incapacidade" do presidente Lula.

O senador Mão Santa (PMDB-PI), médico, destilou seu veneno contra o atual governo que, segundo ele, "não impede a corrupção que se espalha pelo país, como um câncer que deu metástase". O senador piauiense acusou o presidente Lula de "não estar preparado para exercer o cargo". Competente mesmo deve ser o doutor Mão Santa, apesar de ter sido cassado do governo do Estado do Piauí, em 2001, por ter burlado a lei eleitoral que proíbe a personalização de propaganda dos governos e, desta forma, ter usado verbas estaduais em campanhas para a sua reeleição. O senador Mão Santa é um político comprometido até a medula com escândalos que envolvem nepotismo e inserção de centenas de pessoas na folha de pagamento do Estado em troca de seus trabalhos como cabos eleitoras a serviço de sua reeleição. Mão Santa considera "um absurdo" que tenham cassado o mandato do deputado federal Antônio José Moraes Souza, seu irmão, somente por que este distribuía amostra grátis de Viagra no interior do Estado, em troca de voto. Como se pode observar, o próprio doutor Mão Santa, atualmente senador pelo Piauí, pode ser considerado uma dessas células cancerosas proveniente da lesão principal.

O senador Arthur Virgílio, líder do PSDB, inconformado com a prisão de muitos dos seus pares e com a ação da Polícia Federal no calcanhar dos corruptos em geral, referiu-se ao presidente Lula como sendo "na melhor das hipóteses é um idiota, na pior, um corrupto". Porém ao ser lembrado de que a empresa de transporte aéreo Skymaster Airlines Ltda doou R$50 mil (esses são os valores declarados) para a sua campanha, o líder do PSDB esperneou. Disse que isso "...é totalmente legal pela atual legislação". Sim, é legal sim (o que possa ter sido declarado, claro). Contudo, a ser confirmado que a Skymaster Airlines Ltda teria ligações com Sílvio Pereira, ex-secretário-geral do PT, conforme denunciou o deputado Roberto Jefferson, e que essa empresa assinou contrato de R$ 56,4 milhões com a Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) em 2003 e depois venceu a licitação lançada em 2004 para continuar prestando serviços de transporte aéreo para a estatal, assim sendo, qualquer político que tenha recebido tão polpuda quantia de uma empresa dessas deve ser investigado.

Arthur Virgílio, recebendo grana da Skymaster Airlines Ltda é, no mínimo, "suspeito" e, na pior das hipóteses, um canalha corrupto. Aliás, a se confirmar esta segunda hipótese, seria "corrupto" com agravante de "idiota".

Já estávamos acostumados a enxergar no deputado Fernando Gabeira a imagem do ambientalista, do defensor dos direitos humanos e do exercício cidadania; o Gabeira que, a despeito de todos os preconceitos, empunha bandeiras em defesa dos homossexuais e das mulheres e se faz representante das prostitutas no Congresso. Polêmico, tornou-se defensor da legalização do uso da maconha. Hoje professando idéias pacifistas, o ex-guerrilheiro Fernando Gabeira é um autêntico "multimilitante". Porém o deputado Fernando Gabeira me surpreendeu com declarações preconceituosas num artigo intitulado "Flores, flores para los muertos...", no qual afirma, referindo-se ao presidente Lula:

"Jamais imaginei que seria grato aos torturadores por não me pedirem a alma. Não sabia que dias tão cinzentos ainda viriam pela frente. Que seria liderado por um homem que achava que Maurício de Nassau era um deputado de Pernambuco. Logo eu, que sou admirador de um deputado pernambucano chamado Joaquim Nabuco".

Pelo visto, vale tudo, quando se trata de atacar o PT e o atual governo brasileiro, pois Gabeira foi além do mero preconceito, ajoelhou-se e deu uma engraxada nos coturnos dos seus antigos algozes, dizendo ainda:

"Os militares batiam, davam choques e insultavam na sessão de tortura, mas vi muitos dizendo que me respeitavam porque deixei um bom emprego para combatê-los com risco de vida. Eles viam ideais no meu corpo arrasado pelo tiro e pela cadeia. O PT queria que eu abrisse mão exatamente da minha alma, e me tornasse um deputado obediente, votando tudo o que o Professor Luizinho nos mandava votar. Os militares jamais pediriam isso. Desde o princípio, disseram que eu era irrecuperável e limitaram-se à tortura de rotina".

Como alguém pode bater em você, aplicar-lhe choque elétrico, insultá-lo nas sessões de tortura e ao mesmo tempo respeitá-lo?! Não creio que se trate de uma questão do tipo "Síndrome de Estocolmo". Nesse caso ocorre puro e simples descaramento. Gabeira, além de colocar seu enrustido preconceito para fora, apoiando-se numa observação equivocada do presidente Lula (equivocada mas sem qualquer conseqüência danosa), elogia torturadores. É o vale-tudo na tentativa de desmonte do PT.

Enquanto isso, o ex-comandante da Base Naval de Natal e titular da antiga Capitania dos Portos, o capitão-de-mar-e-guerra Ronaldo Pereira Villaça, avalia que "o eleitor brasileiro não sabe escolher seus representantes" e que, por conta disso, "ainda serão precisos muitos anos para o país atingir a plenitude democrática". Para o capitão Villaça, "a prevalecer a atual crise, mesmo com essa posição soft e a frieza da oposição, só restará duas alternativas ao presidente da República: a renúncia ou o impeachment". (http://www.jornaldehoje.com.br/politica.htm).

Veja bem: se, para o capitão-de-mar-e-guerra, todo esse cerco e tentativa de desconstrução do PT não passam de atitudes "soft" e "frias", o que seria para ele uma posição linha dura e quente? Acertou que respondeu: o emprego do big stick.



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